No Rio, delegado do caso Juan diz que não houve confronto no dia do crime
O delegado Ricardo Barbosa, ex-titular da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense, depôs nesta terça-feira (10) no segundo dia do julgamento dos quatro policiais militares acusados de assassinar o estudante Juan Moraes, 11, que ocorre no Fórum de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. O crime ocorreu em junho de 2011.
Barbosa afirmou à Justiça que, baseando-se nas provas periciais colhidas pela Polícia Civil, o inquérito não comprovou a informação de que os PMs teriam entrado em confronto com traficantes da região no dia em que o menino foi morto.
"Baseado nessas provas, meu relatório diz que não ocorreu confronto. Os PMs se prepararam, viram um grupo e efetuaram disparos. O Igor estava armado. Ele efetivamente fazia parte do tráfico. O meu relatório é de que não houve confronto", disse Barbosa, cujo depoimento durou mais de uma hora.
Assim como Juan, Igor de Sousa, 17, também morreu durante a operação realizada na comunidade do Danon, em Nova Iguaçu.
Para o Ministério Público, os dois menores foram assassinados pelos PMs, pois só eles teriam atirado. A defesa dos réus, por sua vez, trabalha com a hipótese de que as vítimas teriam sido atingidas durante um confronto entre os policiais e traficantes do Danon.
A pedido do promotor Sérgio Ricardo Fonseca, o delegado relatou como fez toda a investigação, desde a transferência do inquérito da 56ª DP para a DH da Baixada Fluminense, até a conclusão.
O ponto de partida teria sido a ida ao local do crime, onde os agentes recolheram, segundo Barbosa, estojos de munição da via e das mãos dos moradores, o chinelo usado pelo menino Juan, que era feminino, e ouviram testemunhas, que relataram os disparos ouvidos naquela noite --primeiramente rajadas de arma de grosso calibre e depois dois ou três disparos de arma de menor potencial.
"O primeiro objetivo era identificar o Juan no local. Fizemos o trajeto de onde Juan saiu, as provas testemunhais e técnicas, como o chinelo, identificamos a presença do Juan ali, que ele foi alvejado ali. Passado isso, pedimos os dados do GPS das viaturas para identificar a questão do tempo de chegada de viaturas que trouxeram dados importantes. Uma das viaturas chegou muito antes, parou na pedreira do lado oposto do morro e deixaram dois componentes [PMs] na pedreira e eles percorreram a trilha, chegaram a outro ponto, ficaram ao abrigo da luz e ficaram ali por um tempo até verem o grupo saindo do beco. Eles relatam no auto resistência que eram seis homens armados e dispararam", explicou Barbosa.
Em função de sua experiência profissional, o delegado foi questionado pelo promotor sobre o suposto posicionamento dos PMs na cena do crime. Na versão da defesa, os dois réus estavam sozinhos e teriam sido surpreendidos por um grupo maior de criminosos, dando início ao confronto.
"Não é comum e a técnica não recomenda. Você busca superioridade numérica. Se tem seis homens, ainda mais à noite, eu não autorizaria uma operação com dois homens somente", afirmou.
Os advogados dos PMs questionaram se seria possível, de um outro ângulo mostrado em fotos à testemunha, que traficantes estivessem dispostos para atirarem também em direção das vítimas. Barbosa explicou que, do local onde os policiais relataram estar, a visão era privilegiada e eles veriam se houvesse alguém nesse ponto.
"Não seria possível. Até porque iriam ouvir disparos e mesmo à noite, do cano das armas saem gases e faíscas. Se veria esse um disparo ocorrendo. Eles tinham todo um leque para ver, teriam uma visão ampla. Se houvesse disparo mais abaixo, teriam notado. E [se houvesse alguém] era um barranco, não teriam ângulo para atirar", disse Barbosa.
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