Segurança da clínica era frágil, diz paciente de dentista queimado em São José dos Campos

“Ele é um sujeito bom, mas muito ingênuo. A clínica ficava aberta e nem o interfone, nem as câmeras dela funcionavam. De certa forma, foi uma tragédia meio prevista”.

O depoimento é do planejador técnico aposentado Generoso Gomes, 67, paciente do dentista Alexandre Peçanha Gaddy, 41, que teve ao menos 60% do corpo queimado por criminosos, nessa segunda (27), durante uma tentativa de assalto sofrida no próprio consultório, em São José dos Campos (97 km de São Paulo).

Ex-morador de São Paulo –onde, salientou, “fui assaltado um sem número de vezes” --, Gomes contou ao UOL que há seis meses fazia tratamento com Gaddy por conta de implantes dentários e “sempre” abordava o medo da violência com o dentista.

Segundo o aposentado, a segurança da clínica tinha fragilidades que o assustavam –mas que, aparentemente, acredita, não preocupavam o dentista na mesma medida.

“Ele é muito calmo, tranquilo, tanto que eu ficava alertando que o acesso na clínica era muito fácil. Eu, mesmo, tinha medo de entrar alguém quando estava lá. Mas é que sou mais acostumado com essa ideia de que a violência existe; ele [Gaddy] talvez fosse um pouco ingênuo sobre isso”, afirmou.

Com a boca inchada em razão da última intervenção do cirurgião –“e cirurgião dos bons, pode escrever” --, Gomes tinha uma consulta marcada com Gassy para amanhã, às 9h.

Indagado sobre a reação de Gaddy diante dos alertas, o aposentado respondeu: “Ele dizia que estava vendo de colocar cerca elétrica, mas não chegou a colocar”.

Morador do bairro que julga “tranquilo até demais”, Gomes definiu: deixou o bairro por um tempo, há 25 anos, mas retornou há cerca de sete meses. “Não pretendo sair daqui. Não temos por onde correr, esta é a verdade –a impunidade é a prova disso.”

Ao ser lembrado de outro caso semelhante –o da dentista queimada viva e morta em uma clínica de São Bernardo (Grande SP), em abril deste ano --, o aposentado revelou: “Meu irmão me ligou esses dias, mesmo, pedindo cuidado. Ele mora no mesmo bairro de São Bernardo onde aconteceu aquela barbaridade. Não digo que [a violência] está em todo lugar?”.

Entenda o caso

Gaddy teve seu corpo queimado durante um assalto em seu consultório, em São José dos Campos, no interior de São Paulo, na noite da segunda-feira (27). Ele foi socorrido pela polícia ainda com o corpo em chamas. 

O crime foi cometido um mês e dois dias após a também dentista Cinthya Magaly Moutinho de Souza ter morrido queimada por ladrões dentro de seu consultório, em São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista.

De acordo com a Polícia Civil, Gaddy estava consciente quando do resgate e informou que sofreu tentativa de roubo de dois homens encapuzados, que atearam fogo em seu corpo. Ele teve 60% do corpo queimado, segundo a polícia.

Uma testemunha ajudou a salvar Alexandre. Mauro Lopes Duarte fez o alerta, e o resgate conseguiu ser feito a tempo. Duarte estava próximo ao consultório, na Rua dos Periquitos, 923, na Vila Tatetuba, dentro da Vila Industrial de São José dos Campos.

Segundo uma funcionária do Pronto Socorro da Vila Industrial, Gaddy passou por uma cirurgia na madrugada desta terça-feira (28). (Com informações do Estadão Conteúdo)