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Ministro cita Marcinho VP e defende criação de força-tarefa para combater "Estado paralelo" no Rio

Vinicius Andrade/UOL
Imagem: Vinicius Andrade/UOL

Luis Kawaguti

Do UOL, no Rio

21/10/2017 21h08

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, citou declaração do traficante Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, ao UOL --de que o tráfico de drogas financiaria campanhas políticas-- ao defender a criação de uma força-tarefa para combater o “Estado paralelo" no Rio de Janeiro.

Marcinho VP disse ao UOL a frase mencionada pelo ministro ao argumentar que o Estado não estaria interessado em legalizar as drogas no Brasil. "O tráfico de drogas financia campanhas políticas no Brasil. Financia o governo do Estado, política de Estado, e pra ele não é importante isso [legalização das drogas].”

O criminoso é apontado pela polícia como um dos chefes da maior facção criminosa do Rio de Janeiro, o Comando Vermelho. Ele está preso em um presídio federal em Mossoró, no Rio Grande do Norte. A entrevista foi realizada na cadeia.

Jungmann defendeu a criação de uma força-tarefa que tenha a participação da Procuradoria-Geral da República, da Justiça Federal e da Polícia Federal para investigar o que chamou de “Estado paralelo" no Rio.

"Os senhores viram a declaração de Marcinho VP, quando ele diz, infelizmente, o que é uma tragédia, que o tráfico [de drogas] não vem caindo porque existe o apoio a certos políticos, que é a comprovação do que eu vinha dizendo", disse o ministro.

Jungmann deu a declaração após participar da cerimônia de celebração do fim dos 13 anos de missão de paz no Haiti, que ocorreu neste sábado no Aterro do Flamengo.

"Tráfico de drogas financia campanhas", diz Marcinho VP

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Segundo o ministro, a força-tarefa seria uma das quatro medidas necessárias para lidar com a violência nas favelas do Rio.

As outras três seriam reformar e fortalecer as polícias do Rio, manter as operações de Garantia da Lei e da Ordem (que envolvem as Forças Armadas no combate à criminalidade) e promover a recuperação econômica do Estado --“que já está em vias de se realizar, e o governador me assegurou que vai pagar o décimo terceiro [salário]", disse Jungmann. 

"Por isso eu acredito que dias melhores virão e que pouco a pouco nós vamos conseguir devolver, entregar ao carioca, aquilo que ele tanto deseja, paz e segurança", disse. 

UPPs e Brasil no Haiti

O ministro da Defesa também disse que o conceito das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) surgiu, em grande parte, de estratégias desenvolvidas com participação do Brasil para combater gangues e grupos rebeldes no Haiti.

"A experiência do Brasil no Haiti levou aqui ao projeto das UPPs. As UPPs nascem evidentemente não apenas da experiência no Haiti das Forças Armadas, mas em grande parte a partir do que nós aprendemos lá."

Ele afirmou porém que os cenários jurídicos e de organização das operações no Haiti e no Rio são diferentes, pois o Haiti vivia sob intervenção internacional (com o consentimento do governo haitiano).

No Haiti, as ações eram baseadas em um mandado da ONU (Organização das Nações Unidas), que difere das leis brasileiras, e as próprias forças de paz determinavam como seriam as operações. No Rio de Janeiro, acrescentou Jungmann, as Forças Armadas dão o apoio à polícia.

"Nós aqui aplicamos esse aprendizado [do Haiti], com profissionalismo e competência, mas sempre sob a liderança das forças policiais e de segurança do Rio de Janeiro. Nós não vivemos aqui uma intervenção, nós vivemos aqui uma cooperação e atuamos a partir dos chamados das forças de segurança do Rio de Janeiro”, disse.