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Ex-comandante do Bope assume PM do Rio com "carta branca", diz Beltrame

Pinheiro Neto é o sexto oficial a assumir o comando da PM desde 2007, quando Beltrame foi nomeado secretário de Segurança Pública - Marcelo Horn/Arquivo Goverj
Pinheiro Neto é o sexto oficial a assumir o comando da PM desde 2007, quando Beltrame foi nomeado secretário de Segurança Pública Imagem: Marcelo Horn/Arquivo Goverj

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

07/11/2014 12h20

O secretário de Estado de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, anunciou nesta sexta-feira (7) o novo comandante da Polícia Militar: o coronel da reserva Alberto Pinheiro Neto, que esteve à frente da divisão de elite da PM, o Bope (Batalhão de Operações Especiais), entre 2007 e 2009. Segundo Beltrame, o oficial terá "carta branca" para promover mudanças, o que inclui a questão do combate à corrupção dentro da corporação.

"Assim como eu, que só trabalho se me derem carta branca, só posso deixar que quem trabalhe comigo tenha carta branca. Se tiver que mexer no comando das UPPs, no comando do COE (Comando de Operações Especiais) ou seja aonde for, ele pode mexer", afirmou Beltrame.

Sem entrar em detalhes, o secretário explicou que há um conjunto de novas normas e diretrizes já acertadas com o novo comandante. Com isso, o objetivo é que a nova cúpula da PM esteja mais atenta e fiscalize com mais rigor a atividade policial, a fim de evitar desvios de conduta como no caso do coronel Alexandre Fontenelle, ex-chefe do COE (Comando de Operações Especiais), que foi preso sob suspeita de comandar um esquema de ações ilícitas na zona oeste do Rio.

"São ideias que, sem dúvida alguma, também tem a ver com a correção [em referência à conduta policial e ao problema da corrupção]. Não tenham dúvida disso. Mas é um direito que o comandante-geral tem de recepcionar a imprensa e apresentar esse novo pacote de medidas", afirmou ele, explicando porque as medidas não foram divulgadas hoje na coletiva

Beltrame disse ainda que o combate à corrupção policial continua na lista de prioridades da secretaria e da cúpula da corporação: "Temos investigações correndo e teremos outros trabalhos grandes. Quem tiver que prestar contas à Justiça, vai prestar. Quem tiver que sair, vai sair. Isso [investigar casos de corrupção] está sendo feito, assim como milícia e tráfico de drogas"

Beltrame afirmou ainda que Pinheiro Neto só vai sentar oficialmente na cadeira do gabinete de comando no dia 2 de janeiro, pois o atual comandante, coronel José Castro Menezes, está cuidando de um problema de saúde. Por esse motivo, quem assume interinamente até o fim do ano é o coronel Ibis Pereira, que já ocupou o cargo de subcomandante da divisão de ensino da PM.

Esta não foi a primeira vez em que o ex-comandante do Bope esteve cotado para assumir o comando-geral da PM. O fato já havia ocorrido nas duas últimas trocas de comando. Segundo Beltrame, Pinheiro Neto tem um perfil mais "operacional", isto é, focado em ações efetivas de combate à criminalidade, principalmente em relação ao tráfico de drogas.

Sua linha de pensamento seria mais próxima do que foi a gestão do também ex-caveira e ex-comandante do Bope Mário Sérgio Duarte, que exercia o cargo de comandante-geral no episódio da operação de guerra que marcou a ocupação das comunidades do Complexo do Alemão, em 2010.

"O Pinheiro Neto sempre foi uma alternativa, assim como foram os outros comandantes, em função do que a nossa equipe conhece das pessoas. Assim como conhecíamos o Mário Sérgio e o próprio coronel Castro... Conhecemos exatamente o tipo de proposta dele, o preparo dele em relação à gestão e ao planejamentos operacionais. Nós entendemos que, nesse momento de mudança, ele tem o perfil exato para que a gente avance no que se pretende da PM".

Beltrame não fez críticas ao comandante-geral exonerado e afirmou que ele e sua equipe não têm envolvimento com os recentes episódios de corrupção dentro da PM. Mas o secretário disse reconhecer que as denúncias e investigações "mexeram" e "estremeceram" a gestão do coronel Castro.

"A troca se deu porque estamos em um momento de virada. Precisamos mostrar para a sociedade outros sonhos e outras propostas", disse. "Seria uma leviandade nossa mexer nessas pessoas que não têm nada a ver com as investigações até então feitas. Estaríamos desmoralizando um trabalho de oito meses onde a construção da prova foi muito bem feita", comentou Beltrame, em referência ao caso da prisão do coronel Fontenelle.

"Entendo que este é um momento importante e bom para se fazer qualquer tipo de mudança. Há uma mudança no governo e de secretarias. Mas eu fiz [a troca de comando na PM] agora porque eu acho que um governo reeleito não começa no dia 1º de janeiro. Esse governo começou segunda-feira retrasada. É um momento oportuno para se criar novos projetos, gerar novas esperanças nas pessoas e fazer os devidos ajustes", declarou.

Durante o anúncio do novo comandante-geral da PM, Beltrame também comentou sobre a sucessão de atos de violência nas UPPs. Segundo ele, a política de segurança pública não enfrenta uma "crise".

"Crise existia antes. Falam do Alemão, mas o Alemão tem 12 comunidades e você só tem problema na Vila Cruzeiro, no Parque Proletário e na Nova Brasília. E as outras nove comunidades? Crise existia antes quando você não podia ir lá", declarou.

O secretário revelou que, com o apoio de pesquisadores da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), a polícia está preparando um extenso relatório sobre as Unidades de Polícia Pacificadora, que aborda desde conflitos que ocorreram desde o início do projeto até a questão do mapeamento dos terrenos.

"Você não pode trabalhar sem um diagnóstico", afirmou Beltrame, que revelou ainda que nenhuma outra UPP será inaugurada até o fim deste ano. "Entendo que é preciso analisar [os problemas] antes de expandir. (...) Mas isso não quer dizer que vamos parar. A UPP é um projeto que não abrimos mão nem negociamos."

Beltrame disse ainda que o delegado Fernando Veloso será mantido na chefia de Polícia Civil. "Não vejo porque mexer na Polícia Civil", afirmou.