Exumação de Jango gera protestos de moradores de São Borja (RS)
A possibilidade de remoção dos restos mortais do ex-presidente João Goulart (1919-1976), que serão exumados a pedido da família para investigar a possibilidade de envenenamento, causaram reação em São Borja, cidade onde Jango está sepultado. A prefeitura, com o apoio da Câmara de Vereadores, promete ir à Justiça para garantir o retorno da ossada à cidade depois do processo de exumação, que está sendo coordenado pela Polícia Federal.
O temor da comunidade é de que a transferência dos restos mortais a Brasília, para coleta de material, determine a permanência do corpo no memorial planejado a João Goulart na capital federal. A exumação ainda não tem data para ocorrer, mas o grupo que planeja o procedimento já decidiu que a perícia será realizada na sede do Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília.
Na manhã desta quarta-feira, o governo federal deu início ao processo de exumação, decidido em abril pela Comissão Nacional da Verdade, com o reconhecimento do local onde está sepultado o ex-presidente. Uma reunião com os peritos da Polícia Federal, integrantes da Comissão Nacional da Verdade e da Secretaria de Direitos Humanos e representantes da prefeitura definiu que o acesso ao local para reconhecimento será feito a partir das 14h.
A preocupação do prefeito de São Borja, Farelo Almeida (PDT), é com a transparência do processo de exumação. Almeida disse que o ingresso de técnicos da polícia no cemitério municipal é prerrogativa do prefeito, já que o mausoléu é patrimônio histórico da cidade. "Nesta primeira reunião oficial, queremos expressar receio pela forma como o processo está sendo conduzido”, disse.
“Inconformidade”
“São Borja não foi ouvida sobre a remoção dos restos mortais. Pedimos que seja mais transparente possível, para que a comunidade saiba o que vai acontecer.” Almeida não descartou uma ação judicial para garantir o retorno da ossada ao município ou até mesmo para barrar a exumação.
Os vereadores da cidade divulgaram uma carta aberta em que manifestam “inconformidade” com a transferência, segundo eles injustificável. “Não há motivação técnica ou científica para se realizar o transporte a Brasília, pois o exame poderia ser realizado em São Borja, Porto Alegre ou qualquer parte do mundo”, expressa o documento. A carta foi assinada pelos 15 vereadores da cidade.
O perito-chefe da Polícia Federal, Amaury de Souza Júnior, descartou transferir estruturas técnicas para São Borja como forma de evitar a transferência dos restos mortais. Segundo ele, 37 anos depois da morte do ex-presidente é difícil "até exame de DNA".
Souza Júnior advertiu que podem ser necessárias mais de uma coleta para garantir a qualidade da análise toxicológica, para determinar se de fato houve envenenamento ou se Jango morreu de causas naturais. O ex-presidente morreu no exílio na Argentina, na noite de 6 de dezembro de 1976.
Mausoléu
"A manutenção da ossada em São Borja pode aumentar o custo do procedimento. Nosso planejamento é permanecer com os restos mortais por um tempo específico e depois o corpo retorna. A transferência de estrutura não é viável", afirmou o perito.
O representante da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Gilles Gomes, garantiu que a ossada de Jango retornará ao município. "A ministra acabou de me ligar e autorizar o compromisso do governo, que é o compromisso da presidente Dilma Rousseff, de que os restos mortais voltarão ao mausoléu da família e a São Borja", disse.
O neto de Jango, Chistopher Goulart, se comprometeu a assinar um documento garantindo que os restos mortais voltarão à cidade depois da análise. A solução do impasse, entretanto, foi resolvida com a decisão de realizar uma audiência pública na cidade para debater a exumação. A audiência ainda não tem data, mas servirá como um compromisso público de que os restos mortais de Jango retornarão a São Borja.
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