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Concessão da Cesp para administrar usina de Ilha Solteira termina em julho

Parte interna da Usina de Ilha Solteira (SP) - Thais Aleixo/Agência Pública/Greenpeace
Parte interna da Usina de Ilha Solteira (SP) Imagem: Thais Aleixo/Agência Pública/Greenpeace

José Eduardo Bernardes e Thaís Aleixo

Da Agência Pública

12/03/2015 06h00

Em fevereiro, uma audiência pública reuniu órgãos federais como o Ibama, a ANA, o ONS, a Cesp, entre outros, para discutir junto às autoridades locais e os empresários a situação do reservatório e o uso múltiplo das águas.

“Evidentemente provocou impacto negativo na piscicultura, um potencial até de agravamento se a seca se acentua. Precisamos procurar medidas que compensem ou reduzam o impacto da seca para os outros usuários também preocupados com a geração energética e buscar num futuro breve que a gente tenha regras muito claras, para adequar o funcionamento de todos os usos importantes”, explica Vicente Andreu, presidente da ANA.

Vicente Andreu anunciou que a agência apoiará mudanças nas regras de concessão de operação das usinas e a recuperação do reservatório de Ilha Solteira (SP). “As usinas, quando vencerem a concessão, precisarão de uma nova outorga que incorpore os usos que a água passou a adquirir ao longo dos anos. Um outro ponto é de um acordo de operação imediato, que já está praticamente definido, para elevar o reservatório de Ilha Solteira”, revela o presidente da ANA.

Em julho de 2015, a concessão da Cesp para administrar a Usina de Ilha Solteira se encerrará. Um possível agravamento da crise poderá ser decisivo para renovar o controle da Companhia Energética à frente da terceira maior hidrelétrica do Brasil. Segundo o governador Geraldo Alckmin, “a Cesp vai avaliar se ela participará ou não da nova licitação”.

Alternativas

Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia, o consumo de energia elétrica no Brasil em 2014 cresceu apenas 2,2%, a menor taxa de crescimento desde 2009.

Um dia após a pane energética, o Brasil precisou importar energia da Argentina. O ONS revelou que cerca de 998 MW, ao longo do dia, foram entregues ao país nos horários de maior pico: das 10h23 às 12h e das 13h às 17h02, para suprir demandas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.

A solução seria procurar alternativas para a geração de energia em outras fontes, principalmente renováveis, como defende o ex-ministro da Pesca Altemir Gregolin: “[A crise] faz pensar o sistema. Essa seca mostrou que nós temos que investir em fontes alternativas como eólica, solar, mas tem que investir para não ficar na dependência. A gente sabe o impacto de grandes usinas. Teve investimento público pesado para usar termelétricas. Eu defendo o uso da energia eólica, energia solar. É preciso reduzir custos para ser competitivo”, afirma.

As unidades capazes de produzir “energia limpa”, como as usinas eólicas e solares, representam, respectivamente, apenas 3,65% e 0,01% da capacidade instalada brasileira. Muitas destas usinas eólicas ainda não conseguem integrar o sistema pelo atraso na entrega de linhas de transmissão.

Segundo o Operador Nacional do Sistema, a geração de energia eólica no país no último dia 30 de janeiro foi de 1.633 MW, apenas 2,28% de toda a energia gerada.

No mesmo dia, as hidrelétricas geraram 63,26% da produção diária (45.280 MW). Grande parte da energia eólica é advinda da região Nordeste, com 1.474 MW. A região Sul produz apenas 159 MW.

A EPE informa que estas novas matrizes serão mais exploradas nos próximos anos, mais precisamente entre janeiro de 2016 e junho de 2017. A EPE cadastrou 570 projetos, ou 14.962 MW, para o Leilão de Fontes Alternativas (LFA) de 2015, marcado para o dia 27 de abril deste ano.

Destes, 530 são usinas eólicas, com capacidade para gerar 12.895 MW, e 40 usinas termelétricas movidas a biomassa (bagaço de cana, lenha, casca de arroz, resíduos de madeira, entre outros materiais). As usinas de biomassa poderão gerar até 2.067 MW.

“Cada vez mais a humanidade tem produzido formas eficientes de geração de energia. No passado, os outros países optaram por matrizes que utilizam combustíveis fósseis, altamente poluentes. O Brasil fez uma opção por matriz hidrelétrica, que é uma matriz limpa, porque é renovável, evidentemente com impactos”, reconhece o presidente da ANA.

Para ele, é hora de procurar alternativas à energia hidrelétrica: “A energia eólica, a solar, maremotriz, geotérmica vão acabar se colocando para que cada vez mais às necessidades de energia no futuro sejam feitas através de matriz limpa”.