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Jornada será usada como vitrine de nova fase da Igreja, dizem teólogos

Guilherme Balza e Larissa Leiros Baroni

Do UOL, em São Paulo

22/07/2013 06h00

A atual edição da Jornada Mundial da Juventude, a primeira sob liderança do papa Francisco, será utilizada para divulgar a nova fase da Igreja Católica, iniciada com a renúncia de Bento 16 e a escolha de Jorge Mario Bergoglio para o pontificado. Essa é a avaliação dos teólogos Antonio Manzatto, assessor de Relações Institucionais e Internacionais da PUC-SP (Pontifica Universidade Católica de São Paulo), e Leonardo Boff, frei expoente da Teologia da Libertação no Brasil.

“A Jornada não vai proporcionar mudanças propriamente ditas para a Igreja, mas ela acontece durante um processo de transformação e servirá como divulgação dessa fase, que foi inaugurada com a renúncia do Bento 16, se reforçou com a eleição do papa Francisco e se consolidou com as ações do novo pontificado”, afirma Manzatto.

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  • Arte/UOL

Nos primeiros cem dias a frente do Vaticano, Francisco abandonou regalias, abdicou itens de luxo que normalmente acompanham o pontífice e conclamou a Igreja a ser mais pobre. Bergoglio também denunciou a indiferença dos ricos em relação aos pobres, atacou a "tirania do dinheiro" e não poupou de críticas o capitalismo.

Para Manzatto, o “testemunho pessoal do papa auxilia a Igreja a transformar-se, a tornar-se mais pobre e pastoral”. “Ele também já tem instalado várias comissões estratégicas em direção ao processo de transformação nas estruturas que derrubaram Bento 16. São atitudes em direção de uma administração mais transparente e livre da burocracia do mundo e ao mesmo tempo mais próxima dos fiéis.”

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Boff afirma que, antes de iniciar reformas na Cúria Romana, Francisco promove transformações no próprio papado. “Ele é um papa que deixa o palácio, mora onde todos os hóspedes moram, renuncia a títulos de poder, se sente mais Bispo de Roma do que papa e pede para não ser chamado de sua santidade. Com isso, ele quer dizer ‘nós somos irmãos ou irmãs’, ‘estou no meio de vocês’. É uma perspectiva diferente, mais ligada à vida cotidiana dos fieis, à capacidade de perdão e misericórdia.”

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O teólogo acredita que, na Jornada, Francisco “dará as linhas básicas que vão ser a tônica do seu pontificado”. “Ele já deu sinais que vai numa linha de abertura, de diálogo, de aceitar as diferenças com judeus e muçulmanos”, disse Boff.

“A intenção originária da Jornada era dar visibilidade à Igreja Católica e ao cristianismo. O papa Francisco vai ter uma visão mais aberta. Ele coloca acento não na Igreja Católica, mas nos povos do mundo. Enfatiza que Deus é de todos, não só dos católicos”, afirma o teólogo.

Segundo fontes da Secretaria de Estado da Santa Sé, Francisco sabe que a visita ao Brasil pode pôr um selo no governo do Vaticano. O papa também tem consciência de que essa marca deve ser estabelecida de forma rápida.

O sumo pontífice dedicará cada uma das intervenções no Brasil para explicar o que pensa que deve ser o papel da Igreja e ressaltar o fato de que as demandas por uma melhor condição de vida são legítimas, numa referência às manifestações não apenas no Brasil, mas em diversos países onde a população se queixa da falta de serviços e de violações aos Direitos Humanos.

Sem proselitismo

O ex-arcebispo de Buenos Aires, argentino e filho de imigrantes italianos, chega nesta segunda-feira (22) ao país com o maior número de católicos do mundo (123 milhões), mas onde o número de evangélicos tem crescido fortemente nos últimos 30 anos.

A viagem do papa Francisco não busca fazer proselitismo, mas seu desejo de aproximar os fiéis do Evangelho e de dar destaque ao lado social da Igreja pode diminuir a tendência segundo a qual o catolicismo brasileiro funciona como um "doador universal" paras outras famílias cristãs, especialmente as neo-pentecostais, dizem os especialistas.

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Durante seus sete dias no Brasil, o papa visitará uma favela, um hospital para tratamento de dependentes químicos e estará em comunhão com 1,5 milhão de jovens peregrinos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

"O papa não vem fazer proselitismo contra outros grupos religiosos", a sua intenção é defender "o aspecto social da Igreja", é "voltar para a igreja original, para fortalecer a Igreja Católica", disse Ivan Esperança Rocha, historiador e especialista em religião da USP (Universidade de São Paulo).

Cerca de 123 milhões de brasileiros se declararam católicos em 2010, ou seja, 64,6% da população contra 91,8% em 1970, de acordo com os últimos dados do censo.

Os evangélicos, por sua vez, não param de aumentar, apoiados por seus programas de televisão, rádio, redes sociais e inúmeros templos espalhados pelo país. Eles passaram de 5,2% em 1970 para 22,2% em 2010, totalizando 42,3 milhões de seguidores.

Pedro Ribeiro de Oliveira, professor de Ciências da Religião da PUC de Minas Gerais, afirma que isso ocorre porque "nos últimos 30 anos, a Igreja Católica tornou-se muito clerical, muito centralizada, uma igreja de padres onde os laicos não têm voz".

Ele disse acreditar que o catolicismo não conseguirá reverter a tendência de perda de fiéis, "mas pode ganhar forças se Francisco conseguir impulsionar as organizações de base da Igreja, as pastorais sociais e da juventude". (Com Estadão Conteúdo e AFP)