Bancário que atropelou 17 ciclistas em Porto Alegre é condenado a 12 anos de prisão
O bancário Ricardo Neis, 53, foi condenado nesta quinta-feira (24), pelo tribunal do júri da 1ª Vara de Porto Alegre, pelo atropelamento de 17 ciclistas em fevereiro de 2011, durante um ato de cicloativistas. Neis foi condenado a 12 anos e nove meses de prisão, em regime fechado, por 11 tentativas de homicídio e cinco acusações por lesão corporal.
A defesa informou, logo após a sessão, que vai recorrer da sentença. Além de não perder o cargo público, Neis, que é funcionário de carreira do Banco Central, poderá recorrer em liberdade da sentença.
O julgamento durou dois dias e contou com uma mobilização intensa dos grupos de ciclismo de Porto Alegre --muitos deles assistiram ao julgamento e se manifestaram durante as mais de 20 horas de sessão.
Dez testemunhas de acusação, a maior parte vítima do atropelamento, ajudaram a recriar o episódio em que o bancário avançou sobre os ciclistas de forma descontrolada e fugiu do local sem prestar socorro. As imagens do atropelamento, na época, foram transmitidas para o mundo todo.
Coube aos promotores Eugênio Amorim e Lúcia Helena Callegari realizarem a acusação para os sete jurados. A estratégia foi mostrar o vídeo do atropelamento várias vezes, como forma de sensibilizar para a gravidade do caso. “Não se trata de um conjunto de malucos, de violentos, de um PCC. Eram pessoas de bem que estavam naquele evento e que foram colhidas de um modo muito covarde, por trás e violentamente, pelo réu”, definiu Amorim.
No dia 25 de fevereiro de 2011, Ricardo Neis avançou em direção a um grupo de ciclistas na rua José do Patrocínio, em Porto Alegre, atropelando dezenas deles. Os ciclistas bloqueavam a rua durante uma manifestação do grupo Massa Crítica. Houve uma discussão entre Neis e os organizadores do protesto.
O carro do bancário foi encontrado abandonado na madrugada seguinte. Ele se apresentou à polícia três dias depois do atropelamento e argumentou que foi cercado pelo grupo. Temendo uma agressão, abriu caminho para proteger a si e ao filho de 15 anos, que também estava no carro.
Neis alegou, na polícia, que agiu em legítima defesa. Preso provisoriamente durante três dias logo após o atropelamento coletivo, o bancário obteve na Justiça o direito de responder ao processo em liberdade.
Segundo o advogado de defesa, Manoel Silveira Castanheira, o réu enfrentou cinco anos e meio de um “constrangimento que não merecia”. Com apenas duas testemunhas a seu favor, o advogado limitou-se a ler depoimentos positivos sobre a personalidade de Neis.
Castanheira citou a perícia policial, que concluiu que nenhuma das vítimas correu risco de vida devido ao atropelamento. E apelou aos jurados: “Coloquem-se no lugar dele: eu saí de casa com intenção de matar?”.
Durante o interrogatório de Neis, que durou mais de uma hora, ele não demonstrou arrependimento e se recusou a responder várias perguntas da promotora Lúcia Helena. Sobre as ameaças que teria sofrido dos ciclistas, disse que percorreu 400 metros da via urbana com manifestantes “cercando e batendo” em seu carro. Também salientou que até hoje toma tranquilizantes e remédios para dormir.
No final do depoimento, a promotora perguntou se Neis se arrependia do que havia feito. O réu não respondeu. “Esperávamos que ele pedisse desculpas à sociedade, desculpas aos ciclistas. Mas o réu continua com a mesma arrogância de sempre. Estamos julgando um egoísta”, disse a promotora.
Na manhã de hoje, uma jurada chegou a cochilar e obrigou o réu a refazer parte do seu depoimento ao juiz. A mulher admitiu o cochilo e recebeu uma xícara de café.
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