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Quem é Fat Family, o bandido resgatado de hospital no Rio?

Alfredo Mergulhão

Colaboração para o UOL, no Rio

21/06/2016 17h51

Resgatado do Hospital Municipal Souza Aguiar, no centro do Rio de Janeiro, na madrugada do último domingo (19), o traficante Nicolas Labre Pereira Jesus, 28, conhecido como Fat Family, integra uma família de criminosos. O pai, a mãe, um tio e o irmão são ligados ao Comando Vermelho, a maior facção criminosa do Estado, e já foram presos por envolvimento com o tráfico de drogas, roubo e assassinato. Eles atuam no morro Santo Amaro, no Catete, zona sul da capital fluminense. 

Fat Family é acusado de chefiar o tráfico na favela enquanto seu irmão Marcos Antônio Pereira Firmino da Silva, o My Thor, 46, está preso em uma penitenciária de segurança máxima, onde deve cumprir 19 anos de prisão, e seu tio Edson Pereira Firmino de Jesus, conhecido como Zaca, está no Complexo Penitenciário de Gericinó, no Rio, e deve ser transferido nos próximos dias.

Zaca teve a voz reconhecida em um áudio no qual criminosos comemoram o resgate de Fat Family. Ele integra um grupo de 15 traficantes do Comando Vermelho que serão transferidos para presídios federais fora do Rio de Janeiro em represália à ação no hospital.

O pai de Fat Family, Jorge Edson Firmino de Jesus, o "Balote", também foi preso. A prisão aconteceu em junho de 2010, quando Balote estava com um carro roubado em Guapimirim, na região serrana do Rio.

No mundo do crime, o parente mais famoso de Fat Family é seu irmão, My Thor. Ele era chefe do tráfico no morro Santo Amaro e conhecido por usar um machado para decapitar suas vítimas.

A comunidade é considerada um ponto estratégico para a venda de drogas na zona sul do Rio e está ocupada pela Força Nacional de Segurança desde 2012. Na última quarta-feira (15), o Ministério da Justiça e Cidadania prorrogou a permanência das tropas na favela, para atuar em "ações de combate ao tráfico de drogas". "Os profissionais disponibilizados pela Força Nacional atuarão em apoio e sob coordenação dos órgãos locais de segurança pública", informou o ministério.

Entre os crimes cometidos por My Thor, está a ordem para execução da então namorada, a universitária Ruth Menezes Tentuge, em abril de 2001. A jovem foi raptada após uma visita ao traficante no presídio Bangu I, na zona oeste do Rio. Ele desconfiava de uma traição. A estudante foi morta no Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, e seu corpo encontrado em um terreno baldio em Belford Roxo, na Baixada Fluminense.

Histórico criminal

Atualmente, Fat Family responde a apenas um processo judicial por homicídio simples no Tribunal de Justiça do Rio. No entanto, ele possui extensa ficha criminal, inclusive com assassinatos registrados ainda na adolescência, segundo fontes policiais ouvidas pela reportagem. O UOL não conseguiu localizar o advogado que representa o criminoso foragido judicialmente: nem a Polícia Civil nem a Justiça souberam informar quem é responsável pela defesa de Fat Family.

O processo contra Fat Family tramita na 1ª Vara Criminal da cidade do Rio de Janeiro. Ele é réu com mais dois acusados, Fabiano Juvenal da Silva e Luiz Alberto Araújo da Silva. O Tribunal de Justiça não informou o nome da vítima do homicídio. Em audiência de custódia realizada no dia 14 de junho, as detenções de Fabiano e Luiz Alberto foram convertidas de prisão em flagrante para preventiva, mas não houve decisão quanto à conversão da prisão de Fat Family, que estava internado desde o dia 13 no Souza Aguiar, quando foi preso pela Polícia Civil e levou um tiro na cabeça.

Fat Family teria 48 horas para ser apresentado ao juízo, a partir do dia 16, mas está foragido desde o resgate realizado por bandidos armados com granadas e fuzis em uma ação que deixou uma pessoa morta e dois feridos.

O traficante já confessou a participação em um duplo homicídio, acontecido em 22 de novembro de 2010: ele assassinou os sargentos Rui Vieira Lima e Wagner Lanceta Ramos, do 22º Batalhão de Polícia Miliar (Cabo Frio). Os dois policiais foram baleados em uma emboscada na Praia do Barbudo, em Araruama, na Região dos Lagos. Em janeiro de 2011, Fat Family foi preso quando tentava visitar a mãe, Jurema Labre, no morro do Telégrafo, em Benfica, na zona norte do Rio. Ela acabara de ser solta após passar três dias presa por suspeita de participação no tráfico. Contra Fat Family havia um mandado de prisão pela morte dos PMs em Araruama. 

O bandido foi levado para a 19ª Delegacia de Polícia (Tijuca) e, por ser membro de uma família influente no Comando Vermelho, foi preciso pedir reforço no policiamento da delegacia durante a noite que Fat Family passou na carceragem. A Core (Coordenadoria de Operações Especiais) manteve uma patrulha durante a madrugada no local.

A ação de resgate de Fat Family no final de semana também era de conhecimento da cúpula da Secretaria da Segurança desde quinta-feira, quando investigadores da Delegacia de Combate às Drogas captaram em interceptações telefônicas o plano. Segundo a Polícia Civil, a pasta e a PM foram avisadas. A PM informou que não o transferiu porque o hospital alegou que o traficante seria operado nesta segunda-feira (20). A Secretaria Municipal de Saúde nega. Informou à noite que jamais foi pedida a transferência.