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República Centro-Africana é destino 'mais provável' para tropas de paz pós-Haiti, diz Jungmann

21.out.2017 - O Ministério da Defesa homenageou, no Rio, militares que participaram da missão de paz no Haiti - Márcio Alves / Agência O Globo
21.out.2017 - O Ministério da Defesa homenageou, no Rio, militares que participaram da missão de paz no Haiti Imagem: Márcio Alves / Agência O Globo

Luis Kawaguti

Do UOL, no Rio

21/10/2017 16h45

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse neste sábado (21) que a missão de paz da ONU (Organização das Nações Unidas) na República Centro-Africana é o destino "mais provável” para uma nova ação internacional de forças de paz do Brasil após o fim da operação militar no Haiti, que durou 13 anos.

Ele participou na manhã de hoje de cerimônia que celebrou o fim dos 13 anos de missão de paz da ONU no Haiti, no Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, na região central do Rio de Janeiro.

Jungmann defendeu a continuidade da participação brasileira em missões de paz da ONU, mas afirmou que um eventual novo engajamento depende do aval do presidente Michel Temer (PMDB) e do Congresso.

"A República Centro-Africana aparece como aquele mais provável destino de missão de paz do país, porém, a definição final compete ao senhor presidente da República e a final, finalíssima, ao Congresso Nacional”, disse Jungmann.

O ministro disse que o mundo precisa de mais missões de paz e menos guerras.

Militares e diplomatas ouvidos de forma anônima pela reportagem disseram apoiar a continuidade da participação brasileira em missões de paz da ONU. Segundo eles, isso ajudaria a aumentar a influência do Brasil internacionalmente e a melhorar o treinamento das tropas brasileiras.

Mas, segundo eles, o projeto pode esbarrar em eventuais problemas de falta de verba, em meio à atual crise brasileira, ou em entraves políticos. A possibilidade de participação das Forças Armadas em missões de paz é prevista em lei ordinária, mas depende de determinação da Presidência e aprovação do Congresso.

Em discurso, ele afirmou que o profissionalismo das tropas do Brasil na missão do Haiti rendeu reconhecimento internacional ao país e que as Forças Armadas estão prontas para participar de qualquer missão de paz da ONU. Ele mencionou especificamente a República Centro-Africana em sua fala.

Nos bastidores, militares e diplomatas já vêm realizando uma série de estudos técnicos sobre a viabilidade de participação do Brasil em uma nova missão de paz. Foram considerados principalmente destinos como Chipre, Líbano e a República Centro-Africana.

À imprensa, o ministro disse que o Brasil recebeu uma dezena de convites da ONU para participar de missões em diferentes países, mas que a opção mais provável seria a República Centro-Africana --caso o Brasil se envolva em uma nova missão.

Operação na África

A República Centro-Africana fica na região central do continente africano e faz fronteira com o Congo, com a República Democrática do Congo, com o Sudão do Sul, Sudão, Chade e Camarões. Ela é assolada pela violência de milícias islâmicas Seleka, contrárias ao governo.

A situação do país é agravada por violência sectária. Movimentos cristãos chamados anti-Balaka formaram milícias e disputas entre clãs se tornaram frequentes.

Diferente do que ocorreu no Haiti, quando as forças brasileiras foram as primeiras a chegar ao país sob a bandeira das Nações Unidas, a República Centro-Africana já é palco de uma missão de paz da ONU desde 2014 --a Minusca, acrônimo para Missão Integrada Multidimensional das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana.

Se o Brasil decidir participar dela, vai fazer parte de um efetivo que atualmente tem quase 13 mil tropas internacionais. E o Brasil pode inicialmente não comandar a missão, como aconteceu no Haiti.

Segundo militares ouvidos pelo UOL, um dos principais desafios seria a logística necessária para levar equipamentos pesados para um país que não possui litoral. No Haiti, blindados, carretas e o material necessário para o estabelecimento de bases militares foram transportados de navio até a capital. Os militares foram de avião.

Também diferente do Haiti, a maioria dos conflitos na República Centro-Africana ocorre no interior do país, não em centros urbanos. Os militares brasileiros já têm experiência de operar em ambientes de selva, por causa da Amazônia, mas teriam que se adaptar para atuar também no deserto.

Segundo a ONU, 43 militares morreram em cerca de três anos na Minusca. A missão no Haiti teve 70 militares mortos de diversas nacionalidades, a maioria no terremoto de 2010.

Militares brasileiros ouvidos pela reportagem disseram que, tecnicamente, as Forças Armadas teriam capacidade de mobilizar grande quantidade de tropas para operar em uma missão na África já em 2018. Mas, a decisão de enviá-las deve depender de fatores políticos.