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Padre brasileiro é excomungado após se declarar a favor de homossexuais

Padre Beto fala a jornalistas no último sábado (27) em sua casa, em Bauru (SP), quando anunciou o afastamento da Igreja Católica - Denise Guimarães/Futura Press
Padre Beto fala a jornalistas no último sábado (27) em sua casa, em Bauru (SP), quando anunciou o afastamento da Igreja Católica Imagem: Denise Guimarães/Futura Press

José Bonato

Do UOL, em Ribeirão Preto (SP)

29/04/2013 17h06

O padre Roberto Francisco Daniel, 48, que contrariou a Igreja Católica com declarações a favor de homossexuais, foi excomungado nesta segunda-feira (29) pela Diocese de Bauru (329 km de São Paulo), à qual estava subordinado.

Com a decisão, padre Beto, como é conhecido, está proibido de celebrar cultos e de receber a comunhão. Ele poderá receber a eucaristia somente na condição de leigo, mas desde que recorra da decisão e demonstre “verdadeiro” arrependimento pelos seus atos.

Um processo para a demissão de padre Beto, pela Santa Sé, foi aberto nesta segunda-feira por um juiz instrutor cuja identidade é mantida em segredo. O juiz proibiu também membros da igreja de falarem sobre o assunto.

Em nota, a diocese de Bauru informa que o comportamento do pároco caracteriza heresia e cisma, condutas que ferem o cânone 1.364 do Código de Direito Canônico. A pena para esses delitos é a excomunhão.

“O referido padre feriu a Igreja com suas declarações consideradas graves contra os dogmas da Fé Católica, contra a moral e pela deliberada recusa de obediência ao seu pastor (obediência esta que prometera no dia de sua ordenação sacerdotal), incorrendo, portanto, no gravíssimo delito de heresia e cisma”, informa a nota.

A reportagem do UOL apurou que padre Beto provoca dores de cabeça nos superiores eclesiásticos há pelo menos dez anos. Padre Beto frequenta choperias, usa piercing, imagens do guerrilheiro Che Guevara e apresenta um programa de rádio AM no qual bebe e oferece bebidas aos convidados. Sua participação em programas eleitorais também irritava a cúpula da igreja. Ele foi ordenado sacerdote há 14 anos.

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Diálogo

A diocese de Bauru informa na nota divulgada hoje que por inúmeras vezes buscou o diálogo com o padre rebelde, sem sucesso. O último teria sido na manhã desta segunda-feira. Padre Beto, segundo a nota, “reagiu agressivamente” ao ser abordado pelo juiz instrutor.

A excomunhão de padre Beto ocorreu um dia depois de ele celebrar duas missas de despedida da função. Ele optou por se afastar das celebrações após ter sido intimado, pelo bispo dom Caetano Ferrari, na última terça-feira (23), a se retratar pelas declarações contrárias à moral da igreja. O prazo expirava nesta segunda-feira.

A reportagem apurou ainda que, dada a repercussão internacional da polêmica em torno do padre, a situação dele se tornou insustentável na igreja. Católicos de todo o mundo teriam enviado pedido de providências contra o pároco ao Vaticano, à diocese de Bauru e à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

Também foi um agravante o fato de o padre Beto, no prazo que recebeu para se retratar de suas declarações, ter convocado uma coletiva de imprensa, no sábado (27), para anunciar que deixaria de celebrar missas, em vez de comunicar primeiro seus superiores.

A cúpula de Bauru também havia pedido para que seu subalterno retirasse alguns vídeos na internet de teor supostamente ofensivo aos dogmas cristãos, mas não foi atendida. Padre Beto admite, nos vídeos, que o amor entre bissexuais seja possível mesmo que eles estejam vivam uma condição de casamento heterossexual.

Nas duas últimas celebrações que realizou no domingo (28), na igreja de Santo Antônio, padre Beto recebeu o apoio de centenas de fiéis, que lotaram o templo, nos períodos da manhã e noite.

Outro lado

Padre Beto foi procurado para se manifestar sobre sua excomunhão, mas não atendeu às ligações a seu celular. Nas missas de domingo, ele voltou a defender seu ponto de vista. "Jesus amava os seres humanos independentemente da condição social, da raça e da sexualidade", disse o religioso.