"Cemitério" de árvores centenárias provoca discórdia em BH

Figueiras com mais de cem anos de existência e que enfeitavam avenidas dos bairros tradicionais de Santa Efigênia e Barro Preto, em Belo Horizonte, viraram dor de cabeça para os mineiros, dividindo a opinião sobre o destino delas.

Plantadas entre 1893 e 1902, 101 espécies de fícus estão doentes e outras 38 morreram pela infestação da mosca-branca-do-ficus, ocorrida em 2013. Proveniente da Ásia, a praga, detectada também no Rio de Janeiro (2009) e em São Paulo (2011), foi combatida pelas órgãos mineiros, sem sucesso. A mosca-branca suga a seiva das folhas, causando desfolhamento contínuo da árvore e deixando galhos e troncos brancos e ressecados.

“Parece um cemitério”, declarou Arnoldo Profeta Júnior, funcionário da unidade da Minas Cirúrgica, loja de material cirúrgico, na avenida Bernardo Monteiro, um dos locais onde as plantas foram atingidas.

“A questão não é a mosca-branca, mas a quantidade delas que infestou essas árvores. O problema foi a superpopulação de mosca-branca que surgiu. As figueiras também já se aproximavam do fim do seu ciclo de vida, são todas árvores centenárias”, diz a gerente de Gestão Ambiental do município, Márcia Mourão Parreira Vital.

Desde então, moradores, prefeitura, ministério público e ambientalistas não se entendem sobre que destino dar ao que já foi uma agradável paisagem mineira.

A Prefeitura de Belo Horizonte pretende lançar edital de concurso nacional para apresentação de projetos para revitalização do local e, assim, resolver o problema.

“As árvores estão com os galhos ressecados e oferecem risco de queda, há necessidade de intervenção. Mas vamos procurar uma solução mais complexa, para manter a ambiência do local, por meio de um concurso nacional. O edital sai nos próximos dois meses”, diz a gerente de Meio Ambiente.

Segundo ela, os troncos e galhos secos e os diversos acidentes que já ocorreram fazem com seja necessária a retirada dessas árvores. “Mas não podemos esperar 20 anos para uma árvore crescer. O principal aspecto do concurso é que teremos de ter um período intermediário, de conformidade”, afirma.

Há, no entanto, quem defenda que as coisas fiquem como está e que a natureza mantenha seu fluxo natural.

"Temos de aprender a lidar com a morte"

“Elas [as árvores] ainda têm uma função ambiental. Mesmo mortas, elas formam o ecossistema. Elas ainda têm muito para dar”, diz a arquiteta Marimar Poblet, diretora de Meio Ambiente da seção mineira do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil) e do participante do movimento Fica Fícus.

A arquiteta explica que as árvores mortas e doentes “fazem parte do ambiente, que vai do microscópico até a macrofauna”. Assim, segundo ela, devem ser preservadas.

“Essas árvores são suporte de muitas vidas. Elas têm que ser deixadas como estão. Temos de compreender e aprender a lidar com a morte”, afirma a ambientalista.

Soma-se a essa intenção de manter as árvores, a questão de que elas são tombadas pelo patrimônio histórico, por terem sido plantadas durante a construção da capital mineira. 

Mas há quem se incomode com esse cenário de desolação. “Não tem mais verde que tinha. Está horroroso. Olha daqui [de dentro da loja] para você ver”, diz o comerciário Profeta Júnior. “Já está morta mesmo [a árvore]. O que vai fazer? Não tem jeito.”

“Trabalho no comércio aqui da região há mais de 20 anos. O lugar nunca esteve tão feio. Por que não pode tirar as árvores e plantar outras?”, questiona.

A gerente da Decolagem, loja de roupas femininas, masculinas e infantis, também instalada na avenida Bernardo Monteiro, Cláudia de Paula, que trabalha há 16 anos na região, faz coro a Profeta Júnior e ainda reclama da sujeira do local.

“Fala com eles [os órgãos públicos] para virem aqui limpar as vitrines. Não é só a feiura e a questão das árvores, mas o pó e a sujeira que eles [órgãos públicos] fazem desde que começou o problema”, afirma.

“Esse movimento todo, só serve para espantar os clientes. Deveriam resolver rápido. Para que conservar árvores mortas? Só serve para machucar as pessoas, que não podem usá-las nem como sombra”, questiona Cláudia de Paula.

Não foram poucas as tentativas de uma solução negociada para o assunto. A promotora de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Histórico e Cultural, Lílian Maria Ferreira Marotta Moreira, disse, por meio de nota, que foram feitas inúmeras reuniões entre membros do MP (Ministério Público), representantes da sociedade civil e a Prefeitura de Belo Horizonte para equacionar a questão, mas não houve acordo.

A promotora ainda informou que, se houver algum risco à população, como risco de queda de troncos e galhos, a prefeitura tem de agir, realizando, inclusive, o isolamento da área.