Ministro diz que país pode receber JMJ "em clima de protesto"
O ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, afirmou nesta sexta-feira (21) que o país deve estar preparado para realizar a Jornada da Mundial da Juventude, em julho, sob protestos da população.
“A jornada pode, nós temos que ter clareza, ocorrer dentro de um clima, não vou dizer igual ao dos dias de hoje, porque a conjuntura evolui tão rapidamente que não tem muito como profetizar. [Mas] Temos que estar preparados para a Jornada acontecer inclusive num clima de manifestações no país”, afirmou durante uma reunião preparatória para o evento realizada no Palácio do Planalto.
O evento será realizado no Rio de Janeiro entre os dias 23 e 28 de julho e terá a presença do papa Francisco.
Carvalho acrescentou, porém, que “todos os problemas” deverão estar superados. “Estamos ainda com uma série de questões, de preocupações, mas temos confiança de que nós vamos superar todos os problemas e de fato fazer uma jornada que corresponda a essa grande expectativa.”
Apesar de não ter se manifestado especificamente sobre a declaração do ministro, a organização do evento afirmou em uma nota divulgada na quinta-feira (20) que as manifestações não o afetam.
Segundo o arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta, o evento é "muito bem visto por todos". "A Jornada é um evento positivo, com a juventude. Uma juventude que tem valores; valores cristãos, valores que também querem mudar o mundo com um coração de justiça e de paz, e que podem dar um olhar diferente para essas reivindicações aqui no Brasil", disse Tempesta.
A assessoria da JMJ disse que não serão realizadas mudanças na jornada.
Carvalho exaltou a importância das “mobilizações das massas” e ressaltou que o governo “celebra a democracia”, mas que é preciso, ao mesmo tempo, “entender o que essas manifestações estão demandando”.
O ministro citou algumas das principais reivindicações dos protestos e ressaltou que a população tem cobrado as três esferas de poder, e não apenas o governo federal.
“Os temas que estão colocados aí, sobretudo da corrupção, ou da não aceitação da corrupção, da exigência da ética na política, a exigência de serviços de qualidade, o que mais aparece é saúde, educação. Estão a exigir do governo atitudes nessa perspectiva e, quando eu falo governo, estou falando naturalmente das três esferas.”
Vandalismo e apartidarismo
No entanto, Carvalho lamentou o vandalismo praticado por alguns manifestantes e disse que a depredação preocupa. “O que está preocupando nos últimos momentos é que as manifestações acabam sendo palco para a manifestação de um tipo de expressão lamentável e irresponsável de vandalismo, que nós não podemos aceitar. Ver a Esplanada amanhecer do jeito que amanheceu, com serviços públicos afetados, como os pontos de ônibus, com símbolos públicos importantes como o Itamaraty e a Catedral de Brasília [depredados].”
O ministro disse que os governos precisam ter “suficiente autocrítica” e “abertura de espírito” para captar as mensagens dos protestos.
“E nós temos de ser capazes de entender essa mensagem e fazer com que esse movimento se canalize para o bem do país, para o avanço dos direitos, para a conquista de serviços de um tipo de governo que, de fato, atenda à necessidade do povo. Sempre uma grande preocupação em relação à democracia.”
Carvalho minimizou as críticas aos partidos políticos e disse que um país sem partido é ditadura. Ele ainda responsabilizou a imprensa por incentivar o descontentamento da população em relação aos partidos. Nos recentes protestos pelo país, pessoas com bandeiras e camisetas de partidos têm sido hostilizadas, como aconteceu ontem em São Paulo.
“Quando se grita ‘sem partido’, nós vemos aí um grande pedido. E não há democracia sem partido. Não há democracia sem uma forma mínima de instituição. Sem partido, no fundo, é ditadura. Temos de ficar muito atentos a isso.”
“É verdade que a classe política paga o preço por isso. Mas é verdade também que um certo tipo de abordagem, de estímulo ao longo do tempo e a imprensa teve um papel nesse sentido de estimular um tipo de moralismo no sentido despolitizado e um tipo de antipolítica que leva a isso que está acontecendo também.”
O ministro acrescentou que quem defendeu o apartidarismo tem “responsabilidade por esse aspecto destrutivo que está aí”.
“Então também aqueles que o tempo todo verbalizaram esse tipo de posição tem responsabilidade por esse aspecto destrutivo que está aí e não adianta virem agora celebrar só a manifestação e não se darem conta que também são responsáveis por isso que está ocorrendo.”
Mais de um milhão nas ruas
Mais de 1 milhão de pessoas participaram de protestos em várias cidades do Brasil nesta quinta-feira (20). Entre muitos atos pacíficos, houve registro de violência em confrontos entre manifestantes e policiais e atos de vandalismo em várias cidades. No interior de São Paulo, um participante de protesto morreu atropelado. Os protestos ocorreram em várias capitais e centenas de cidades nas cinco regiões do país. Ao todo, 388 cidades tiveram manifestações, incluindo 22 capitais. O crescimento da onda de protestos levou a presidente Dilma Rousseff a convocar uma reunião de emergência para esta sexta-feira. Carvalho é um dos ministros que participa da reunião.
A reunião foi convocada na noite de ontem, quando os manifestantes, inclusive, tentaram chegar próximos ao Palácio do Planalto, mas foram impedidos por um cordão de isolamento de policiais militares.
(Com informações de Paula Bianchi, do UOL, no Rio)
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