Topo

Policial mata criança após confundir carro de família com o de bandidos em Teresina

A lateria do carro da família da menina Emile Costa ficou crivada de balas - Reprodução/180 Graus
A lateria do carro da família da menina Emile Costa ficou crivada de balas Imagem: Reprodução/180 Graus

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

29/12/2017 21h47

Uma abordagem desastrosa da Polícia Militar do Piauí acabou em tragédia para uma família de Teresina (PI), na madrugada da última terça-feira (26). Uma menina de nove anos morreu ao ser atingida nas costas por dois tiros disparados pela polícia antes de a família sequer se identificar aos policiais.

A PM informou que os militares envolvidos na ação foram autuados pela Corregedoria da Polícia Militar do Piauí e estão detidos no Presídio Militar. Procurada pelo UOL, a corporação disse que não identificou os advogados dos agentes, mas que eles terão amplo direito de defesa.

Segundo a PM, o soldado Aldo Barbosa Dornel e o cabo Francisco Venício Alves estavam em diligência à procura de um carro que era usado por bandidos para cometer assaltos na zona leste de Teresina, quando avistaram o veículo da família --o carro teria características similares ao dos bandidos. O veículo era ocupado pelo casal e os dois filhos --o bebê de oito meses e a menina Emile Caetano da Costa, 9.

A polícia disse que eles pediram para o veículo parar, mas que o motorista não teria obedecido. Os agentes então saíram em perseguição por várias ruas da zona leste da capital do Piauí até chegar à avenida João XXIII, quando o soldado Dornel disparou cinco tiros de pistola contra o veículo e atingiu Emile com dois tiros nas costas, segundo relato da PM.

O pai dela, Evandro Costa, 31, foi atingido na cabeça, e a mãe, Daiane Caetano da Costa, 26, no braço. A criança de oito meses (uma menina), por pouco, não foi atingida na cabeça pelo tiro que pegou no braço da mãe.

Emile ainda foi socorrida no HUT (Hospital de Urgência de Teresina), mas morreu durante o atendimento médico. O pai dela teve uma hemorragia e continua internado no mesmo hospital. O estado de saúde dele é grave, mas estável. A mãe já recebeu alta.

O coronel Wagner Torres, comandante de policiamento da zona leste de Teresina, disse que o soldado contou ter efetuado cinco disparos contra o veículo e dois para cima. “A abordagem foi mal feita porque era para a viatura ter parado na frente ou atrás do carro suspeito e pedir para os ocupantes descerem do veículo. Jamais era para ir logo atirando", afirmou Torres.

Segundo a PM, o soldado Dornel foi reprovado no exame psicotécnico durante sua admissão na corporação. 

O comandante geral da Polícia Militar do Piauí, coronel Carlos Augusto Gomes de Souza, afirmou que o soldado ingressou com recurso e a Justiça obrigou o Estado a admitir o candidato reprovado para fazer o curso de oficiais, em 2010. O Estado recorreu da decisão, mas enquanto a Justiça não dá seu parecer, foi obrigado a deixar o soldado a fazer o curso de formação e ser nomeado.

“A Justiça notificou a Polícia Militar para que ele fosse liberado para fazer o curso de formação e, caso descumpríssemos, iríamos pagar multa de R$ 5.000 por dia. Atendemos à ordem judicial, mas recorremos. Infelizmente, os policiais que são reprovados no exame psicotécnico são os que apresentam mais problemas na corporação e não temos como não atender a ordem judicial”, disse o comandante geral da PM do Piauí.

O coronel Carlos Augusto contou que esta semana recebeu quatro notificações judiciais de candidatos reprovados no concurso público da PM, obrigando a polícia a admiti-los para o curso de formação. Ele critica as ordens judiciais que se contrapõem aos exames da polícia favorecendo candidatos reprovados.

“Recebemos quatro liminares de quatro candidatos reprovados no exame psicológico, sendo dois deles também reprovados no exame físico, a continuar nas demais etapas do concurso. Recebi a determinação para eles entrarem no curso de formação que começa no dia 8. Se alguém é reprovado em um exame técnico, não deveria a Justiça liberar esse candidato inapto, é um erro grave, mas ordens judiciais temos de cumprir até que nossos recursos saiam favoráveis ou não”, afirmou.