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Rogério 157 fatura R$ 100 mil por mês com extorsão a mototaxistas na Rocinha, diz PF

23.set.2017 - Mototaxistas observam movimentação de tropas do Exército em um dos acessos à Rocinha - Marcos Arcoverde/Agência Estado
23.set.2017 - Mototaxistas observam movimentação de tropas do Exército em um dos acessos à Rocinha Imagem: Marcos Arcoverde/Agência Estado

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

26/09/2017 04h00

A taxa paga por mototaxistas da Rocinha a mando de Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, faz o chefe do tráfico de drogas na favela da zona sul do Rio de Janeiro lucrar cerca de R$ 100 mil por mês. A informação foi revelada pelo também traficante Edson Antônio da Silva Fraga, o Dançarino, em depoimento à Polícia Federal, depois de ele negociar sua rendição e se apresentar na sede da PF, na última sexta-feira (22), horas antes do início de um cerco militar à comunidade. Contra ele havia mandados de prisão.

Dançarino pertence ao grupo rival de Rogério 157, formado pelos criminosos leais a Antônio Bonfim Lopes, o Nem, que ditava as ordens na região até ser preso, em 2011 --atualmente, ele cumpre pena na penitenciária federal de Porto Velho (RO). Mesmo detido, Nem teria sido o mandante de uma tentativa de invasão à Rocinha, que ocorreu na madrugada de 17 de setembro e deu origem a uma série de confrontos. O objetivo era reassumir o controle do tráfico na comunidade.

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Desde então, a favela vem sendo palco de uma sangrenta disputa entre as duas quadrilhas, o que provocou um racha na facção ADA (Amigos dos Amigos). Rogério acabou saindo da ADA e migrando para outro grupo, possivelmente o CV (Comando Vermelho). A PF ainda não identificou o destino exato do chefão do tráfico na Rocinha, mas confirmou o rompimento.

Rogério 157 - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

O principal motivo da briga, explicou ao UOL o chefe da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes), delegado Carlos Eduardo Thome, foi justamente a criação de "taxas de serviço" para moradores e comerciantes. Os tributos instituídos pelo comando de Rogério 157 que, além da taxa que permite a operação dos mototaxistas, aplicam-se à distribuição do gás de botijão, à venda de água, entre outros serviços, causaram a fúria de Nem, que era conhecido pelo perfil assistencialista.

"O Rogério 157 estava implantando uma verdadeira milícia na favela da Rocinha. E isso, a facção, o chefe do tráfico, que é o Nem, não concordava. A partir daí, começou o desentendimento entre os criminosos", disse Thome.

O estopim do conflito entre os dois ocorreu em agosto, quando o atual chefe da Rocinha ordenou o assassinato de dois dos principais aliados de Nem: Ítalo Jesus Campos, o Perninha, e Robson Silva, o 99 --a dupla estava na linha de sucessão imediata, caso Rogério 157 viesse a ser morto ou preso. No mesmo contexto, um dos seguranças de Perninha, Wellington Nascimento, conhecido como Vasquinho, também foi assassinado.

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"Os dados indicam que o Nem estava muito insatisfeito com a forma como o Rogério vinha conduzindo o tráfico na região efetuando cobranças com moradores e com os mototaxistas. Se o mototáxi não pagasse de forma devida, ele mandava quebrar a moto das pessoas. Ele extorquia efetivamente as pessoas que trabalhavam e que vendem os produtos na comunidade", disse o delegado.

"O recado foi passado para o Rogério [de que Nem não queria a cobrança das taxas] e ele, como forma de retaliação e temendo ser morto pelos comparsas, determinou a execução do Perninha e do 99, que seriam os sucessores imediatos dele. O Vasquinho seria segurança de um deles."

A resposta mais ostensiva de Nem começou quando Jurandir Silva Santos, o Parazinho, oriundo do São Carlos, na zona norte carioca --favela que também é dominada pela ADA-- começou a reunir criminosos de outras comunidades para invadir a Rocinha.

Thome relatou que Parazinho chegou a ir ao morro para uma "conversa" com Rogério 157 sobre as reclamações referentes às taxas de serviço, mas foi desarmado ao chegar no local do encontro. Não houve acordo entre os dois.

Em 17 de setembro, Parazinho e outros criminosos chefiados por Luiz Alberto Santos de Moura, o Bob do Caju, preso no último sábado (23), tentaram invadir a comunidade da zona sul carioca e protagonizaram um intenso confronto, que se estendeu pelos dias seguintes com a resposta da Polícia Militar. No último fim de semana, a polícia apreendeu dez fuzis no Morro do Caju, que pertenceriam ao grupo de Bob e teriam sido usados na tentativa de invasão à Rocinha.

Em apenas dois dias, pelo menos quatro pessoas morreram e mais de 3.000 alunos ficaram sem aula.

O método 'miliciano' de Rogério 157

Após se entregar à PF, Dançarino relatou que ele era o responsável por chefiar a cobrança da taxa de serviço paga pelos mototaxistas da Rocinha.

As taxas paralelas são uma prática recorrente dos grupos de milicianos que controlam alguns territórios na capital fluminense, sobretudo na zona oeste da cidade. Moradores e comerciantes são obrigados a pagar uma determinada quantia para usufruir de alguns serviços, que vão da segurança no bairro --roubos são coibidos, por exemplo, assim como a venda de drogas-- à instalação do popular "gatonet" (sinal clandestino de TV por assinatura).

"Ele [Dançarino] trabalhava exclusivamente com o ponto de mototáxi. A cobrança do gás, da água e dos outros serviços ficava a cargo de outros membros da quadrilha", explicou o chefe da DRE. "Somente com o mototáxi, havia um lucro que girava em torno de R$ 100 mil."

Dado o tamanho da Rocinha, com seus 67 mil moradores e 23 mil domicílios, segundo o Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o serviço de mototáxi é considerado fundamental para a circulação na maior comunidade da zona sul carioca.

Por se manter leal ao bando de Nem, disse Thome, o criminoso que se entregou à PF acabou sendo "aposentado da boca" pelo atual chefe do crime na Rocinha. O delegado explicou que o termo "aposentado da boca" é uma expressão comum no tráfico e significa dizer que uma pessoa em questão "foi encostada" por algum tipo de divergência, mas não necessariamente foi expulso da quadrilha.

"Como eles costumam dizer, o Rogério 157 o aposentou da boca. Ele recebia um valor por semana, bem reduzido, mas não trabalhava mais na boca de fumo. Não estava mais aliado."

Ainda de acordo com o delegado, a aposentadoria de Dançarino foi determinante para que ele decidisse negociar sua rendição. "Temeroso de ser executado, tal como ocorreu com outros traficantes que também eram fiéis ao Nem, como o Perninha, o 99 e o Vasquinho, executados a mando do Rogério 157, esse traficante achou por bem se apresentar à PF."

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