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"Meu filho pergunta quando os tiros vão parar": o que pensam os moradores da Rocinha

22.set.2017 - Moradores bebem e jogam sinuca dentro da Rocinha, no Rio - Hanrrikson de Andrade/UOL - Hanrrikson de Andrade/UOL
Moradores bebem e jogam sinuca dentro da Rocinha
Imagem: Hanrrikson de Andrade/UOL

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

22/09/2017 21h01Atualizada em 22/09/2017 23h25

"Meu filho tapa os ouvidos e pergunta quando os tiros vão parar". Assim Fabrícia Ferreira, moradora da favela da Rocinha, descreveu os momentos de pânico provocados pelos tiroteios, que se intensificaram desde o último fim de semana por conta de uma disputa entre traficantes rivais na comunidade da zona sul do Rio.

O conflito levou à reação da Polícia Militar e das Forças Armadas, que realizaram nesta sexta-feira (22) uma grande operação para reprimir o tráfico de drogas e os atos de violência na comunidade. O cerco contou com uma ação ostensiva do Exército, que mobilizou 950 homens e vários blindados.

Fabrícia mora em uma região conhecida como Cidade Nova, que, segundo ela, fica em frente ao local onde houve um intenso confronto entre bandos rivais de criminosos, no último domingo (17). A moradora afirmou que tudo começou durante um baile funk.

"Eram muitos homens armados, disparando para todos os lados. Foram cenas horríveis. Vi gente sendo baleada, caindo no chão, caindo da moto", narrou.

22.set.2017 - Fabrícia Ferreira, moradora da Rocinha, descreve os momentos de pânico provocados pelos tiroteios, - Hanrrikson de Andrade/UOL - Hanrrikson de Andrade/UOL
Fabrícia Ferreira, moradora da Rocinha, descreve os momentos de pânico provocados pelos tiroteios
Imagem: Hanrrikson de Andrade/UOL
Mãe de um filho de três anos, ela afirmou que sua reação automática foi pegar a criança e se jogar na sala, onde existiria mais segurança contra uma eventual bala perdida. "Eu virei para o meu filho e disse: 'Filho, calma que o barulho já vai passar'. Foi uma experiência horrível, mas a gente estava até acostumado. A diferença é que agora está muito mais pesado."

"Dez minutos antes disso, meu marido tinha acabado de sair para trabalhar. Foi uma sorte grande, porque o tiroteio poderia ter começado justamente na hora de ele sair. Felizmente tinha pouca gente na rua nesse dia, apesar do baile. A pracinha [local do confronto] costuma ficar cheia em dia de domingo", completou.

Fabrícia afirmou ainda temer que o filho possa criar algum tipo de distúrbio por conta do sentimento de insegurança na comunidade. "Eu já tinha o colocado no psicólogo antes, justamente por isso. Agora mesmo é que eu não tiro", disse.

Durante a ação desta sexta na Rocinha, os moradores circulavam normalmente pelas ruas, becos e vielas, apesar da instabilidade na região. Como a circulação de motoboys foi vetada pela Polícia Militar, muitas pessoas que chegavam do trabalho tiveram que subir a pé. "Caminhando a gente chega", comentou em tom de brincadeira Laura Macedo, moradora do alto da comunidade.

Questionada sobre os confrontos na favela, ela preferiu não comentar: "Aqui a gente não tem olhos nem ouvidos."

Nos arredores de um local conhecido como "curva do s", moradores bebiam cerveja e jogavam sinuca, em uma cena típica de fim de tarde de sexta-feira. A reportagem do UOL esteve no local e conversou com um deles. "O pior de tudo é saber que semana que vem volta tudo. Não tinha UPP aqui? Então, por que deixaram acontecer essa situação? Eu não acredito em mais nada", relatou um deles, que optou por não se identificar.

Ao percorrer as ruas da favela em direção ao alto da comunidade, a reportagem observou parte do comércio fechada. Havia um grupo de militares praticamente a cada esquina do acesso pela Estrada da Gávea no sentido da Rua 2, além de bloqueios em pontos estratégicos. "A única coisa que eu quero saber é quando a gente vai voltar a ter paz", afirmou o dono do bar localizado próximo à "curva do s".

Um morador ouvido pelo UOL relatou como foram as horas que antecederam a chegada das Forças Armadas. Segundo ele, houve um intenso tiroteio pela manhã, entre 7h e 12h, em um local no alto da favela conhecido como Laboriaux. Traficantes escondidos em uma mata teriam trocado tiros com policiais militares do Batalhão de Choque e do Bope (Batalhão de Operações Especiais), que passaram o dia fazendo incursões pela Rocinha a fim de preparar o terreno para a operação em conjunto com o Exército.

"Muita gente acordou com os tiros", disse o morador.