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Governador de Santa Catarina 'nacionaliza' terceira onda de ataques no Estado

Ônibus da empresa Transtusa é incendiado em Joinville (SC); de acordo com a polícia, três homens entraram no ônibus, ordenaram que passageiros e motorista saíssem do veículo e atearam fogo - Diórgenes Pandini/Agência RBS
Ônibus da empresa Transtusa é incendiado em Joinville (SC); de acordo com a polícia, três homens entraram no ônibus, ordenaram que passageiros e motorista saíssem do veículo e atearam fogo Imagem: Diórgenes Pandini/Agência RBS

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL, em Florianópolis

24/05/2013 12h18

O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD), disse nesta sexta-feira (24) que a atual onda de violência no Estado, iniciada na última segunda-feira (20), "é a terceira, mas se trata de um fenômeno que acontece também no Paraná, em São Paulo, Norte e Nordeste". A terceira onda já dura cinco dias, teve seis incidentes em cinco cidades e três ônibus incendiados. Não houve vítimas.

Colombo, em entrevista na televisão, disse que ainda não está claro (para o setor de inteligência das forças de segurança) se as ordens criminosas estão partindo de dentro dos presídios (como nas ondas de violência anteriores). Ele garantiu que "o Estado está pronto para o enfrentamento".

O sexto ataque desta onda ocorreu na noite dessa quinta (23), em Joinville (190 km de Florianópolis). Três homens mandaram os passageiros de um ônibus descerem e atearam fogo nele.

Até agora os ataques aconteceram em São José, na Grande Florianópolis (ônibus e carro incendiados), Gaspar (moto incendiada), Criciúma e Joinville (um ônibus em cada), e Itajaí (tiros na Câmara de Vereadores).

Um homem foi preso em Gaspar (128 km de Florianópolis) depois de roubar e incendiar uma moto na última quarta-feira (22). Ele teria confessado que recebeu ordens do PGC (Primeiro Grupo Catarinense), a mesma facção criminosa que comandou de dentro dos presídios 68 ataques em novembro de 2012 e 116 em janeiro e fevereiro deste ano, com 72 ônibus incendiados.

40 líderes do PGC

A onda mais violenta foi a do início do ano. Para combatê-la, o governo do Estado recebeu ajuda da Força Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça. Em fevereiro, ela ocupou sete presídios e removeu para fora do Estado 40 líderes do PGC, causando o fim dos atentados.

A FSN ainda permanece guarnecendo o presídio de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis, onde estima-se que 800 de seus 1200 detentos sejam  membros do PGC, e Blumenau, considerada a pior cadeia do Estado.

Nas duas ondas anteriores os detentos agiram em represália a supostos maus tratos de agentes do Deap (Departamento de Administração Prisional). Cada série de ataques foi precedida da gravação de videos comprovando as acusações dos presos. O inquérito para apurar irregularidades dos agentes da série de novembro somente nesta quinta (23) foi apresentado à Justiça pelo Ministério Público Estadual (MPE).

Nesta terceira série, uma gravação deixada no ônibus incendiado em São José na segunda (20) alega que familiares dos presos de São Pedro de Alcântara estariam sofrendo abusos na revista para visitas, inclusive com toques íntimos nas mulheres.

Demissões

O governo do Estado anunciou na terça (21) a demissão de dois diretores da penitenciária de São Pedro. Segundo Leandro Lima, diretor do Deap, um novo método de revista será aplicado - o Deap alegou que a revista íntima era necessária para impedir a entrada de celulares e chips nas cadeias. O governador Colombo disse em sua entrevista desta sexta que o objetivo é "humanizar, mas não conceder".

Segundo a Polícia Militar, somente dois dos ataques até agora podem ser atribuídos à facção PGC - o do primeiro ônibus em São José e o da moto em Gaspar. Os demais ainda estão sendo investigados.

A outra opção, segundo a coronel da PM Claudete Lehmkuhl, é que alguns ataques sejam vandalismo. O mais surpreendente deles foi o incêndio do ônibus em Criciúma, praticado por sete homens usando máscaras do filme Pânico. O alto número de atacantes sugere uma improvável quadrilha de vândalos.

Há 19 mil presos nos 47 presídios catarinenses. A polícia estima que o PGC tenha 2.000 membros. Eles dominam as cadeias de São Pedro, Blumenau, Criciúma, Itajaí, Joinville, Lages e Chapecó.