"Deveriam mudar para Tribunal da Injustiça", diz mãe do menino Eduardo sobre arquivamento
Cerca de um ano e meio após a morte do menino Eduardo de Jesus, 10, atingido por um tiro de fuzil na cabeça na frente de casa, no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, a Justiça decidiu na terça-feira (29) pelo arquivamento do processo contra os PMs envolvidos no caso alegando "inépcia" da denúncia e falta de provas. Para a mãe de Eduardo, Terezinha de Jesus, a decisão é uma “grande injustiça” e mostra que o sistema judiciário brasileiro ignora “pretos, pobres e favelados”.
"O policial matou meu filho, não foi o filho de um desembargador, do juiz, do governador. Se tivesse sido, talvez tivéssemos justiça. Mas como foi o filho de uma pobre, de uma preta e de uma favelada encerraram o caso", afirmou, durante um ato organizado pela Anistia Internacional em frente ao Ministério Público nesta quarta (30), em protesto pelo arquivamento do caso. “Deveriam mudar o nome para Tribunal de Injustiça.”
Terezinha, que chegou a trocar o Rio pela sua cidade natal, no Piauí, por medo da violência, voltou à capital fluminense e hoje mora e trabalha como cozinheira em uma chácara em Guaratiba, na zona oeste.
Ela diz seguir com medo, tendo "trocado o tráfico pela milícia" --a região é dominada por milicianos, grupos paramilitares, em geral formados por ex-PMs, que exploram serviços como distribuição de gás e TV a cabo, e que têm presença forte na zona oeste, que concentra boa parte da população mais pobre da cidade.
"Não posso nem usar a camiseta com a foto do meu filho lá", conta.
Dois dos seus filhos acabaram ficando no Piauí; outros dois, trocaram o Alemão por Ramos, bairro vizinho ao Complexo da Maré, também na zona norte da cidade. Uma das filhas, grávida na época da morte do irmão, batizou o filho de Eduardo. “Ele fez um ano”, conta Terezinha.
O inquérito da Polícia Civil, encerrado em novembro de 2015, havia concluído que os policiais agiram em legítima defesa. Segundo o delegado Rivaldo Barbosa, a investigação mostrou que cinco PMs --dois do Batalhão de Choque e três da UPP-- estavam na região conhecida como Areal quando foram atacados por criminosos.
Dois dos policiais que estavam à frente, ambos da UPP, revidaram, atirando com fuzis caibre 762 na direção dos bandidos. Uma dessas balas teria atingido Eduardo, que morava perto e estava a apenas cinco metros dos policiais. Ele morreu na hora. A perícia não conseguiu definir se algum dos dois PMs foi o autor do tiro.
Terezinha diz que não houve tiroteio e questiona a legítima defesa. “Encerraram o caso dizendo que foi legítima defesa, mas meu filho que estava indefeso. Enquanto eu tiver vida, vou lutar por justiça”, afirma.
Em junho de 2015, o governo do Estado indenizou a mãe de Eduardo e a família por danos morais e materiais ao reconhecer a responsabilidade dos policiais na morte. "Foi um erro que ninguém admite", disse à época o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB).
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