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PM mata estudante de 14 anos com tiro na nuca em Santo André (SP)

Segundo a família, Luan estava indo comprar bolachas quando foi morto pela PM - Arquivo pessoal
Segundo a família, Luan estava indo comprar bolachas quando foi morto pela PM Imagem: Arquivo pessoal

Luís Adorno

Do UOL, em Santo André (SP)

07/11/2017 11h48

O estudante Luan Gabriel Nogueira de Souza, 14, morreu depois de ter sido atingido por um tiro na nuca, por volta das 14h30 de domingo (5), no Parque João Ramalho, em Santo André (Grande São Paulo). O tiro que matou o jovem foi disparado por uma pistola de um policial militar, segundo a Polícia Civil. O garoto foi enterrado na manhã desta terça-feira (7) sob forte comoção.

Segundo a PM, o jovem morreu após confrontos com policiais. A família contesta essa versão e diz que o menino estava indo a um mercado comprar um pacote de bolacha quando foi baleado.

Um PM admitiu ter atirado contra o estudante, mas justifica que houve confronto depois de policiais militares terem sido acionados pela população local por perturbação e que, quando chegaram, encontraram cerca de 15 pessoas na rua.

"Durante abordagem, uma delas [das 15 pessoas] retirou uma arma e foi baleada. Dois adolescentes foram levados ao 2º DP (Distrito Policial) de Santo André, ouvidos e liberados. A Polícia Civil investiga o caso", informou a PM.

Ainda de acordo com relato dos PMs no distrito policial, havia uma moto roubada de um pátio do Detran na viela 7 da rua Paraúna e que os jovens seriam suspeitos de estarem desmontando a motocicleta.

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Os dois suspeitos levados à delegacia, de 18 e 21 anos, seriam os autores do roubo, segundo os PMs. Como não havia provas o suficiente para sustentar a suspeita, ele foi liberado.

A família e testemunhas, no entanto, contestam a versão policial, afirmando que o estudante foi assassinado durante a ida a um mercado para comprar bolacha, que os PMs envolvidos debocharam da situação e que ameaçaram os moradores locais para não deporem contra a ação policial. A Corregedoria da PM informou que apura o caso, assim como a Polícia Civil.

Segundo a mãe de Luan, Maria Medina, 43, ele só foi ao mercado comprar bolacha depois de ela ter dito a ele que o almoço ia demorar para ficar pronto. "Quero Justiça. Meu filho não era bandido, era um menino de ouro", disse. "Vou até o fim da minha vida para provar a inocência dele", afirmou.

Maria Medina é consolada por amigos e familiares no cemitério Curuça, em Santo André - Luís Adorno/UOL - Luís Adorno/UOL
Maria Medina, mãe de Luan, é consolada por amigos e familiares durante o enterro
Imagem: Luís Adorno/UOL

Uma tia do jovem, a florista Maria do Carmo Rodrigues, 56, disse que Luan estava no 9º ano do ensino fundamental e tinha o sonho de cursar medicina. "O policial que fez isso também é filho de Deus. E Deus vai tocar no coração dele para mostrar que ele tirou a vida de um inocente. A Justiça de Deus não falha", afirmou.

Luan tinha dois irmãos. Uma menina, de 2 anos, e o irmão mais velho, o ambulante Lucas Nogueira, 23, que disse que foi duas vezes à delegacia, mas, lá, o delegado não quis ouvir a versão da família porque "a versão dos PMs bastava" e que o boletim de ocorrência foi negado a ele.

Procurado, o ouvidor da Polícia de São Paulo, Julio Cesar Neves, afirmou que o delegado, como autoridade policial, pode decidir ouvir ou não a testemunha. "No entanto, o garoto foi morto com um tiro na nuca. Não ouvir muitas pessoas, pode parecer falta de interesse em investigar", disse.
Neves afirmou que vai enviar na tarde de hoje um ofício à Corregedoria da Polícia Civil para que o delegado explique por que decidiu não ouvir a família.

Dois jovens que estavam na rua quando ocorreu a ação policial afirmaram ter sido ameaçados pelos PMs. Eles pediram para não ser identificados por medo de represália. "Chegaram correndo e deram um tiro para cima. Depois, mais dois em direção da gente. Aí pegou o Luan", disse ao UOL.

"Me pegaram pelo colarinho [da camiseta], ameaçaram quebrar a minha cara, caso eu colocasse a culpa neles [policiais]", afirmou.

O jovem diz ter sido ameaçado na frente da mãe e de amigos, que teriam interferido na abordagem até ele ser largado pelo PM.

O advogado Ariel de Castro Alves, membro do Condepe (Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana) presta apoio à família.

"Moradores viram PMs tirarem o corpo do lugar, para colocá-lo próximo de uma moto furtada. Uma testemunha viu o PM sair dando risadas e dizendo 'subiu mais um', com referência à morte do Luan", disse.

Ainda de acordo com o conselheiro, os jovens que tentaram retornar depois para prestar socorro ao estudante foram ameaçados e expulsos pelos PMs.

"Não deixaram a mãe e o irmão ver o corpo. Eles só ficaram sabendo que era o Luan pelos relatos das testemunhas. PMs mandaram a mãe calar a boca e ir para casa", afirmou Alves.

"Eu só reconheci pelo tênis. Os PMs disseram que não era meu filho e me mandaram ir embora", disse a mãe.