Para estudantes no Rio, tarifa de ônibus grátis não compensa aumento
A revolta com o aumento da tarifa de ônibus no Rio de Janeiro --de R$ 2,75 para R$ 3--, que passou a valer a partir de sábado (8), e a insatisfação com a qualidade do serviço do transporte público foram unanimidade entre os estudantes ouvidos pelo UOL ao longo da semana que antecedeu o reajuste.
Já a ampliação da gratuidade da passagem, que já contemplava alunos dos ensinos fundamental e médio da rede pública e, desde a última segunda-feira (3), também vale para universitários cotistas e bolsistas do Prouni (Programa Universidade para Todos), foi considerada, apesar de positiva, insuficiente pela maioria dos estudantes. Eles pleiteiam que o benefício seja concedido para todos os alunos e acham que as novas gratuidades não compensam o aumento de 9,09% na tarifa municipal.
Veja o momento em que o cinegrafista é atingido
A falta de qualidade do serviço de ônibus foi o principal argumento dos alunos para condenar o reajuste. “Os ônibus são péssimos. E estão ficando cada vez piores, mais cheios. Com o trânsito ruim do jeito que está, num calor desse, então, é pior ainda”, afirma a estudante de engenharia elétrica da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), Carla Paiva, 28. “A gente fica mais de uma hora dentro, muitas vezes em pé. Se é de graça para os alunos dos ensinos fundamental e médio da rede pública, não tem por que não ser para os do ensino superior.” Ela não será beneficiada com a gratuidade.
Para Lia Figueiredo, 20, que estuda engenharia cartográfica, também na Uerj, a extensão da gratuidade para cotistas, bolsistas do Prouni e alunos que tem baixa renda familiar é justa.
“Se fosse de graça para todos os estudantes, seria mais um motivo para eles aumentarem ainda mais [a tarifa]”, comenta a estudante. Na opinião dela, no entanto, “os ônibus são caros demais para o serviço que oferecem”.
A estudante Patrícia Ximango, 24, entrou na Uerj por meio do sistema de cotas. Apesar de ser uma das beneficiárias do decreto do prefeito, ela acredita que as gratuidades não compensam o novo valor da tarifa.
“O trabalhador que usa bastante os ônibus pra trabalhar é quem vai pagar a conta. O número de bolsistas é muito pequeno dentro do todo. Os outros universitários, que não terão gratuidade, também vão pagar o pato”, afirma Patrícia, que, por utilizar ônibus intermunicipais, já que mora em Niterói, cidade vizinha ao Rio, nem chegou a fazer o RioCard.
Se é de graça para os alunos dos ensinos fundamental e médio da rede pública, não tem por que não ser para os do ensino superior
Carla Paiva, 28, estudante de engenharia elétrica da UerjA decisão de aumentar o valor da tarifa e alterar os critérios de gratuidade consta em decreto do prefeito Eduardo Paes (PMDB) publicado no "Diário Oficial do Município" no último dia 30. Os beneficiados terão direito a 76 viagens de ônibus mensais, inclusive em fins de semana.
Anteriormente, os alunos beneficiados tinham direito a 60 viagens por mês, apenas em dias úteis. Antes da decisão, universitários que ingressaram no ensino superior por cotas ou pelo Prouni pagavam meia passagem.
A gratuidade integral também vai passar a valer, a partir de segunda (10), para universitários com renda familiar per capita de até um salário mínimo. Quem se enquadrar nessas condições deve se dirigir às agências do RioCard na capital fluminense para fazer o cadastro, apresentando a comprovação de matrícula e de renda.
De acordo com a prefeitura, os estudantes podem utilizar declaração de imposto de renda, contracheque atualizado dos responsáveis legais ou "autodeclaração" com assinatura de termo específico.
“Pesa no bolso”
Depois de passar os anos do ensino fundamental e médio sem pagar passagem de ônibus, o ex-aluno do Faetec (Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio) Lucas Oliveira, 19, que hoje aguarda o resultado da lista de espera do Sisu (Sistema de Seleção Unificada) e faz estágio na Divisão Administrativa Acadêmica da Uerj, diz que os gastos com ônibus estão pesando no bolso.
“Gasto quase metade da bolsa que eu ganho só de passagem. E agora vou gastar ainda mais”, declara o jovem, que ganha R$ 350 e mora no bairro de Quintino, na zona norte.
Para ele, a exigência da Prefeitura de que as empresas, em contrapartida ao aumento, instalem ar-condicionado em todos os ônibus até 2016 é “um absurdo”. “Eles deveriam fazer [a climatização dos veículos] primeiro e aumentar o valor da passagem depois. As empresas de ônibus já ganham dinheiro pra ‘caraca’”, afirma Lucas. “Nesse calor, então, é horrível. Muita gente passa mal.”
Uma estudante de psicologia da Uerj que pediu para não ter o nome revelado defendeu que todos os estudantes deveriam ser contemplados com a gratuidade no ônibus. “Se tem esse privilégio para os cotistas, deveria ampliar para todos. Muitos estudantes não têm fonte de renda”, diz a jovem.
Protestos
O aumento da tarifa motivou manifestações na cidade desde a última semana, tendo a maior e mais violenta delas ocorrido na quinta-feira (6), no Centro do Rio. Na ocasião, o repórter cinematográfico da "TV Bandeirantes" Santiago Idílio Andrade foi atingido por um artefato explosivo enquanto fazia a cobertura do protesto. A situação do cinegrafista é grave, ele passou por cirurgia e permanece internado em coma.
Para a estudante de serviço social Desireé Carvalho, 23, que participou do ato, o prefeito Eduardo Paes tentou esvaziar os atos ao conceder a ampliação das gratuidades. "Ele tentou tirar quem mais precisa das ruas, mas não conseguiu", afirma a jovem.
Lucas Oliveira, contou que não costuma ir para protestos, mas disse concordar "totalmente" com os atos. “Ficar parado não vai adiantar nada. Com manifestações, os estudantes já conseguiram Rio Card para o final de semana, por exemplo. Foi um avanço, mas temos que pressionar mais”, declara.
O aumento das tarifas foi o mote dos protestos de junho do ano passado, que contagiaram o país com esta e outras demandas. Naquele momento, Rio e São Paulo voltaram atrás e reduziram os valores das passagens.
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