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Renda dos mais ricos cresce acima da média e explica desigualdade, diz Ipea

Edgard Matsuki

Do UOL, em Brasília

01/10/2013 13h33Atualizada em 01/10/2013 15h01

O crescimento da renda entre a fatia dos mais ricos da população brasileira foi de 8,34% em 2012 em comparação com 2011, acima da média nacional de 8%.  O avanço da renda dos mais ricos foi o principal responsável pela estagnação da desigualdade no Brasil.  Esta é a conclusão de um estudo do Ipea apresentado nesta terça-feira (1º) que usou como base os resultados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios). A pesquisa havia sido apresentada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na última sexta-feira (27).

O Ipea aponta que, no ano passado, a renda média dos brasileiros cresceu 8%. A parcela da população que teve menor crescimento de renda foi a faixa entre os 10% e 20% mais ricos: 6,45%. O crescimento de renda da parcela da população que engloba os 10% mais pobres foi de 14,05%, também acima da média nacional.

INFOGRÁFICOS

  • Arte/UOL

    Clique na imagem para ver o perfil dos domicílios brasileiros, segundo a Pnad 2012

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    Máquina de lavar e computador ganham mais espaço na casa do brasileiro; clique na imagem

No ano passado, o coeficiente de Gini (indicador que mede a desigualdade) ficou em 0,526%. “Se todas as pessoas no Brasil tivessem aumento de renda de 8%, estaríamos estáveis. Como os mais pobres cresceram e o mais ricos também cresceram, a desigualdade diminuiu pouco”, disse Marcelo Neri, ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos.

Mesmo com o crescimento entre os mais pobres, a diferença entre as faixas dos 10% mais pobres e 10% mais ricos ainda é gritante. Os mais pobres ganharam em 2012 cerca de R$ 91,71 por mês. Já a renda dos mais ricos era de R$ 3.631,89 por mês.

De acordo com o Ipea, o crescimento dos mais pobres fez o número de pessoas na linha da extrema pobreza diminuir no último ano. Em 2012, o Brasil contava com 6,53 milhões na linha da extrema pobreza (que ganhavam menos de R$ 75 por mês). O índice correspondia a 3,6% da população. Cerca de 15,8 milhões de pessoas estavam na linha da pobreza (pessoas que ganham até R$ 150).

A população extremamente pobre (que vive com menos de US$ 1 por dia) caiu de 7,6 milhões de pessoas para 6,5 milhões. "Três milhões e meio de pessoas saíram da pobreza em 2012 e 1 milhão da extrema pobreza, em um ano em que o PIB cresceu pouco. Para a pobreza, o fundamental é o que acontece na base – cuja renda cresceu a ritmo chinês. O bolo aumentou com mais fermento para os mais pobres, especialmente para os mais pobres dos pobres", disse o presidente do Ipea.

A pesquisa também aponta que o objetivo do milênio de erradicar a extrema pobreza no Brasil em 50% foi alcançada há muito tempo. “De 2000 até 2012, 83% da extrema pobreza foi erradicada no país”, diz Neri. Ele atribui o crescimento do emprego e programas como o Bolsa Família para a diminuição da extrema pobreza.

Um dado para o qual o Ipea chamou atenção foi o crescimento da renda média do brasileiro em relação ao PIB do ano passado, que cresceu apenas 0,9%. “A discrepância entre o PIB e Pnad é surpreendente. Cresceu mais do que PIB per capita na China ”, diz o estudo.

Os dados apresentados pelo Ipea diferem dos números que tratam de desigualdade de renda apresentados pelo Pnad na semana passada e que tratavam da renda apenas obtida por trabalho.

Na Pnad, o aumento do rendimento médio foi de 5,8%; de 6,6% entre o os 10% mais pobres e 10,8% entre os 10% mais ricos. 

Já este levantamento do Ipea levou em conta os rendimentos obtidos em trabalho, Previdência, Bolsa Família e benefícios sociais.

Os principais indicadores do crescimento dos rendimentos da população são a posse de bens duráveis – como televisão, fogão, telefone, geladeira e máquina de lavar – e o acesso a serviços públicos essenciais – como energia elétrica, coleta de lixo, esgotamento sanitário e acesso à rede de água.

 

A ampliação da posse de bens e de acesso a serviços se deve, em grande parte, a dois fatores: o aumento da renda do trabalho e o impacto do Bolsa Família. "Nos últimos dez anos, o protagonista da redução da desigualdade é a renda do trabalho, o coadjuvante principal é o Bolsa Família", diz o estudo. De acordo com o Ipea, de 2002 a 2012, 54,9% da redução da desigualdade foi devido à contribuição da renda do trabalho. O Bolsa Família contribuiu 12,2% para essa queda. (Com Agência Brasil)