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Crítica do papa a "incoerência" dos líderes católicos foi "alfinetada", diz teólogo

Fabiana Maranhão

Do UOL, em São Paulo

26/07/2013 22h03Atualizada em 26/07/2013 22h14

Os líderes católicos foram alvo de críticas do papa Francisco em discurso durante a Via Sacra encenada na praia de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, nesta sexta-feira (26), dentro da programação da Jornada Mundial da Juventude.

"Na cruz, Jesus está junto a tantos jovens que perderam a confiança nas instituições políticas porque veem o egoísmo e a corrupção, ou que perderam a fé na igreja, inclusive em Deus, pela incoerência dos cristãos e dos ministros do Evangelho", afirmou o pontífice. "As nossas incoerências fazem Jesus sofrer", completou.

Na opinião do teólogo e professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) Rafael Rodrigues da Silva, o papa deu uma "alfinetada" nos líderes católicos.

"É uma crítica a muitos religiosos, a muitos representantes que buscam poder, que são imorais dentro da própria prática religiosa, a muitos que vivem a prática religiosa com hipocrisia", aponta o pesquisador.

Ele destacou que a igreja tem enfrentado questões polêmicas, como "os casos de pedofilia, de abuso sexual, de exploração econômica, de desvios".

Para o estudioso, o papa quis enviar uma mensagem para a igreja. "Não é um recado para a igreja do Brasil, mas um recado para a igreja mundial", esclarece.

Rafael Rodrigues da Silva acredita que a condenação à incoerência foi uma forma de Francisco dizer que vai promover mudanças. "Ele está anunciando que vai mexer na questão do poder, da economia e em questões morais da igreja", prevê o teólogo.

  • Arte/UOL

Cruzes do mundo

O papa Francisco fez referência ao racismo, à intolerância religiosa e às vítimas da boate Kiss em seu discurso logo após a Via Sacra. De acordo com o pontífice, os preconceitos racial e religioso são "cruzes" que o mundo atual carrega e que acabam suscitando questionamentos entre os católicos acerca da fé na Igreja e em Jesus Cristo.

O santo padre também mencionou outros temas frequentemente debatidos por instituições religiosas e pela sociedade civil, tais como a dependência química, a fome "num mundo que todos os dias joga fora toneladas de comida", a corrupção política e religiosa, entre outros.

"Com a Cruz, Jesus se une ao silêncio das vítimas da violência, que já não podem clamar, sobretudo os inocentes e indefesos; nela Jesus se une às famílias que passam por dificuldades, que choram a perda de seus filhos, ou que sofrem vendo-os presas de paraísos artificiais como a droga; nela Jesus se une a todas as pessoas que passam fome, num mundo que todos os dias joga fora toneladas de comida; nela Jesus se une a quem é perseguido pela religião, pelas ideias, ou simplesmente pela cor da pele; nela Jesus se une a tantos jovens que perderam a confiança nas instituições políticas, por verem egoísmo e corrupção, ou que perderam a fé na Igreja, e até mesmo em Deus, pela incoerência de cristãos e ministros do Evangelho", disse.

Os discursos do papa na Jornada

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Francisco iniciou seu discurso lembrando o Ano Santo da Redenção, em 1984, quando o então papa João Paulo 2º entregou aos jovens a cruz que se tornaria um dos principais símbolos da JMJ.

Nos últimos dois anos, "A Cruz da Jornada" percorreu várias cidades brasileiras, como lembrou o próprio pontífice ao fazer três perguntas aos milhares de peregrinos que lotam a praia de Copacabana: "O que vocês terão deixado na Cruz, queridos jovens brasileiros, nestes dois anos em que ela atravessou seu imenso País? E o que terá deixado a Cruz de Jesus em cada um de vocês? E, finalmente, o que esta Cruz ensina para a nossa vida?".

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