Para Bolsonaro, pau que bateu em Adélio não bate no homem-bomba Francisco
Bolsonaro se esforçou nos últimos seis anos para ligar Adélio Bispo ao PSOL, mesmo que o criminoso tivesse se desfiliado do partido em 2014 - quatro anos antes da facada que deu no então candidato à Presidência em 6 de setembro de 2018.
Agora, com Francisco Wanderley Luiz, que foi candidato a vereador pelo PL e se explodiu tentando mandar Alexandre de Moraes e o STF pelos ares, nesta quarta (13), cumprindo um antigo sonho de extremistas, Jair frisou ao portal Metrópoles que ele entrou no partido um ano depois que o unabomber catarinense disputou a eleição pela mesma agremiação em 2020.
E, na nota que publicou em sua conta no X/Twitter, Bolsonaro defendeu que o caso configura "um fato isolado" e que "ao que tudo indica, causado por perturbações na saúde mental da pessoa". Vale para Francisco, não vale para Adélio.
A ex-esposa do chaveiro que se matou com uma das bombas que explodiu na praça dos Três Poderes afirmou à Polícia Federal que ele planejava um ataque ao STF desde que Jair perdeu a eleicão de 2022. Fazia buscas no Google para viabilizar o atentado, cujo objetivo era matar o ministro Alexandre de Moraes, principal inimigo da extrema direita por seu papel fundamental no bloqueio do golpe bolsonarista.
Enquanto isso, vão surgindo indícios de que Francisco, apesar de ter agido sozinho e ter problemas mentais, planejou a ação incitado pelo discurso do ódio proferido pelo bolsonarismo radical e acreditava ser uma peça importante na "revolução". Tal qual milhares de seguidores de Jair que irromperam a praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023, depredaram as sedes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, e acreditavam que seriam seguidos pelas Forças Armadas.
Francisco apontou jornalistas e políticos da direita liberal como comunistas, criticava generais legalistas e sugeriu o 15 de novembro deste ano para começar uma revolução no Brasil - mesma data que foi aventada, em 2022, por militares golpistas para uma insurreição, segundo informações obtidas pela investigação da Polícia Federal.
O irônico é que exaustivas investigações da Polícia Federal, que foram chanceladas pela Justiça, apontaram que Adélio não era peça de nenhuma conspiração contra Bolsonaro, mas uma pessoa com graves problemas psicológicos. O ex-presidente nunca aceitou isso e, sistematicamente, culpava a esquerda por atentar contra sua vida.
Agora, apesar dos indícios de que Francisco Wanderley Luiz seguia um caminho traçado por líderes da extrema direita, com sucessivos planos contra a vida de Alexandre de Moraes e a integridade do STF, Jair pede paz e calma.
"Já passou da hora de o Brasil voltar a cultivar um ambiente adequado para que as diferentes ideias possam se confrontar pacificamente, e que a força dos argumentos valha mais que o argumento da força", disse ele. Cinicamente, ignora que seus discursos contando mentiras sobre o processo eleitoral e a constante incitação contra Alexandre de Moraes, tiveram tração na mente de Francisco.
Essa tirada de corpo não é à toa, mas preocupação com o impacto pelas explosões desta quarta. Sob a justificativa de "pacificar" o país, Bolsonaro vinha convencer a turma que faltou às aulas de História que o melhor é um arranjo de anistia para não puni-lo pelos crimes que cometeu. Até o chaveiro-terrorista aparecer.