Rio Madeira recua, e tráfego de veículos para o Acre aumenta
O nível das águas do rio Madeira começa a baixar, alimentando a esperança dos moradores do Acre e de Rondônia de voltarem à normalidade.
Em 30 de março, o rio registrou a maior cota de sua história em Rondônia, atingindo a marca de 19,74 metros. Na manhã deste sábado (12), o nível estava em 19,32 metros e continua baixando. Mais de 25 mil desabrigados em Porto Velho esperam voltar para suas casas. O Acre há mais de 60 dias vive uma crise de abastecimento.
Saindo de Rio Branco rumo a Porto Velho, o UOL percorreu os trechos mais críticos na BR-364. No primeiro deles, a 280 km da capital acriana, um trecho da rodovia foi elevado em quase um metro, ficando a passagem limitada a apenas uma via da estrada. Hoje fora d’água, o trecho dá as primeiras proporções da cheia. O repórter viajou a convite do governo do Estado do Acre.
A travessia do Madeira por meio de balsa costumava demorar entre 30 e 45 minutos; porém, com o deslocamento do porto de atracagem o mesmo percurso agora é feito em 2 horas ou mais, dependendo da correnteza. O novo porto está há 8 km do antigo.
Com interdição da BR-364, única via de ligação do estado com o restante do país, provocada pela cheia, produtos como gás de cozinha, combustíveis, alimentos, insumos hospitalares passaram a faltar nas cidades acreanas.
Desde 21 de fevereiro o governo do Acre está intervindo diretamente na BR dentro do território rondoniense, para garantir a passagem de caminhões com esses produtos.
Uma equipe de mais de 20 homens do corpo de bombeiros e do Departamento de Estradas do Acre (Deracre) presta auxílio aos caminhoneiros nos trechos mais críticos, colocando alguns mais baixos em pranchas, ou puxando os veículos mais pesados com tratores.
Vila Abunã
Na Vila Abunã, distrito de Porto Velho, a situação é crítica, e a Defesa Civil do estado de Rondônia chegou a cogitar a retirada da população de toda a localidade.
A cozinheira Nátia Modesto, de 23 anos, relata que a água cobriu o teto de sua casa e que foi removida para um abrigo. Mas, como não recebia ajuda do governo, foi morar dentro do restaurante onde trabalha.
“A ajuda que recebemos aqui foi de cestas básicas vindas do governo do Acre”, afirmou.
A rotina na vila mudou com a instalação da base da Defesa Civil acriana na pequena cidade. A comerciante Elsa Arruda mora há 15 anos no lugar e conta que a situação é dramática.
“A gasolina chegou a custar R$ 10 [o litro], hoje está a R$ 7. Estamos ilhados aqui vendo todos esses caminhões passarem para o Acre e não ficar nada aqui para gente”, desabafou.
No final de março, nove pontos da BR-364 estavam alagados. Em alguns trechos, a lâmina d’água chegou a medir 1,40 metros, impedindo completamente o tráfego de veículos.
De acordo com o governador do Acre, Tião Viana, os prejuízos somam mais de R$ 800 milhões.
Na estrada
O caminheiro Flávio Shloegel, de São Bento do Sul (SC), veio ao Acre entregar um carregamento de geladeiras. Em sua vinda, a água estava na metade da altura das rodas. Com um veículo avaliado em quase R$ 500 mil, ele resolveu retornar somente quando fosse mais seguro.
“Assim como nunca vi canoa com rodas resolvi não colocar meu caminhão na água”, disse com bom humor o caminheiro, que passou 50 dias em Rio Branco.
Porém, há quem tente uma travessia com veículos pequenos, mesmo sendo desaconselhados pela Defesa Civil. Foi o caso do carpinteiro Augusto Lima, 43, que tentava levar sua mulher, grávida de 7 meses, para Foz do Iguaçu (PR).
Ana Shirley queria dar à luz em sua cidade natal, mas passou mal durante a viagem e teve de ser resgatada por helicóptero do Corpo de Bombeiros até a cidade Jacy Paraná.
Lima precisou pagar um guincho particular para atravessar seu carro para poder ir ao encontro da mulher.
No inicio de março, o guincheiro que transportou o restante da família de Ana Shirley também precisou ser resgatado. Altamiro Garcia, o Mineirinho, chega a fazer 4 travessias por dia, levando carros menores sobre a BR inundada.
Durante um dessas travessias, Mineirinho sofreu uma intoxicação por monóxido de carbono e teve duas paradas cardíacas. Os caminhões necessitam fazer adaptações para atravessar as águas, como subir o filtro de ar e a saída do escapamento para que casos como o de Mineirinho não ocorram.
“Me lembro dos bombeiros acenando pra mim e depois de um monte de gente de branco ao meu redor”, disse o guincheiro, que relatou ainda que após cinco dias estava de volta na estrada. “Doía tudo, levei uns choques, mas o dever me chamava."
Além de Mineirinho, os bandeirinhas (barqueiros) Gilmar de Jesus e Giovanni Goncalves também estão faturando com a cheia. Eles investiram suas economias e compraram barcos para fazer o transporte de passageiros. Cada um chega a ganhar até R$ 600 por dia.
“Nessa região todo mundo precisa de um barco. Quando a água baixar vou aproveitar para pescar”, comenta Gilmar, que trabalhava em uma cooperativa antes de se dedicar à atividade no rio.
Com o recuo do rio, o Dnit e o governo do Acre preparam um esforço para garantir um fluxo diário de pelo menos 70 veículos para o Acre.
“Ainda é pouco perto dos 250 [caminhões] que passavam diariamente quando a estrada não estava alagada. Mas é muito mais do que os cerca de 10 que atravessavam no auge da cheia do rio Madeira”, disse o senador Jorge Viana.
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