Topo

Moradores da Rocinha denunciam invasão de casas por policiais em busca de traficantes

23.set.2017 - Policiais fazem operações desde segunda-feira (18) na Rocinha - Rommel Pinto/Agência Estado
23.set.2017 - Policiais fazem operações desde segunda-feira (18) na Rocinha Imagem: Rommel Pinto/Agência Estado

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

24/09/2017 16h09Atualizada em 24/09/2017 16h09

Moradores da Rocinha, comunidade da zona sul do Rio de Janeiro, denunciaram arbitrariedades por parte da polícia que, desde a última segunda-feira (18) faz operações diárias na favela. A partir da última sexta-feira (22), o efetivo policial ganhou o reforço de 950 militares das Forças Armadas, que fazem a segurança nos acessos à comunidade. Até o começo da tarde de hoje, o clima era de aparente tranquilidade na favela após fim de semana violento.

Moradores relataram que casas foram arrombadas por policiais que fazem buscas por traficantes na região. Nas redes sociais, foram compartilhadas fotos de portas arrombadas, casas reviradas e relatos de agressões verbais e físicas, além de roubo de pertences pessoais, como celulares e tênis.

Neste domingo (24), o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, afirmou desconhecer informações sobre invasões de residência na Rocinha. "Eu não tenho informação sobre isso. Estou em contato permanente com muitos moradores que conheço da Rocinha. A PM, com o Batalhão de Choque, o Batalhão de Operações Especiais, o Batalhão de Cães, fica o tempo que for necessário para continuarmos com as apreensões de drogas e fuzis e levar paz àquela comunidade. Ainda tem muita informação que chega ao setor de inteligência", declarou.

Rocinha casa revirada - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Moradores postaram em rede social fotos de casas reviradas
Imagem: Reprodução/Facebook

No sábado (23), o secretário de Segurança, Roberto Sá, disse que estuda encaminhar à Justiça um mandado de busca coletivo na comunidade. Segundo ele, a polícia avalia "o melhor momento" para tomar a medida, considerada polêmica.

O UOL encaminhou à Polícia Militar as denúncias de invasões de residências na manhã deste domingo. A assessoria de imprensa da corporação afirmou que a corregedoria só responderia a partir desta segunda-feira (25).

Caveirão atropela moto

Na manhã de sábado (23), o mototaxista Henrique Borel Gonçalves de Araújo foi à delegacia registrar ocorrência contra policiais do Batalhão de Choque.

Henrique teve a moto danificada por um veículo blindado da PM na localidade conhecida como Largo no Boiadeiro. O mototaxista de 20 anos contou que os policiais avançaram na via com o "caveirão" (como é chamado veículo blindado da polícia) e não esperaram as motos serem retiradas do caminho. Naquele momento, a comunidade não registrava tiroteio.

O jovem disse que depende da moto para o sustento da família. Comprada há um ano e sete meses, a moto custou R$ 7.500. O modelo CB 300 do ano de 2014 foi comprado com ajuda de um tio que trabalha como entregador em uma pizzaria da região.

"[A polícia] Saiu atropelando. Quebrou tudo. Nem sei o que vou fazer da minha vida. Tenho um filho de um ano. Minha mãe está desempregada. A mãe do meu filho também. Sem moto, não consigo trabalhar."

Outra moradora que preferiu não ser identificada na reportagem criticou o trabalho dos policiais na favela. "Eles não sabem falar. É tudo na base da ignorância. Acham que todo mundo é bandido e não merece respeito", lamentou.

Durante o fim de semana, quando foram registrados tiroteios na Rocinha, o clima era de apreensão. Uma moradora, que também preferiu não se identificar, foi ao mercado com a intenção de estocar alimentos em casa e evitar circular pela favela.

"Não sei como vão ficar as coisas por aqui. Sou doméstica. Já avisei aos patrões que não vou trabalhar na segunda. Vou comprar o necessário para não precisar sair de casa nos próximos dias. Não sei o que esperar."

Polícia busca 29 suspeitos

Segundo a Polícia Civil do Rio, 18 novos mandados de prisão foram expedidos entre sexta e este sábado. Com isso, 29 pessoas são procuradas na região --outros 11 mandados de prisão contra suspeitos de tentar invadir a Rocinha já haviam sido autorizados pela Justiça.

Ao menos seis suspeitos foram presos. Um dos mandados é contra o traficante Celsinho da Vila Vintém, que já está preso. O criminoso, que é um dos fundadores da facção ADA (Amigos dos Amigos), que domina a Rocinha, é acusado de ter organizado a invasão à favela no último domingo.

Condenado a mais de 30 anos de prisão por crimes como tráfico de drogas, homicídio, corrupção, sequestro, cárcere privado e ocultação de cadáver, o traficante está preso há dez anos e meio. Desde 2014, o traficante cumpre pena em presídios federais. Hoje, ele está na Penitenciária de Porto Velho, em Rondônia, mesmo local onde está Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha.

Além de Celsinho, também tiveram as prisões decretadas Emerson Brasil da Silva, o Raro, chefe do tráfico da Pedreira, em Costa Barros, zona norte, e Leonardo Miranda da Silva, o Léo Empada, apontado como o homem designado pela facção para chefiar o bando que saiu do São Carlos para retomar a Rocinha.

Os outros traficantes com mandados de prisão pela invasão são Lásaro Lima Jorge, Josué Neves Alves, Vinicius dos Santos Mascarenhas, Washington de Jesus Andrade Paz, Marcos Paulo Guedes Facundo, Thiago Silva Mendes Neris, Thomaz Alves Da Silva, José Ribamar Monteiro de Oliveira, Jhonatan Porto Pessanha, Romário Pereira, Emerson Estevão dos Santos, José Carlos De Souza Silva, Felipe Melo de Assis Braga e Joel Souza Mendes.