'Vingança e truculência': ouvidor da PM vê retrocesso em morte de estudante
Claudio Silva, ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo, lamentou a morte do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta e afirmou que a ação da Polícia Militar significa um ''inexplicável retrocesso''.
O que aconteceu
Segundo o ouvidor, estamos vivendo ''uma polícia mais violenta mês após mês''. ''Caiu a profissionalização da nossa PM e, quando isso ocorre, absolutamente ninguém está protegido: é um tipo de violência que pode chegar a todas as classes sociais'', diz, em nota enviada ao UOL nesta quinta-feira (21).
Claudio argumenta que há uma ''ideologia de vingança, truculência e morte'' das autoridades policiais. Ele ressalta que a postura das forças de segurança está atingindo a todos, sem distinção de classe ou raça.
Para ele, o episódio também demonstra uma queda na qualificação da PM. O ouvidor ainda acrescenta que, até 2022, a corporação vinha construindo resultados positivos, apesar de vagarosos.
O retrocesso está em todas as áreas: discursos de autoridades que validam uma polícia mais letal, enfraquecimento do controle interno da tropa, irresponsabilidade de órgãos que deveriam atuar no controle externo da atividade policial e a descaracterização da política de câmeras corporais
Claudio Silva, ouvidor da PM de São Paulo
Ele também cita uma ''sucessão de erros'' durante a ação que matou o estudante. ''Existem outros protocolos a serem adotados antes da decisão de puxar o gatilho, neste caso contra um jovem que estava sem camisa e não oferecia qualquer risco à integridade física dos policiais, inclusive porque fugia da abordagem, diferente do que diz a nota da SSP que afirma que ele investiu contra o policiais'', relata.
O resultado é mais uma família destruída. Sonhos interrompidos, trajetórias abortadas, que se somam a centenas de outros mortos, como o jovem Dr. Marco Aurélio Cardenas Acosta, que, prestes à sua formatura, iria salvar muitas vidas
Claudio Silva, ouvidor da PM de São Paulo
Entenda o caso
Um policial militar matou um homem com um tiro à queima-roupa em um hotel na zona sul de São Paulo na madrugada desta quarta (20). Os policiais envolvidos no caso foram afastados, informou a SSP (Secretaria de Segurança Pública).
Os policiais chegaram ao local e viram o estudante "bastante alterado" e agressivo, segundo o boletim de ocorrência. Ele chegou a ir para cima dos policiais, ainda de acordo com a SSP.
Em certo momento, ele teria tentado pegar a arma de fogo de um dos policiais, ocasionando no disparo. O resgate foi acionado e o estudante foi levado ao Hospital Ipiranga, mas morreu. Imagens das câmeras de segurança do hotel não mostram o estudante tentando pegar armas dos agentes.
A morte foi registrada como decorrente de intervenção policial. O agente que atirou no jovem teve sua arma apreendida.
O pai do estudante morto fala em covardia. Os policiais deveriam ter um treinamento sobre onde [o tiro] é fatal, onde o tiro é para neutralizar. Sem contar que ele estava sem camisa, não tinha nada. Você vê que foi a maior covardia. Eu sinto dor, mas também sinto raiva'', disse Júlio Cesar Acosta à TV Globo.
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