Crítica do papa a "incoerência" dos líderes católicos foi "alfinetada", diz teólogo
Os líderes católicos foram alvo de críticas do papa Francisco em discurso durante a Via Sacra encenada na praia de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, nesta sexta-feira (26), dentro da programação da Jornada Mundial da Juventude.
Análises
- Por que o papa Francisco fascina tanto os jovens
- Francisco: um papa sem medo do Vaticano ou do Rio
- Opinião: Em favela, papa faz 'discurso de pastor'
- Reinaldo Polito: Com simpatia natural, papa conquista até mesmo antes de falar
- Para teólogo, papa Francisco coloca o essencial em palavras simples
- Crítica à liberação da maconha mostra lado conservador, diz especialista
- Papa Francisco prega igualdade entre religiosos e fiéis, avalia estudioso
"Na cruz, Jesus está junto a tantos jovens que perderam a confiança nas instituições políticas porque veem o egoísmo e a corrupção, ou que perderam a fé na igreja, inclusive em Deus, pela incoerência dos cristãos e dos ministros do Evangelho", afirmou o pontífice. "As nossas incoerências fazem Jesus sofrer", completou.
Na opinião do teólogo e professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) Rafael Rodrigues da Silva, o papa deu uma "alfinetada" nos líderes católicos.
"É uma crítica a muitos religiosos, a muitos representantes que buscam poder, que são imorais dentro da própria prática religiosa, a muitos que vivem a prática religiosa com hipocrisia", aponta o pesquisador.
Ele destacou que a igreja tem enfrentado questões polêmicas, como "os casos de pedofilia, de abuso sexual, de exploração econômica, de desvios".
Para o estudioso, o papa quis enviar uma mensagem para a igreja. "Não é um recado para a igreja do Brasil, mas um recado para a igreja mundial", esclarece.
Rafael Rodrigues da Silva acredita que a condenação à incoerência foi uma forma de Francisco dizer que vai promover mudanças. "Ele está anunciando que vai mexer na questão do poder, da economia e em questões morais da igreja", prevê o teólogo.
Cruzes do mundo
O papa Francisco fez referência ao racismo, à intolerância religiosa e às vítimas da boate Kiss em seu discurso logo após a Via Sacra. De acordo com o pontífice, os preconceitos racial e religioso são "cruzes" que o mundo atual carrega e que acabam suscitando questionamentos entre os católicos acerca da fé na Igreja e em Jesus Cristo.
O santo padre também mencionou outros temas frequentemente debatidos por instituições religiosas e pela sociedade civil, tais como a dependência química, a fome "num mundo que todos os dias joga fora toneladas de comida", a corrupção política e religiosa, entre outros.
"Com a Cruz, Jesus se une ao silêncio das vítimas da violência, que já não podem clamar, sobretudo os inocentes e indefesos; nela Jesus se une às famílias que passam por dificuldades, que choram a perda de seus filhos, ou que sofrem vendo-os presas de paraísos artificiais como a droga; nela Jesus se une a todas as pessoas que passam fome, num mundo que todos os dias joga fora toneladas de comida; nela Jesus se une a quem é perseguido pela religião, pelas ideias, ou simplesmente pela cor da pele; nela Jesus se une a tantos jovens que perderam a confiança nas instituições políticas, por verem egoísmo e corrupção, ou que perderam a fé na Igreja, e até mesmo em Deus, pela incoerência de cristãos e ministros do Evangelho", disse.
Francisco iniciou seu discurso lembrando o Ano Santo da Redenção, em 1984, quando o então papa João Paulo 2º entregou aos jovens a cruz que se tornaria um dos principais símbolos da JMJ.
Nos últimos dois anos, "A Cruz da Jornada" percorreu várias cidades brasileiras, como lembrou o próprio pontífice ao fazer três perguntas aos milhares de peregrinos que lotam a praia de Copacabana: "O que vocês terão deixado na Cruz, queridos jovens brasileiros, nestes dois anos em que ela atravessou seu imenso País? E o que terá deixado a Cruz de Jesus em cada um de vocês? E, finalmente, o que esta Cruz ensina para a nossa vida?".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.