Campanha por fim de "privilégios" a deficientes no PR era "pegadinha"
O mistério por trás da campanha que pedia o fim dos “privilégios” dos deficientes, por meio de um outdoor em Curitiba e das redes sociais, foi revelado nesta tarde (1). Trata-se de uma campanha publicitária do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoas com Deficiência. “O choque que vocês sentiram é o nosso alívio. Nós colocamos essa campanha no ar e conseguimos chamar a atenção de milhões de pessoas para os nossos direitos”, disse a presidente do Conselho, Mirella Prosdocimo, na página da Prefeitura de Curitiba, no Facebook.
A campanha foi planejada para discutir o Dia internacional das Pessoas com Deficiência, celebrado na quinta-feira (3). “O absurdo na internet durou só um dia, mas as pessoas com deficiência enfrentam esse desrespeito todos os dias. Pedimos que cada um que se revoltou na internet seja uma voz real na luta pelo respeito aos nossos direitos, que não se calem ao ver uma pessoa com deficiência sendo desrespeitada ou discriminada”, disse Mirella. De acordo com dados do Censo 2010, 24% da população do Brasil tem algum tipo de deficiência.
A reação, no entanto, foi negativa. Nas redes sociais da Prefeitura de Curitiba, os comentários foram, em maioria, negativos à ação. “Os fins não justificam os meios. Existem outros meios de chamar a atenção. Péssimo exemplo de ética publicitária. Mesmo que honrosa a tentativa, lamentável a execução”, disse um usuário de rede social. “Dessa vez, acho que não foi uma boa campanha. Acabaram sendo ditas muitas coisas pesadas pelos ‘apoiadores’ e não sei se o impacto foi justamente o contrário”, comenta outro seguidor.
Essas campanhas são conhecidas como teaser – oriundo do inglês “provocação”. Normalmente realizada em outdoors, a ação conta com uma frase polêmica, que depois de um período se revela para a compreensão da mensagem inicial. Para o professor de Ética e Legislação Publicitária da Escola de Comunicação e Negócios da Universidade Positivo, André Tezza, a campanha desrespeita o artigo 48 do Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária).
“Fala-se explicitamente que você não pode mentir na primeira mensagem e não pode abusar da boa-fé do consumidor. Portanto, do ponto de vista do Conar, não se pode fazer esse tipo de campanha”, diz Tezza. Na opinião do professor, a estratégia foi perigosa, polêmica e arriscada. “Trata-se de um momento conturbado do país para uma campanha que fala em restringir direitos em um primeiro momento. Além de poder não ter o efeito esperado, ela usa uma mentira com o propósito de conscientizar. É um paradoxo que muitos não aceitam”, diz.
A campanha entra agora em uma segunda fase, que inclui a mudança na mensagem do outdoor instalado - pichado na segunda-feira (30). O novo painel ganhou uma tarja preta sobre o “fim dos privilégios” e questiona: “Se tantos se revoltaram, por que tantos ainda desrespeitam?”
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