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Pai acusa loja de luxo de racismo; empresa diz que caso foi 'inesperado'

André Carvalho

Do UOL, em São Paulo

31/03/2015 18h42

Era um final de semana rotineiro de passeio com o filho em São Paulo. Jonathan Duran, um norte-americano branco de 42 anos, editor no mercado financeiro, tomava um sorvete com seu filho negro, de 8 anos, no último sábado (29), em frente à loja de roupas de luxo Animale, localizada nos Jardins, bairro paulistano de classe média-alta, sem imaginar a situação de tensão racial que viveria naquela tarde. Subitamente, uma vendedora saiu à calçada e disse, de forma ríspida: “ele não pode vender coisas aqui”. Atônito, Duran apenas respondeu: “ele é meu filho”, causando imediato constrangimento à vendedora, que prontamente entrou na loja.

“Minha reação foi de ir embora, eu não queria ficar naquele lugar”, afirmou Duran ao UOL Notícias. Pouco depois, decidiu voltar à loja e entrou no estabelecimento, sendo ignorado pela vendedora. Na calçada, então, tirou uma foto da loja e postou os seguintes dizeres em sua página no Facebook: “O meu filho e eu fomos expulsos da frente desta loja enquanto eu fazia uma ligação porque, em certos lugares em São Paulo, a pele do seu filho não pode ter a cor errada”.

Orientado por um amigo, optou por deixar pública a visualização da postagem, podendo, assim, ampliar o alcance da denúncia. Rapidamente, a publicação viralizou (até às 17h30 desta terça-feira, o post havia tido mais de 2.400 compartilhamentos) e implicando em um pedido de desculpas “muito fraco”, segundo Duran, da Animale.

Em uma publicação do Facebook postada no início da tarde desta terça-feira (31), a Animale definiu o episódio de "inesperado”, ressaltando que a marca “sempre se posicionou de forma democrática em todas as suas expressões” e que conta com uma equipe formada por "profissionais das mais diversas etnias, orientações sexuais e credos”. O comunicado frisa, ainda, que a Animale acredita na “diversidade em todos os sentidos”. 

“Achei que foi basicamente papo de advogado, de relações públicas, foi a única coisa que eu consegui enxergar. Eu não consegui enxergar um pedido de desculpas pela ofensa, pela agressão. E não tem nenhum indício de que vai haver mudanças na administração da rede”, afirmou. No Facebook, ao compartilhar a publicação da marca de moda, escreveu: “É como lamentar que choveu em dia de piquenique”.

Em outras reflexões postadas na rede social sobre o ocorrido, Duran questiona: “Os casos de racismo contra crianças que aparecem na imprensa costumam ser de famílias de classe média-alta/classe alta, e/ou onde pelo menos um dos pais é estrangeiro. E todos os outros casos que acontecem todos os dias?”.

Duran também ressaltou, no Facebook, que o racismo é alimentado “por uma mídia onde negro só aparece como bandido ou coitadinho, nunca como médico, engenheiro, executivo, cientista” e que teme que outros “mal-entendidos” ocorram com seu filho no futuro, “não mais uma vendedora de uma loja, mas com um policial armado”.

Sobre os próximos passos a serem tomados, Duran avalia com cautela a possibilidade de entrar com uma medida judicial contra a Animale: “Preciso ver os prós e os contras desse tipo de ação, eu sei que é um processo muito demorado. E não sei até que ponto eu vou expor meu filho com esse tipo de ação”, disse.

Duran, que afirmou ter vivenciado a dolorosa experiência de presenciar uma agressão racista dirigida a seu filho pela primeira vez na vida, diz esperar, no entanto, que a repercussão do caso sirva para que estas situações não voltem a acontecer. “Espalhei para ter alguma mudança na sociedade, para mudar a forma como meu filho e crianças como ele são vistas. Eu sei que em muitos lugares esse tipo de coisa acontece. Mas eu estou morando em São Paulo e quero mudar a visão social que as pessoas têm na cidade onde a gente mora”.