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ONG no interior de SP cria 'padrinhos virtuais' para animais selvagens

Fábio Pescarini

Do UOL, em Jundiaí (SP)

05/09/2013 06h00

Gardenal é um bugio com cerca de 11 anos de idade. Ele vive na Associação Mata Ciliar, em Jundiaí (a 58 km de São Paulo), referência nacional no tratamento de animais silvestres ou selvagens, vítimas de abandono, maus-tratos e acidentes.

Ele também faz parte de um grupo de animais colocados para adoção na Mata Ciliar. É uma adoção virtual. Os bichos, na prática, nunca vão sair de lá. Mas, por R$ 20, a pessoa pode contribuir para a instituição e, em troca, receber fotos, vídeos e informações do bicho. Além de poder visitá-lo quando quiser.

A jornalista Renata Corte Martinho é como se fosse a madrinha de Gardenal. "Já fui visitá-lo e fiquei emocionada ao vê-lo. Embora ele não possa mais voltar à natureza, é gratificante e saber que contribuo para que ele possa ter uma vida melhor hoje. O Gardenal arranjou uma namorada e tem até filhos”, diz Martinho. O macaco foi criado como um animal doméstico até o seu primeiro ano e depois foi levado para a associação.

Também podem ser adotadas as jaguatiricas Amora e Pitango, a fêmea de macaco-prego Chupeta, a onça parda Bem-te-Vi, a fêmea de lobo-guará Balu, além de aves que estão em tratamento, como um exemplar de gavião-carijó ou um de quero-quero (e que está com uma das pernas enfaixada), corujas vítimas de linha de pipa com cerol e araras-canindé, encontradas à venda facilmente pela internet.

Para a veterinária Cristina Harumi Adania, coordenadora da associação, a ONG tem propagado o projeto da adoção virtual como uma forma de tentar inibir o tráfico e a compra de animais silvestres e selvagens. “É melhor ajudar um papagaio daqui, que nunca mais vai poder ser reintegrado à natureza, mas tem espaço de sobra para voar --e ele voa o dia todo--, do que manter em uma gaiola no quintal.”

O biólogo Rafael Pires Barbosa, um dos responsáveis pelo projeto, explica que a adoção virtual só pode ser feita pelo site. Cerca de 300 pessoas são padrinhos ou madrinhas de animais (um bicho pode ser adotado por mais pessoas). “Os recursos são usados com medicamentos e para ajudar na manutenção geral da associação”, diz.

A Mata Ciliar necessita, em média, de cerca de R$ 40 mil mensais e vive de subvenções, doações e agora das adoções.

Além de animais que nunca mais viverão em liberdade – a jaguatirica Amora não tem uma das patas, por exemplo –, os que voltarão ao habitat natural também fazem parte do pacote de “adotáveis”. A loba Balu, por exemplo, em breve vai retornar para a região de Lorena (SP), onde foi atropelada em setembro do ano passado. “O padrinho poderá vir aqui se despedir na véspera de ela ser solta”, afirma o biólogo.

Até o fim do mês, a Associação Mata Ciliar deverá receber dois filhotes de onça pintada, que estão no Cetas (Centro de Triagem de Animais Silvestres), do Ibama, em Belém, e uma adulta, que está em Roraima. Mas o morador mais ilustre da ONG é o leão Juba, de 18 anos de idade, que há dois anos foi tirado de um zoológico em Fortaleza, onde foi vítima de maus-tratos.