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Polícia do Rio indicia médico que faltou a plantão em hospital onde menina esperou oito horas por cirurgia

Do UOL, no Rio

08/01/2013 18h36

O delegado da 23ª DP (Méier), Luiz Archimedes, indiciou por omissão de socorro, nesta terça-feira (8), o neurocirurgião Adão Orlando Crespo Gonçalves, que faltou ao plantão da noite de Natal no hospital Salgado Filho, na zona norte do Rio --na ocasião, Adrielly dos Santos Vieira, 10, vítima de bala perdida, teve que esperar oito horas para ser operada. A menina morreu na última sexta-feira (4).

Archimedes decidiu pelo indiciamento após ouvir o médico Ênio Lopes, que chefiava a emergência no dia do suposto crime. A testemunha afirmou que "era da mesma escala que Adão há dois anos, mas nunca tinha visto o neurocirurgião", segundo a Polícia Civil. O chefe de plantão do Salgado Filho já havia ignorado duas intimações para prestar depoimento.

Lopes afirmou à polícia ter solicitado a transferência de Adrielly ao ser notificado da ausência do médico que deveria estar de plantão no dia do atendimento. Na versão do depoente, ao tomar conhecimento da gravidade do quadro da paciente, ele teria enviado um fax em que pediu uma vaga na rede pública de saúde onde a vítima pudesse ser submetida a uma neurocirurgia.

Ainda segundo a polícia, Lopes também disse não conhecer Gonçalves pessoalmente. A partir das informações passadas pelo chefe de plantão do Salgado Filho, o titular do distrito policial do Méier (23ª DP) vai intimar dois funcionários do Núcleo Interno de Regulação, departamento responsável pelo controle de vagas no Salgado Filho.

Na segunda-feira (7), o neurocirurgião Mário Lapenta --responsável pela cirurgia a qual Adrielly foi submetida após a espera de oito horas no Salgado Filho-- prestou depoimento. "Ele [Lapenta] disse que a causa de tudo era a trajetória do projétil. Segundo a versão dele, não tinha como salvar a menina. Ainda que o médico [Lopes] comparecesse ao plantão daquele dia", declarou Archimedes.

Concluído, o inquérito será encaminhado ao Ministério Público. A pena para omissão de socorro é de um a seis meses de detenção, podendo ser triplicada em caso de morte. O procedimento também será enviado à Secretaria Municipal de Saúde.

Atingida na cabeça

Na última sexta-feira (4), Adrielly dos Santos Vieira, 10, morreu após dez dias internada no hospital Souza Aguiar, no centro.

A jovem, atingida na cabeça por uma bala perdida por volta de 0h15 do dia 25 de dezembro, só foi submetida a intervenção cirúrgica oito horas depois de ser baleada, por falta de médico neurocirurgião. No dia 30 de dezembro, a morte cerebral já havia sido confirmada pelos médicos.

Vieira estava indo em direção à mãe a fim de mostrar a boneca que havia ganhado de presente de Natal. Ela foi atingida na porta de casa e posteriormente encaminhada ao hospital Salgado Filho, no Méier.

O médico escalado para o plantão noturno do dia era Adão Orlando Crespo Gonçalves, que não apareceu.

Segundo a polícia, o neurocirurgião disse que faltava aos plantões há um mês por discordar da escala de trabalho.

O prefeito Eduardo Paes classificou a conduta do neurocirurgião como "irresponsável" e "delinquente" e disse que ele deve ser demitido. A ausência do plantonista também está sendo investigada pelo Ministério Público e pelo Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio).