Refinaria abortada pela Petrobras cria cenário de cidades fantasmas no MA
O sonho de ganhar a maior refinaria da América Latina levou os municípios de Bacabeira (a 61 km de São Luís) e Rosário (a 69 km da capital maranhense) a viver dias de prosperidade, mas isso durou apenas até o início de 2015.
No dia 28 de janeiro daquele ano, em meio à crise e às denúncias de corrupção, a Petrobras anunciou o cancelamento da obra. Quase dois anos e meio depois, a região coleciona construções abandonadas, que mais lembram cidades fantasmas, ao lado do que seria a refinaria Premium 1.
"Investi o que tinha e o que não tinha para construir 20 quitinetes e alugar a trabalhadores. Pago até hoje e não tive retorno nenhum. Virou um elefante branco", conta Helena Maria de Souza, 56, empresária de Rosário. "Quando olho, me dá tristeza", completa.
A área onde seria erguida a refinaria equivale a 250 campos de futebol e foi toda tratada para receber o empreendimento. Mesmo sem erguer tijolos, a preparação e as indenizações custaram R$ 2,6 bilhões (valores atualizados) entre 2008 e 2014. Após o aterro e a destruição da vegetação, que causaram um dano ambiental considerado irreversível, a área está tomada pelo mato.
Helena e o marido já eram donos de um restaurante e de um hotel em Rosário. No início da década, ela diz que a chegada de trabalhadores e o avançar da obra alavancaram a economia da cidade e os inspiraram a investir.
"Quando começou a obra, alugamos o hotel para a construtora, e o tempo todo eles diziam que investisse, que ia ter retorno. Então, o que ganhei com o aluguel investi [nesse negócio]. Poderia ter guardado, mas fui cair nessa besteira", diz.
Ainda pagando pela obra, ela revela que apenas duas das 20 quitinetes estão alugadas. "Não sei nem o que fazer. Aqui no comércio está tudo parado. Tem dia que dorme eu e meu marido só no hotel. Hoje mesmo só tem dois hóspedes, e temos 16 quartos", afirma.
Cenário fantasma
O UOL visitou as duas cidades e viu um cenário de prédios inacabados e abandonados por toda a BR-402, que liga as duas cidades e onde seria erguida a refinaria --que deveria ter entrado em operação em 2015.
Em muitos trechos, as construções fechadas e inacabadas lembram uma cidade fantasma. "Tá tudo parado, não tem serviço para ninguém. Muita gente foi embora. Se não fosse a minha roça, não teria do que viver", conta o agricultor Sidnei Vieira, 34, que foi um dos desalojados pela obra da refinaria e recebeu terras e uma casa da Petrobras.
Hoje, ele e mais cerca de 40 famílias moram no conjunto Val Paraíso, em Rosário. "Deram essa terra, mas não serve para plantação porque é uma área alagada, não segura nada que plante. A terra boa era a que eles tiraram de nós", afirma Rosmino dos Santos, 55.
O local da obra é protegido por seguranças, e o acesso --também protegido por cercas-- é proibido. Por ora, não há informações sobre o que o será do local, que foi terraplanado e está inutilizado para a agricultura.
"Veio muita gente de outras cidades que imaginava ganhar dinheiro", conta Raimundo da Silva, 58, que mora em Bacabeira, em frente à obra. "Era muita gente aqui, animou o comércio, mas acabou tudo."
Entre os moradores, o anúncio da Petrobras caiu como uma bomba. "Todo mundo se frustrou demais, todos esperavam viver dias melhores", completa a mulher de Raimundo, Antônia Almeida, 54.
Governo busca novos parceiros para projetos
Procurada, a Petrobras informou apenas que o projeto das refinarias Premium 1 e 2 "não constam no seu Plano de Negócios e Gestão 2017-2021 e não há intenção de participar como sócia em eventual retomada do projeto".
A empresa não informou o que será feito da área e disse não ter conhecimento de ações individuais de ressarcimento relacionadas ao cancelamento da obra.
Já o governo do Estado garante que não desistiu da proposta e busca parceiros para levar adiante a obra. Há também outras ideias para as cidades, como um parque ecológico que será erguido na cidade de Bacabeira.
Além disso, o governo informou que já possui memorandos assinados com empresas e que vai anunciar projetos em breve quando tiver algo "mais concreto".
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