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"Dói bastante perder uma criança que mal chegou ao mundo", diz tio-avô após naufrágio

Bebê de seis meses é sepultado após naufrágio em Mar Grande - XANDO PEREIRA/AGÊNCIA A TARDE/ESTADÃO CONTEÚDO
Bebê de seis meses é sepultado após naufrágio em Mar Grande Imagem: XANDO PEREIRA/AGÊNCIA A TARDE/ESTADÃO CONTEÚDO

Alexandre Santos

Colaboração para o UOL, em Salvador

25/08/2017 12h18Atualizada em 25/08/2017 17h16

“Sinto por todas as vidas que se foram. Só que dói bastante perder uma criança que mal chegou ao mundo.” A afirmação é do instrutor de música Juarez da Cruz Santana, 36, que perdeu o sobrinho-neto recém-nascido no naufrágio que deixou ao menos 18 mortos na manhã de quinta-feira (24) na baía de Todos os Santos, próximo a Salvador (BA). Na quinta à noite, a prefeitura de Salvador chegou a anunciar o encontro de mais dois corpos, mas a informação foi corrigida na manhã de hoje.

O menino Davi Gabriel Monteiro Coutinho, de seis meses de vida, estava no colo da mãe quando a embarcação Cavalo Marinho 1 naufragou cerca dez minutos após deixar o terminal marítimo de Mar Grande, em Vera Cruz (Grande Salvador).

Santana afirmou que no dia do acidente, a mãe de Davi, Ana Paula Monteiro, 27, acordou mais cedo que o habitual. A família mora em Vera Cruz e a dona de casa, que é sobrinha dele, não queria se atrasar para a consulta médica do bebê, que passaria por exames em Salvador.

Santana disse que Ana Paula pretendia pegar a embarcação das 5h30 para a capital, mas acabou se atrasando e partiu na que saiu às 6h30.

“Ela não ia pegar a lancha que virou, já que estava cheia. Mas um rapaz que trabalha no terminal segurou na mão dela e disse que ela poderia embarcar porque a lancha era segura”, afirmou Juarez. Além de Davi, Ana Paula viajava acompanhada de sua mãe e de sua outra filha, Milena Evellyn Santana, 4.

Segundo Santana, Ana Paula disse que seu bebê foi jogado para fora do barco após ser atingido por uma pessoa que se desequilibrou e caiu no mar. Em seguida, os demais passageiros também caíram na água.

“No vaivém, essa senhora caiu por cima de Davi, que caiu no mar junto com ela”, afirmou Santana. “Quem sabia nadar se salvou. Quem não sabia...”, disse ele.

Resgate

Ana Paula também afirmou que acabou sendo separada dos filhos durante o resgate, segundo Santana. As crianças foram levadas pelas equipes de resgate para Salvador. Já Ana Paula e a mãe foram levadas para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Vera Cruz.

No terminal marítimo da capital, uma tia das crianças, Jane da Cruz Santana, 39, acompanhou o socorro. Ao desembarcarem, ambos foram prontamente atendidos por uma equipe do Samu. Davi, porém, não resistiu. O menino foi velado nesta sexta-feira (25), no Cemitério do Santíssimo, no município de Vera Cruz (Grande Salvador).

Santana disse ter visto "cenas muito tristes" e afirmou que as equipes de resgate teriam demorado para chegar ao local do naufrágio. Segundo ele, o acidente ocorreu por volta de 6h40 da quinta-feira, mas o socorro só teria chegado por volta das 9h.

A Astramab (Associação dos Transportadores Marítimos da Bahia), que administra as embarcações, nega que tenha havido demora no socorro às vítimas.

“Assim que fomos acionados, providenciamos o resgate. Tanto que, quando cheguei no terminal, em tono das 7h15, as equipes já tinham se deslocado”, afirmou à reportagem Jacinto Chagas, presidente da entidade.

Segundo ele, além de arcar com as despesas de funeral, a empresa prestará assistência psicológica às famílias. “Logo que tomou conhecimento do acidente, a Astramab, juntamente com os operadores da travessia Salvador-Mar Grande, mobilizou os serviços de atendimento médico, Samu, Corpo de Bombeiros, a Defesa Civil, entre outros”, afirmou a entidade, em nota.

Chagas disse ainda que, embora operasse há mais de 50 anos, a embarcação estaria funcionando de acordo com a legislação e normas exigidas pelos órgãos competentes.

“Toda a documentação exigida pela Capitania dos Portos está em dia, incluindo certificado de vistoria”. afirmou.

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