Após confrontos e fuga de traficantes, Rocinha tenta retomar rotina neste domingo
A favela da Rocinha, que há uma semana vive confrontos desencadeados por disputa de traficantes rivais, amanheceu neste domingo (24) em clima de aparente normalidade. Após um sábado (23) de tensão --três suspeitos mortos, um adolescente ferido, nove homens presos e ao menos 18 fuzis apreendidos--, moradores esperam que a violência tenha dado trégua.
No acesso à parte baixa da comunidade, patrulhado por militares das Forças Armadas, o comércio abriu, mas o movimento de moradores estava abaixo do comum, com ruas vazias, conforme verificou a reportagem do UOL na manhã de hoje. Cerca de 20 turistas franceses foram até a passarela em frente à Rocinha, mas por motivo de segurança decidiram não entrar na comunidade.
Foi preso na tarde deste domingo Emanuel Bezerra de Araújo, 19. Contra ele, há dois mandados de prisão --o último foi expedido na semana passada. Policiais chegaram até ele por meio de denúncia de moradora entregue por escrito aos policiais. Ele está ferido na mão direita. Araújo disse, no momento da prisão, que o tiro foi dado propositalmente pelo traficante Rogério 157, apontado como pivô dos conflitos na Rocinha.
Houve intensa troca de tiros no início da tarde de sábado, depois de registro de tiros durante a madrugada. A Polícia Militar trocou tiros com suspeitos em pontos do Alto da Boa Vista, Tijuca e Santa Teresa. Nos dois primeiros casos, a Polícia Civil confirmou a suspeita de vínculo com os conflitos na Rocinha.
No Alto da Boa Vista --bairro que liga as zonas sul e norte por meio do Parque Nacional da Tiijuca--, dois homens foram mortos e dois, presos, segundo a Polícia Civil. Foram apreendidos dois fuzis. Um adolescente de 13 anos foi baleado e levado para o Hospital Souza Aguiar. Na Tijuca, uma pessoa foi morta em confronto com a PM e outra, presa.
A suspeita é de que traficantes estejam se escondendo nas matas do Parque Nacional da Tijuca durante os tiroteios para se esconder do cerco policial e dos militares que sobem a Rocinha.
Um dos principais protagonistas dos confrontos entre os traficantes, Rogério Avelino, o "Rogério 157", tinha saído do local e conseguiu voltar para a favela, mesmo com o cerco realizado pelas Forças Armadas desde o meio da tarde de sexta-feira (22).
O traficante Rogério 157 voltou à Rocinha na madrugada de sábado, por volta das 4h, em um táxi, cujo motorista havia sido feito refém por integrantes de sua facção.
Um grupo de homens armados ordenou que um taxista (que teve a identidade preservada) os levasse ao Horto para que lá pegassem Rogério 157 e o traficante Jaílson Barbosa Marinho (o "Jabá", braço direito de Rogério) para levá-los novamente à Rocinha. O Disque-Denúncia aumentou a recompensa para quem der informações sobre o traficante Rogério 157 para R$ 50 mil.
Segundo a Secretaria de Segurança, o Bope (Batalhão de Operações Especiais) montou um cerco na saída do túnel Zuzu Angel, após ser comunicado sobre uma perseguição de policiais do 23º BPM a um táxi com criminosos armados. Houve confronto. Os bandidos fugiram. Foram apreendidos cinco fuzis, 55 carregadores, 2.055 munições de diversos calibres, 110 papelotes de erva seca e 1.045 cápsulas de pó.
Em outra ocorrência, por volta das 4h30 de sábado, homens armados tentaram romper bloqueio do cerco estabelecido pelas Forças Armadas na comunidade, nas proximidades da rua General Olímpio Mourão Filho. O Exército prendeu quatro suspeitos que estavam no veículo, um Renault Symbol, e apreendeu um fuzil AK47 e quatro carregadores. Eles fizeram um motorista refém em seu carro para tentar entrar na favela.
Cinco granadas também foram apreendidas na manhã deste sábado na Rocinha. No Morro do Caju, comunidade da zona norte, foram apreendidos outros dez fuzis que, segundo a polícia, seriam levados para a Rocinha.
??ASSISTA esta importante apreensão, que policiais do #BOPE acabam de fazer na #Rocinha.#ValorizeQuemTeProtege #Denuncie pic.twitter.com/
— PMERJ (@PMERJ) September 23, 2017
Exército faz cerco
Militares das Forças Armadas e blindados entraram na sexta-feira nos principais acessos da Rocinha para reforçar a segurança na comunidade e apoiar a ação da Polícia Militar. Ao todo, 950 militares, além de blindados, foram deslocados para a região. Mais três batalhões do Exército, que somam quase 3.000 homens, estão prontos, caso a situação se agrave.
Segundo o secretário de Segurança, Roberto Sá, a operação "não tem hora para acabar". Ele negou que o Rio de Janeiro esteja em guerra. O Estado tem uma "situação de violência urbana difícil", avaliou Sá, destacando a topografia e a existência de facções de traficantes e milícia que disputam território com uso de armamento de guerra.
*Colaboração de Marcela Lemos
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