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Mototaxistas de favela da Maré se dizem alvo de traficantes de facção

O UOL visitou na terça-feira (8) o local onde o mototaxista da Maré foi baleado, na noite de segunda (7), na Vila do João. À esquerda, próxima ao poste, a camisa ensanguentada de Fábio continuava no local - Henrique Coelho/UOL
O UOL visitou na terça-feira (8) o local onde o mototaxista da Maré foi baleado, na noite de segunda (7), na Vila do João. À esquerda, próxima ao poste, a camisa ensanguentada de Fábio continuava no local Imagem: Henrique Coelho/UOL

Henrique Coelho

Do UOL, no Rio

09/04/2014 12h48

Os ataques realizados por criminosos contra as tropas militares que atuam na ocupação do Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, na segunda-feira (7), também atingiram os mototaxistas da Vila do João, uma das 15 comunidades que formam a Maré. Fábio da Silva de Barros, 28, levou um tiro no braço, passou por uma cirurgia vascular e segue em recuperação no Hospital Municipal Souza Aguiar, no centro do Rio. O estado de saúde dele é estável.

Testemunhas que trabalham com Fábio afirmaram ao UOL que um veículo preto apareceu, por volta das 23h30 de segunda, em frente ao ponto de mototáxi da Vila do João, e abriu fogo contra o grupo de profissionais. O motociclista R. L., que pediu para não ser identificado por receio em relação à sua segurança, afirmou que o ataque foi coordenado por bandidos da favela do Caju, na zona portuária, onde há uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).

"Não é a primeira vez que eles fazem isso aqui. E pode ter certeza que eles vão voltar", disse ele, que trabalha no local há cinco anos. Um outro mototaxista, que também não quis se identificar, relatou ter "perdido pelo menos dois amigos" nos últimos dois anos em decorrência de confrontos no Complexo da Maré.

Segundo ele, os criminosos seriam de uma facção rival àquela que chefia o tráfico de drogas na Vila do João. Desde 2009, declarou a testemunha, há uma disputa no local pelo controle das bocas de fumo. “Leonardo, em 2011, e o Marcelo, em 2013. Os dois do mesmo jeito: os caras [traficantes] vinham aqui à noite e atingiam a gente. Já passei por isso algumas vezes aqui”, relatou.

Complexo da Maré ainda vive tensão após entrada das Forças Armadas

Os mototaxistas também reclamam a respeito de uma queda no fluxo de passageiros, o que teria ocorrido a partir da ocupação dos homens do Exército e da Marinha: “O movimento caiu pelo menos pela metade. As pessoas ficaram com medo, porque eles pedem para revistar e as pessoas param de pedir o mototáxi”.

Após Fábio ser baleado, os mototaxistas fizeram uma manifestação na avenida Brasil, bloqueando o trânsito por alguns minutos, no sentido zona oeste. Na tarde de terça-feira (8), a camisa ensaguentada de Fábio permanecia no local.

Porta-voz das tropas que atuam na ocupação da Maré, o major Alberto Horita afirmou que os membros da Brigada Paraquedista optaram por não disparar contra o carro preto que realizou o ataque: “Os integrantes das forças de 'pacificação', no momento da ação, estavam fazendo uma vistoria em um veículo. Quando eles perceberam os disparos, o carro preto já havia partido. Foi algo muito ?ápido. E se algum disparo fosse executado pela nossa tropa, iria para a Avenida Brasil. Não queremos atingir inocentes”, disse Horita.

Sobre o procedimento de abordar e revistar mototaxistas, Horita argumentou ser uma "atividade prevista", e que poderia causar um transtorno à população: “Infelizmente, não é possível fazer essa missão nossa sem interferir na vida dos moradores, mas tentamos interferir o mínimo possível. Mas já apreendemos armamento, munição e realizamos prisões.Temos um resultado significativo”.