Tiros que mataram jovem em escola no Rio partiram da polícia, diz família
A família da adolescente morta dentro da Escola Municipal Jornalista Daniel Piza, em Fazenda Botafogo, zona norte do Rio de Janeiro, contestou, nesta sexta-feira (31), a afirmação da polícia de que a vítima foi atingida por uma bala perdida durante uma série de assaltos na região. Para os familiares, os disparos partiram dos próprio policiais.
Ontem, na mesma hora e ao lado da escola onde Maria Eduarda Alves da Conceição, 13, morreu, um vídeo flagrou o momento em que dois policiais militares atiram contra dois homens já rendidos e caídos no chão. Os dois policiais foram presos na madrugada de hoje.
O corpo de Maria Eduarda estava no Instituto Médico Legal do Rio na manhã desta sexta-feira. Segundo Anderson Rodrigues, 41, tio da menina, o corpo dela tinha três marcas de tiros.
"Eu fui ao local, a vi morta. Ela tem marca de dois tiros na cabeça e um na nádega. Me explica como três tiros significam bala perdida?”, disse.
A mãe da estudante, Rosilene Alves, 52, auxiliar de serviços gerais, contou que a filha era atleta, dedicada aos estudos e que ia começar nos próximos dias a trabalhar como jovem aprendiz. "Os policiais mataram a minha filha dentro da escola", declarou.
"Mataram meu bebê. Ela dizia que estudava para dar uma vida melhor para gente. Ela tinha um bom futuro pela frente. Estou com o meu coração partido, tiraram parte de mim", declarou.
Maria Eduarda estava no sétimo ano do Ensino Fundamental. A família mora na comunidade da Pedreira, também em Fazenda Botafogo. Ela será enterrada neste sábado em um cemitério no Jardim da Saudade, em Mesquita.
Maria Eduarda estava na aula de Educação Física quando foi atingida. A Polícia Militar informou que o 41° Batalhão foi acionado para conter uma série de assaltos na região. A família nega que tenha ocorrido operação na região.
O diretor da escola, Luiz Menezes, 54, acompanha a família nos procedimentos para liberação do corpo. Ele também negou que estaria ocorrendo uma operação policial na região.
"Era um dia normal. Na semana passada, chegamos a fechar a escola três dias devido a iminência de confrontos. Ontem, foi um dia normal. Estava em reunião quando ouvi os tiros. Começamos uma ação para colocar as crianças em local seguro, mas não deu tempo. Eduarda foi atingida", relatou.
O diretor contou ainda que Maria Eduardo era uma boa aluna. Ele disse que ela chegou “rebelde” ao colégio, mas que foi se transformando ao longo do tempo.
"Ela passava o dia todo na escola. Estudava de manhã e fazia treinos de basquete á tarde. Participava de competições. A gente mesmo levava os alunos para os jogos em nossos carros. A gente via como as atividades eram importantes para eles, como refletia de forma positiva na vida deles", conta Menezes.
Alunos sem aula
Segundo a Secretaria Municipal de Educação, cerca de 12 mil estudantes ficaram sem aula na manhã desta sexta-feira (31) devido aos últimos episódios de violência no Rio de Janeiro. Treze escolas, cinco creches e sete Espaços de Desenvolvimento Infantil estão sem funcionar nas regiões de Costa Barros, Fazenda Botafogo, Acari, Pavuna e Coelho Neto. As unidades são responsáveis por 9.583 alunos.
Unidades de outras regiões da zona norte também ficaram sem aula. Em Manguinhos, dois colégios, uma creche e um espaço de Desenvolvimento não abriram. Ao todo, 1.405 estudantes ficaram sem aula.
Na região do Jacarezinho, cinco unidades ficaram com as portas fechadas e 753 alunos ficaram sem estudar.
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