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MP do Rio denuncia mais 15 PMs por participação na morte de Amarildo

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

22/10/2013 11h33Atualizada em 22/10/2013 12h08

O MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) informou nesta terça-feira que mais 15 policiais militares foram denunciados por participação na morte do pedreiro Amarildo de Souza, 43. Ao todo, segundo a Promotoria, são 25 PMs denunciados pelo sumiço do morador da favela da Rocinha, na zona sul do Rio. Todos foram denunciados por tortura seguida de morte, 17 por ocultação de cadáver, 13 por formação de quadrilha e quatro por fraude processual.

O Ministério Público pediu a prisão de mais três PMS: o sargento Reinaldo Gonçalves, o sargento Lourival Moreira e o soldado Vagner Soares do Nascimento. Ainda de acordo com o MP, nessa segunda parte da investigação foi possível identificar quatro dos policiais que participaram diretamente da tortura de Amarildo. São eles o sargento Reinaldo Gonçalves, o soldado Anderson Maia, tenente Luiz Medeiros e o soldado Douglas Vital, que foi quem abordou Amarildo na favela.

A nova denúncia ocorre após cinco policiais da UPP Rocinha mudarem seus depoimentos ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público. Quatro dos responsáveis pelos novos depoimento são mulheres.

CÂMERAS NÃO FUNCIONARAM

  • Alessandro Buzas/Futura Press

    A ONG Rio de Paz colocou manequins na praia de Copacabana, na zona sul, em protesto contra o desaparecimento de Amarildo

  • As câmeras da UPP da Rocinha pararam de funcionar no mesmo dia em que Amarildo foi levado para lá por policiais "para averiguação". O relatório da empresa Emive mostra que, das 80 câmeras instaladas na favela, apenas as 2 da sede da UPP apresentaram problemas. MAIS

Eles precisaram para o MP o local exato onde Amarildo foi torturado. Segundo os depoimentos, estes PMs receberam ordens do tenente Luiz Felipe de Medeiros para que ficassem dentro de um contêiner. De lá, eles ouviram gritos, ruídos de agressões, asfixia e choque elétrico, tortura a que Amarildo teria sido submetido.

O MP afirma que mesmo esses agentes que não tiveram atuação direta no crime terão sua responsabilidade avaliada pela Justiça.

Os promotores do Gaeco informaram ainda que solicitaram a suspensão das atividades dos 15 novos PMs denunciados. Além de Carmen, apresentaram a denúncia à imprensa Cláucio Cardoso da Conceição, Daniel Faria Braz e Paulo Roberto Cunha Junior.

O corregedor da Polícia Militar, Cezar Augusto Tanner, que também participou da entrevista coletiva, afirmou que a PM "não vai titubear em tomar a atitude que tem que tomar". "Não compactuamos com desvios de conduta e, nesse caso, infelizmente, houve", declarou Tanner.

Para a Polícia Civil, Amarildo foi torturado e morto depois de ter sido levado por policiais para a sede da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) na comunidade, um dia depois de a PM realizar a operação Paz Armada, que investiga o tráfico de drogas na Rocinha.

De acordo com o delegado, que coordena a investigação, as pessoas que se disseram vítimas de tortura de policiais da UPP da Rocinha foram ouvidas de março a julho deste ano para revelar detalhes do esquema do tráfico de drogas no local.

Todas as 22 testemunhas que narraram mecanismos de tortura apontam homens comandados pelo major Edson Santos (ex-comandante da UPP afastado no mês passado após ser denunciado pelo caso Amarildo) como agressores. Pela linha de investigação da polícia, Amarildo seria a 23ª vítima do grupo - e a única que foi morta.

BLOG DO MÁRIO MAGALHÃES

"A coragem que tempera o inquérito do caso Amarildo é inversamente proporcional ao destaque diminuto que as conclusões policiais receberam nos meios de comunicação: parece que se trata apenas de mais uma peça produzida pela Polícia Civil do Rio de Janeiro"

Asfixia com saco plástico, choque elétrico com corpo molhado, introdução de objetos nas partes íntimas e até ingestão de cera líquida eram alguns dos "castigos" aplicados aos moradores da Rocinha, dentro e fora das dependências da UPP -- alguns depoimentos falam em sessões de tortura em becos da comunidade, incluindo o beco do Cotó, onde, segundo a polícia, Amarildo foi sequestrado.

À época do desaparecimento do pedreiro, o ex-comandante da unidade sustentou que Amarildo foi ouvido e liberado, mas nunca apareceram provas que mostrassem o pedreiro saindo da UPP, pois as câmeras de vigilância que poderiam registrar a saída dele não estavam funcionando.