Por que tantas árvores caem em São Paulo?
Moradores da cidade de São Paulo enfrentam transtornos com o grande número de quedas de árvore nas últimas semanas. Em 15 dias, cerca de mil árvores vieram abaixo. Mas por que tantas quedas? Especialistas consultados pelo UOL apontam os motivos que provocam tamanha destruição.
A combinação de chuva e vento fortes, mais comum durante o verão, tem um potencial arrasador. “Ventos acima de 60 km por hora podem derrubar árvores boas e ruins”, afirma o agrônomo Demóstenes Ferreira da Silva Filho, professor do Departamento de Ciências Florestais da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - Universidade de São Paulo).
Na madrugada de 29 de dezembro, ventos de até 96 km/h atingiram a cidade e derrubaram 326 árvores. Foi o dia de maior devastação. O parque do Ibirapuera amanheceu fechado por causa da grande quantidade de árvores caídas. Na última segunda-feira (12), os ventos chegaram a 85 km/h na região do aeroporto de Congonhas, e pelo menos outras 58 foram ao chão.
Sufoco nas calçadas
A ocupação do entorno das árvores também pode levar a quedas. Em grande parte dos casos, o espaço destinado às espécies nas calçadas é inadequado. É como se as espécies ficassem sufocadas, com dificuldades para respirar.
“Existem dificuldades de desenvolvimento das raízes nas calçadas. O solo abaixo das calçadas, seu substrato básico para nutrição e sustentação mecânica, não foi pensado para as árvores”, afirma o professor Silva Filho.
Segundo o pesquisador, o desenvolvimento superficial deixa as árvores “suscetíveis ao ataque de fungos apodrecedores de madeira” por causa do acúmulo de umidade. “O apodrecimento ocorre de baixo para cima como um cone se formando dentro da base da árvore”.
Desse modo, prossegue Silva Filho, as árvores plantadas na cidade se tornam menos resistentes que as que vivem nas florestas. É necessário, diz ele, planejar melhor as calçadas para torná-las menos hostis às espécies.
Podas malfeitas e falta de diagnóstico
A poda é outra causa de quedas. O professor da USP classifica como “agressões” os cortes feitos de maneira equivocada. Uma poda malfeita tende a tirar o equilíbrio da árvore e a deixá-la vulnerável. É preciso conhecer a estrutura da espécie para fazer um corte correto.
“Existem normas para a poda de árvores”, acrescenta o engenheiro agrônomo Joaquim Cavalcanti, diretor regional da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana e ex-diretor de parques como o Ibirapuera.
Se há árvores doentes ou desequilibradas e sujeitas a cair, é porque falta um bom trabalho de controle da floresta urbana. Eis, então, outro motivo de tantas quedas.
“A prefeitura deve investir em diagnóstico, cadastro e avaliação das árvores. A primeira medida é ter um sistema de informação geográfica para as árvores e contratar equipes para avaliar as árvores individualmente e abastecer o sistema com diagnósticos visuais. Após essa etapa, as piores árvores devem ser substituídas e as árvores com risco devem ser monitoradas por meio de equipamentos que mensuram ocos e problemas de raízes”, diz Silva Filho.
“A árvore é um ser. Ela tem que ser examinada periodicamente. Dá para fazer o diagnóstico, com avaliação visual, passando de carro pelas ruas a 40 km/h. Quando se verifica um erro na árvore, aí entra a avaliação técnica, com equipamentos de última geração, que identificam as falhas”, afirma Cavalcanti.
Em sua opinião, falta conhecimento sobre as árvores, e moradores da cidade podem e devem participar mais do trabalho de prevenção. “Há defeitos clássicos. Seria fácil a comunidade identificar visualmente."
Para isso, avalia Cavalcanti, é preciso investir em educação e no diálogo entre as comunidades e a administração pública.
Ele sugere a criação de programas para formar monitores que auxiliem a prefeitura a cuidar das árvores. “Associações de bairro e ativistas ambientais poderiam ter um papel importante. Não adianta deixar só para o governo. O governo não dá conta de tudo, não tem como”, opina.
“A gente precisa fazer a árvore ser conhecida, falar dos seus benefícios. A árvore está sendo malvista, mas ela é benfeitora. A gente precisa da sombra, do microclima e do efeito de umidade que a árvore proporciona”, diz Cavalcanti. “O asfalto sombreado [por árvores] exige menor custo de manutenção do que o asfalto a céu aberto”, afirma Silva Filho.
650 mil árvores no sistema viário
A prefeitura afirma que a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente mapeou 650 mil árvores no viário da cidade durante a primeira etapa do Sistema de Gerenciamento de Árvores Urbanas.
A administração municipal diz contar “com mais de 1.300 colaboradores diretos” no tratamento das espécies. São 55 equipes de manutenção.
“De janeiro a novembro de 2014, foram realizadas mais de 95 mil podas, 13 mil remoções e aproximadamente 10,5 mil substituições com árvores novas”, informou a prefeitura por meio de nota.
De janeiro a dezembro, 2.252 árvores caíram na cidade, sendo que 509 vieram abaixo entre os dias 29 e 31 de dezembro. O total de quedas do ano passado ficou pouco acima da média anual verificada desde 2011, que é de 2.172.
“A Defesa Civil Municipal está constituindo um grupo específico de arborização para, neste período de chuvas, melhor avaliar, identificar e prevenir riscos”, prossegue o texto da administração municipal.
“A prioridade para as remoções são definidas em conjunto com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), a fim de que o viário seja liberado no menor tempo possível. Além disso, há casos em que é necessário o apoio da Eletropaulo no desligamento da rede elétrica para garantir a segurança das equipes da prefeitura”.
Como avisar a prefeitura
Se uma árvore caída interdita uma casa ou oferece riscos à população, o morador deve ligar para o número 199 e acionar a Defesa Civil. Quem quer pedir à prefeitura um serviço de manejo de árvores e áreas verdes pode usar o número 156, a página da administração municipal na internet ou ir pessoalmente à praça de atendimento da subprefeitura mais próxima.
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