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"Como pode ser manipuladora desse jeito?", diz prima de Matsunaga em júri

28.nov.2016 - Elize Matsunaga - Montagem BOL / Reprodução/Futura Press / Nelson Antoine/FramePhoto/Estadão Conteúdo
28.nov.2016 - Elize Matsunaga Imagem: Montagem BOL / Reprodução/Futura Press / Nelson Antoine/FramePhoto/Estadão Conteúdo

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

30/11/2016 13h47Atualizada em 01/12/2016 07h34

Exímios atiradores, conhecedores e apreciadores de vinhos e restaurantes caros, de viagens para o exterior --de duas a três por ano-- e com hábitos exóticos em casa, como a posse de uma jiboia dentro do apartamento.

Assim a empresária Cecília Yone Nishioka descreveu o casal Elize Matsunaga e Marcos Kitano Matsunaga, nesta quarta-feira (30), no depoimento que ela prestou no júri da bacharel em direito. O julgamento acontece desde a última segunda (28) no Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste de São Paulo).

Ouvida como testemunha da acusação, Cecília é prima de primeiro grau de Matsunaga, de quem Elize é ré confessa pelos crimes de assassinato e destruição e ocultação do cadáver, em maio de 2012. A empresária foi madrinha de casamento do primo, tanto no civil como no religioso, e é a madrinha da filha do casal, hoje criada pelos avós paternos.

Ela pediu que a ré fosse retirada da sala e explicou seu motivo assim: “Além de tudo o que ela fez, ela era manipuladora. Como uma pessoa pode ser manipuladora desse jeito? Até hoje eu tenho dificuldades em confiar em alguém graças a ela".

Cecília afirmou que nunca teve acesso a eventuais brigas ou desavenças entre o casal. Contou ter retomado o contato com o primo, depois de anos, quando ele apresentou Elize como sua namorada. A partir daí, relatou, eram frequentes os encontros entre o casal, ela e o então namorado tanto no café de que ela é proprietária, em Moema (zona sul de São Paulo), quanto em jantares, viagens para o exterior ou mesmo em um estande de tiro frequentado por Matsunaga e Elize.

“Eles eram muito bons de tiro. Uma vez eu comi um javali caçado pelo Marcos; outra vez, um animal caçado pela Elize. Em uma das vezes em que atirei com eles, no estande, o Marcos pôs uma lata de Coca Cola no lugar do alvo e me perguntou: ‘Você quer que eu acerte a letra O ou a letra A?’”, narrou.

Cecília disse que soube por Elize que o primo estaria desaparecido --segundo a primeira versão dada por ela à família, ele teria saído de casa, supostamente, em razão de um caso extraconjugal. Depois, quando o corpo foi localizado, seccionado e em sacos de lixo, na Grande São Paulo, Elize ligou para ela e contou que o marido estava morto. Foi a empresária que levou a comadre para a casa de sua tia, mãe de Matsunaga.

“De início, ela estava muito nervosa porque ele teria sumido, mas dava a entender que ele estaria com a amante. Até me mostrou um vídeo com imagens do Marcos com uma mulher, pois tinha contratado um detetive e ele descobriu isso. Mas, no dia em que encontraram o corpo, ela me ligou e disse: ‘Ciça, mataram o Marcos. Ele está morto’”, afirmou. Quando a mãe da vítima relatou que o filho tomara um tiro na cabeça, segundo a testemunha, a reação de Elize foi de desespero: “Ela gritava ‘Ai,meu Deus. Ai, meu Deus’. Ela chorou na minha frente, então minha tia ofereceu ajuda e falou para ela não se preocupar que o Marcos tinha seguro de vida”, recordou.

De acordo com a empresária, Matsunaga “era sempre muito gentil e educado” com a mulher, tanto que, observou, “ele sempre puxava a cadeira para ela se sentar e levantar, nos restaurantes, além de carregar a bolsa dela”. Disse ainda que Elize “sempre se vestiu muito bem”, usava “bolsas Louis Vuitton que ele comprava para ela aos montes, quando viajavam para o exterior”, e “queria realizar todos os desejos dela”. “Ela tinha tudo o que queria, no quesito financeiro”, declarou, citando, além de roupas e acessórios, viagens que a mulher do primo tinha vontade de fazer, como Cancún, no México.

Cecília relatou ainda que Matsunaga enveredava pelo ramo de comércio e leilão de vinhos, tanto que Elize fez curso de leiloeira e sabia os valores dos produtos. Indagada em plenário quanto valiam, citou “entre US$ 1.500 a US$ 100 mil, pois havia vinhos raros também”. Mencionou que o casal consumia, ele próprio, em média, uma garrafa de vinho.

A testemunha pediu para não depor com Elize no plenário --a ré foi retirada. Indagada ao final, pelo juiz Adílson Paukoski, o porquê, disse: “Não quero olhar para a cara dela”.

À defesa da ré, Cecília respondeu que “Elize era uma boa mãe” e admitiu que, hoje, a sobrinha chama a avó paterna de mãe. Ao assistente da acusação, Luiz Flávio D’Urso, relatou que a criança “fez os avós renascerem, já que minha tia ficou muito tempo à base se tranquilizantes”. A testemunha ainda chorou ao se lembrar que teve crises de pânico após a investigação constatar que Elize havia sido a assassina do primo.

“Além de tudo o que ela fez, ela era manipuladora. Como uma pessoa pode ser manipuladora desse jeito? Até hoje eu tenho dificuldades em confiar em alguém graças a ela”, encerrou.

A primeira testemunha hoje a ser ouvida, ainda pela acusação, foi o investigador da Polícia Civil Fábio Luís Ribeiro, que reforçou a alegação do inquérito de que Matsunaga teria sido morto com um tiro de curta distância –o que é dito pelo Ministério Público ao detalhar as agravantes do crime de homicídio.

À tarde, devem ser ouvidos peritos da Polícia Científica. O júri começou segunda passada e pode se estender até o final de semana.