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MP-RJ denuncia médico que faltou a plantão em que criança baleada ficou sem atendimento e morreu

O neurocirurgião Adão Orlando Crespo Gonçalves, denunciado pelo MP - Cezar Loureiro / Agência O Globo
O neurocirurgião Adão Orlando Crespo Gonçalves, denunciado pelo MP Imagem: Cezar Loureiro / Agência O Globo

Do UOL, em São Paulo

06/08/2013 20h50

O MPE-RJ (Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro) denunciou nesta terça-feira (6) o médico neurocirurgião Adão Orlando Crespo Gonçalves pelos crimes de estelionato, falsidade ideológica e abandono de função. O médico faltou ao plantão da noite do último Natal no hospital Salgado Filho, na zona norte do Rio de Janeiro.

Na ocasião, por conta da ausência de Gonçalves, Adrielly dos Santos Vieira, 10, vítima de bala perdida, teve que esperar oito horas sem atendimento até ser operada. Ela acabou morrendo 11 dias depois.

O MP requereu ainda uma medida cautelar aplicando a suspensão do exercício de sua função pública de médico nos hospitais das redes federal, estadual e municipal de saúde até o julgamento final da ação.

De acordo com a denúncia, Adão fazia depósitos na conta bancária do neurocirurgião Francisco Eduardo Penna Doutel de Andrade, também denunciado por estelionato, para que este o substituísse. No entanto, era o primeiro quem assinava as folhas de ponto relativas aos plantões.

Outros sete médicos foram denunciados pelo MP por suposta participação no esquema. São eles Conrado Norberto Weber Júnior, diretor-geral do hospital; José Renato Ludolf Paixão, chefe da neurocirurgia; Ricardo Medina de Faria Kornalewski, diretor médico; Ênio Eduardo Lima Lopes e Sérvula Telles dos Reis, chefes da equipe de plantão; e Eneida Pereira dos Reis e Valéria Santos Reis, ambos chefes da emergência.

Relembre: Menina Adrielly é enterrada no RJ

Adão Gonçalves foi indiciado pelo delegado da 23ª DP (Méier), Luiz Archimedes, por omissão de socorro. O delegado decidiu pelo indiciamento após ouvir o médico Ênio Lopes, que chefiava a emergência no dia do suposto crime. A testemunha afirmou que "era da mesma escala que Adão há dois anos, mas nunca tinha visto o neurocirurgião", segundo a Polícia Civil. O chefe de plantão do Salgado Filho já havia ignorado duas intimações para prestar depoimento.

Lopes afirmou à polícia ter solicitado a transferência de Adrielly ao ser notificado da ausência do médico que deveria estar de plantão no dia do atendimento. Na versão do depoente, ao tomar conhecimento da gravidade do quadro da paciente, ele teria enviado um fax em que pediu uma vaga na rede pública de saúde onde a vítima pudesse ser submetida a uma neurocirurgia.

Atingida na cabeça

A jovem foi atingida na cabeça por uma bala perdida por volta de 0h15 do dia 25 de dezembro. No dia 30 de dezembro, a morte cerebral já havia sido confirmada pelos médicos.

Vieira estava indo em direção à mãe a fim de mostrar a boneca que havia ganhado de presente de Natal. Ela foi atingida na porta de casa e encaminhada ao hospital Salgado Filho.

Segundo a polícia, o neurocirurgião disse que faltava aos plantões há um mês por discordar da escala de trabalho.

O prefeito Eduardo Paes classificou a conduta do neurocirurgião como "irresponsável" e "delinquente" e disse que ele deve ser demitido.