Atirador de Campinas cresceu no bairro, conta vizinha de vítimas de chacina
Os moradores da Vila Proost de Souza, em Campinas (SP), acordaram perplexos, neste domingo (1º), com a chacina que deixou 13 mortos na rua Pompílio Morandi. Pouco minutos antes da meia-noite, Sidnei Ramis de Araújo, 46, invadiu uma festa de família atirando nos convidados. Ele matou sua ex-mulher, seu filho de oito anos e outras dez pessoas. Ao final, ele se suicidou.
Pela manhã, os vizinhos tentavam entender o que teria motivado o homem, que cresceu no bairro e era conhecido por muitos.
Nas calçadas e nas garagens, esse era o assunto que dominava os bate-papos. Muitos estavam em choque com o ocorrido e poucos concordavam em conversar com os jornalistas que estavam no local.
"Vocês vão embora daqui a pouco e a gente fica por aqui", justificou uma moradora de 51 anos e que vive há 40 na rua Pompílio Morandi, a poucos metros da casa onde ocorreu a chacina. Sem se identificar, ela contou para o UOL um pouco sobre Sidnei.
"É uma tragédia terrível. A mãe dele passou há pouco tempo por uma cirurgia no coração. O pai também é vivo e agora perdeu, de uma só vez, o filho e o neto. Não dá para entender o que passou na cabeça dele", disse a moradora que estava no portão da casa da vizinha conversando justamente sobre o crime.
Segundo a dona de casa, o atirador cresceu no bairro e era, na infância, muito amigo de seu irmão. Os dois chegaram a servir juntos no Exército. Como Sidnei frequentou muito sua casa, ela estava decidida a não contar nada para sua mãe, de 80 anos, que o conhecia desde pequeno. A moradora contou que, durante muitos anos, o pai do autor da chacina teve uma espécie de mercearia bem na esquina do quarteirão onde fica a casa que virou palco do crime.
"O Sidnei chegou a morar com a mulher dele dentro do comércio por algum tempo. Depois se mudaram", disse. Depois da separação, o atirador era visto raramente no bairro. Sabe-se que vivia em uma vila vizinha e que trabalhava em uma multinacional na cidade de Paulínia.
Segundo a polícia, explosivos foram encontrados junto ao corpo do atirador. O boletim de ocorrência não especifica se estavam em bolsos, mochila ou amarrados ao corpo. O Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) foi chamado ao local e recolheu os artefatos.
O autor do crime utilizou uma pistola de 9 mm com dois carregadores para fazer os disparos contra as vítimas. Sidnei estaria inconformado com o recente processo de separação e com a perda da guarda do filho.
Pouco antes da meia-noite do dia 31, ele teria pulado o muro da residência onde as pessoas estavam. Depois de invadir a festa, ele matou dez pessoas que estavam em um mesmo cômodo. Depois disso, se dirigiu até outro cômodo, em que estavam seu filho e uma mulher. Ele atirou contra os dois e se matou com um tiro na cabeça.
Ao menos três pessoas sobreviveram ao ataque e estão internadas em hospitais da cidade. Outras duas, adolescentes, conseguiram se esconder em banheiros da casa e não se feriram.
Igreja ajudou vizinhos
Uma igreja evangélica que fica em frente da casa em que a chacina ocorreu estava cheia no momento do crime. Na hora do tiroteio, o templo da Igreja Presbiteriana do Brasil contava com 80 pessoas que participavam de um culto de Ano-Novo.
Rafael Luchini, técnico de logística, estava na igreja e contou que, na hora, não conseguiu distinguir os tiros dos fogos de artifício que explodiam no céu do bairro.
"Escutamos os disparos, mas somente o segurança da igreja conseguiu identificar que eram tiros. Quando a polícia chegou, abrimos a porta do templo para auxiliar quem estava ali. Demos água e consolo. Conseguímos dar um certo suporte para quem estava desesperado", contou Luchini que também mora no bairro.
Segundo ele, a Vila Proost de Souza é um bairro tranquilo. Há seis anos vivendo por lá, Luchini nunca tinha ouvido falar de nada parecido.
"Aqui tem furto de carro, essas coisas. Mas tiroteio e assassinato, não. É um bairro sossegado, cheio de famílias. Esse crime acabou com a festa", disse Luchini que pretende participar do culto da noite de hoje para rezar pelas vítimas e pelas famílias envolvidas na chacina.
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