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Motoristas suspendem greve em SP até decisão da Justiça na próxima semana

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

22/05/2014 17h06

Os motoristas e cobradores de ônibus que realizaram uma greve nos últimos dias na capital paulista decidiram suspender as paralisações até que haja uma decisão definitiva do TRT (Tribunal Regional do Trabalho), o que só acontecerá a partir da próxima semana.

A decisão foi tomada após a realização de uma audiência de conciliação no TRT na tarde desta quinta-feira (22). Participaram da reunião representantes do Sindmotoristas, o sindicato dos motoristas e cobradores da capital, e do SP Urbanuss, o sindicato patronal. Os dissidentes não foram autorizados a participar da audiência.

Depois da audiência, o grupo dissidente, que ontem prometia voltar a paralisar a cidade caso suas demandas não fossem atendidas, moderou o tom. "Vamos esperar a decisão judicial e passar as informações para o trabalhador”, afirmou Paulo Martins Santos, funcionário da viação Gato Preto e um dos líderes da dissidência que organizou a greve. “Nós defendemos que as negociações sejam reabertas."

As paralisações tiveram início na terça-feira e se estenderam até ontem à tarde, quando os grevistas se reuniram com o superintendente regional do Ministério do Trabalho, Luiz Antonio de Medeiros, e com diretores do Sindmotoristas. Hoje, a maioria dos motoristas voltou ao trabalho, com exceção dos trabalhadores da viação Santa Brígida.

Inesperada, a greve fechou mais da metade dos terminais de ônibus de São Paulo e prejudicou cerca de um milhão de passageiros. Na terça-feira, a cidade registrou a maior lentidão do ano, com 261 km de vias congestionadas. Houve tumulto em estações do Metrô e da CPTM (Companhia Paulista dos Trens Metropolitanos).

Na audiência de hoje, o Sindmotoristas protocolou um documento no qual dá sua versão aos acontecimentos relacionados à paralisação. O tribunal estabeleceu 24 horas para o SP Urbanuss manifestar-se. Em seguida, será sorteado um relator, que levará a matéria para  julgamento no pleno do TRT, o que irá ocorrer só a partir da semana que vem.
 
No julgamento, o tribunal decidirá se a paralisação foi abusiva ou não. Na audiência de hoje, o MPT (Ministério Público do Trabalho) considerou o movimento grevista abusivo e pediu que seja imposta uma multa diária caso hajam novas paralisações.

Segundo o funcionário da viação Gato Preto, Medeiros se comprometeu a conversar com o secretário municipal dos Transportes, Jilmar Tatto, para que os grevistas sejam recebidos pelo prefeito Fernando Haddad. Hoje, o prefeito disse que não irá receber os dissidentes até que haja uma decisão da Justiça do Trabalho.

Novas negociações

De acordo com José Valdevan, conhecido como Valdevan Noventa, presidente do Sindmotoristas, será formada uma comissão tripartite, com representantes da direção do sindicato, do SP Urbanus e dos grevistas. Valdevan afirmou que a comissão não rediscutirá os principais pontos do acordo aprovado em assembleia na última segunda-feira (19). 

"Vamos discutir algumas questões pendentes, como o convênio médico, a questão dos trabalhadores da manutenção e o abono para motoristas de ônibus articulados e bi-articulados."

As empresas aceitaram conceder reajuste de 10%, vale-refeição diário de R$ 16,50 (atualmente é de R$ 14,30) e uma parcela anual de R$ 850 referente à PLR (Participação nos Lucros e Resultados), que em 2013 foi de R$ 600. Os trabalhadores dissidentes querem 13% de reajuste, vale-refeição de R$ 22 e PLR de R$ 1.500, conforme definido em assembleia da categoria na quinta-feira (15).

Valdevan afirmou que a comissão tripartite não discutirá estes pontos. "Como vou voltar atrás de uma coisa que foi votada?", questiona. "Eu sei que o trabalhador queria mais, sempre quer mais, merecemos mais, mas tudo tem seu limite. É um passo de cada vez. Não é do dia pra noite que vai mudar. Essa é a primeira campanha salarial do nosso mandato."

O calendário de mobilização, aprovado em assembleia no dia 15, previa um ato do sindicato --que fica na Liberdade-- até a prefeitura, na segunda-feira, e uma assembleia na terça. Caso os empresários não aceitassem a proposta, na quarta teria início uma paralisação comandada pelo sindicato.

Na segunda-feira, após receber a proposta patronal, a direção do sindicato decidiu antecipar a assembleia para o mesmo dia, logo após a realização do ato, o que revoltou parte da categoria. 

"Fomos chamados para voltar à mesa de negociação com os patrões. Chegou essa proposta na sexta-feira. Entre sexta e segunda, toda a direção do sindicato se mobilizou para convocar os trabalhadores para assembleia na segunda", disse Valdevan.

A antecipação da assembleia, no entanto, não foi divulgada no site do sindicato. A circular que informava a assembleia na terça-feira foi mantida na página. ""Não está no site, mas tá nos jornais. Avisamos no boca-boca. A prova disso é que foram 4.000 trabalhdores [na assembleia] na porta do sindicato", afirmou o líder sindical.

Greve agora é na Grande SP

Na Grande São Paulo, a paralisação de três empresas de ônibus --Miracatiba, Viação Osasco e Viação MobiBrasil-- atingiu 12 municípios e ainda afeta os usuários. Os trabalhadores reivindicam reajustes salariais. Os ônibus da Miracatiba começaram a sair para as ruas por volta das 13h30.

Diversos coletivos que atendem as cidades de Osasco, Barueri, Carapicuíba, Jandira, Itapevi, Santana de Parnaíba, Pirapora do Bom Jesus, Cajamar, Embu-Guaçu, Taboão da Serra, Cotia e Vargem Grande não estão circulando normalmente.