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Canabidiol é mais aceito por ter menos efeitos colaterais do que o THC, diz cientista

Estufa da Abrace, que produz óleos medicinais de maconha - Abrace/Divulgação
Estufa da Abrace, que produz óleos medicinais de maconha Imagem: Abrace/Divulgação

Tarso Araújo

Agência Pública

28/08/2017 13h53

O debate sobre o uso medicinal da cannabis ganhou força graças ao uso de óleos ricos em canabidiol (CBD) para o tratamento de convulsões em pacientes com epilepsia de difícil controle.

O primeiro estudo a comprovar esse potencial terapêutico foi realizado pelo psicofarmacologista brasileiro Elisaldo Carlini, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), em publicação de 1980. Mas a cannabis medicinal tem sido usada para tratar sintomas de diversas outras condições --dores crônicas, esclerose múltipla e náuseas causadas por quimioterapia são as mais bem comprovadas cientificamente-- e muitas de suas propriedades terapêuticas são atribuídas ao THC.

O princípio é conhecido pelo seu uso recreativo e causa os efeitos mais conhecidos --relaxamento, olhos vermelhos e aumento de apetite--, mas também é anticonvulsivante.

É ele o principal componente dos óleos artesanais produzidos clandestinamente no Brasil, já que as variedades da planta são geralmente cultivadas para uso recreativo.

O THC é o responsável pelo potencial da maconha para causar dependência, problemas cognitivos e de memória. Por isso, alguns médicos se recusam a prescrever óleos de maconha.

“O canabidiol (CBD) é mais aceito por causa da esperança de um perfil de menos efeitos adversos”, diz o psicofarmacologista Fabrício Pamplona, diretor científico da Entourage, empresa autorizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a pesquisar os fins medicinais da planta. Segundo o cientista, “o THC é um anticonvulsivante mais potente que o canabidiol, mas, em doses altas, pode ter efeitos adversos. Em doses muito altas, pode até aumentar as convulsões”.

Com uma dosagem adequada, os efeitos do produto nacional são tão bons ou melhores do que do importado, segundo a farmacologista da UFPB Katy Gondim. Ela monitora mais de 50 pacientes que usam extratos clandestinos.

“De modo geral, os benefícios são excelentes no caso das epilepsias de difícil controle”, diz Katy. “Os pacientes reduzem de forma muito significativa as crises convulsivas e reduzem o uso de anticonvulsivantes tradicionais, que são muito tóxicos para os rins e o fígado. Alguns chegam a abandonar completamente o uso dessas outras drogas.”

O neurologista Eduardo Faveret, chefe do Departamento de Epilepsia do Instituto do Cérebro, no Rio de Janeiro, também acompanha pacientes que usam com sucesso óleos ricos em THC. Mas recomenda que se misture o tratamento com canabidiol.

"Existem diversos trabalhos mostrando que o CBD tem efeitos antipsicóticos e ansiolíticos que equilibram efeitos adversos que o THC pode causar em altas dosagens", diz.