Vítimas de chacina em MT foram mortas a tiros e facadas; MST fala em tragédia anunciada
Os corpos das nove pessoas mortas na chacina que aconteceu num assentamento na área rural de Colniza --cidade a quase mil quilômetros de Cuiabá, capital de Mato Grosso-- serão necropsiados neste sábado (22), segundo a Secretaria de Segurança do Estado. Todas as vítimas são homens e adultos. Eles foram mortos por tiros ou facadas, segundo a Polícia Judiciária Civil do Mato Grosso.
Quatro peritos da Politec (Perícia Oficial e Identificação Técnica do Estado de Mato Grosso) acompanharam o traslado dos corpos, que aconteceu durante toda a madrugada. Os exames serão feitos em uma área improvisada do cemitério de Colniza. Não há IML (Instituto Médico Legal) na cidade.
Na última quinta-feira (20), indivíduos encapuzados teriam invadido um terreno no distrito de Taquaruçu do Norte e atiraram, matando ao menos nove pessoas. Até o momento, dois corpos foram identificados: Samuel Antônio da Cunha e Francisco Chaves da Silva. Os dois eram naturais de Rondônia.
A área onde ocorreu a chacina fica a cerca de 200 quilômetros da área urbana, é de difícil acesso e a telefonia é precária. Segundo a CPT (Comissão Pastoral da Terra), cerca de 100 famílias moram na gleba Taquaruçu do Norte, que há mais de dez anos é cenário de conflitos e violência. Segundo a Pastoral, outros assassinatos e agressões já ocorreram no local.
Para o transporte dos corpos até Colniza, foram utilizados cinco carros da Polícia Militar e um da Polícia Civil, mais cinco caminhonetes, dois barcos e um avião, segundo a secretaria. Os corpos chegaram pouco antes das 10h --hora local-- deste sábado em Colniza.
Equipes da CPT estão se dirigindo para o local da chacina para averiguar a situação. Há moradores do assentamento que ainda estão desaparecidos.
As vítimas seriam de Rondônia e Guariba, um distrito de Colniza, segundo os investigadores. Os nomes dos mortos devem ser divulgados na tarde deste sábado.
Há denúncias sobre a existência de grupos fortemente armados que fazem a segurança dos fazendeiros da região e ameaçam pequenos agricultores que se recusam a deixar o local.
Conflitos antigos
A região tem sido palco de vários conflitos por terra. Em 2014, o Presidente da Associação de Produtores Rurais Nova União, Josias Paulino de Castro, 54 anos, e sua mulher, Ireni da Silva Castro, 35 anos, foram assassinados. Os corpos foram encontrados crivados de tiros de arma de fogo 9 mm, que é de uso restrito.
"Os dois foram baleados na cabeça e Ireni ainda levou um tiro na mão", disse um policial. O casal iria realizar várias denúncias à ouvidoria Agrária Nacional e foram vítimas de uma emboscada. Em 2011, 700 famílias foram expulsas da mesma área. Não houve mortes.
A Fetagrii-MT (Federação dos Trabalhadores da Agricultura), em nota, lamentou "o agravamento do clima de tensão na região", e cobrou providências das autoridades responsáveis. Até o presente momento, o assassinato do casal em 2014 não foi solucionado, o que preocupa a entidade. A Federação cobra apuração dos fatos e a severa punição aos responsáveis pelos crimes, para evitar que outros casos ocorram em outras regiões do estado. A entidade afirma na nota que a certeza da impunidade acaba "ceifando vidas de trabalhadores e trabalhadoras rurais no estado".
A chacina de Colniza ocorre justamente na semana em que se relembra o massacre de Eldorado dos Carajás, que há 21 anos matou 19 trabalhadores rurais, no Pará.
Em nota divulgada neste sábado (22), o MST (Movimento dos Sem-Terra) disse que não pode se calar "diante de tão grande dor" e falou que a chacina foi uma "tragédia anunciada". "Que nossa indignação alcance os responsáveis diretos e indiretos por este massacre, e que este não seja mais um caso de impunidade e que o estado não seja novamente conivente com os assassinos".
(Com Agência Brasil e Estadão Conteúdo)
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.