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Parte de viaduto desaba sobre Galeria dos Estados em Brasília

Câmeras mostram carros desviando após viaduto desabar

UOL Notícias

Janaina Garcia, Mirthyani Bezerra e Luciana Amaral

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

06/02/2018 12h13Atualizada em 06/02/2018 20h07

Parte de um viaduto desabou na região central de Brasília, pouco antes do meio-dia desta terça-feira (6), sobre quatro carros que estavam estacionados em uma via localizada embaixo da estrutura. No acidente, parte do muro de um restaurante instalado na Galeria dos Estados, tradicional centro comercial que funciona embaixo do viaduto Eixão Sul, também caiu.

O governo do DF informou no início da noite que o trabalho de varredura realizado por equipes do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil, com auxílio de cães farejadores, não identificou vítimas. 

“Estamos muito aliviados por não ter nenhuma vítima. Agora, a nossa prioridade é a recuperação do viaduto para trazer comodidade à população", disse o governador Rodrigo Rollemberg.

Mapa Acidente Viaduto Brasilia - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

A parte do viaduto que desabou corresponde à metade das três faixas do sentido sul da via, considerada a principal via expressa de Brasília, que liga as asas Norte e Sul, passando pelo Eixo Monumental, onde fica a Esplanada dos Ministérios. O desabamento aconteceu a um quilômetro da rodoviária do Plano Piloto.

O governo do DF afirmou que o Eixão ficará interditado pelo menos até o dia 19 para a realização de uma avaliação técnica e pericial sobre as causas do desabamento e para que sejam feitas as primeiras intervenções na área. Somente após a avaliação técnica será possível definir se o viaduto poderá ser recuperado ou se ele terá que ser demolido.

Segundo o DER (Departamento de Estradas de Rodagem) do DF, até o final da tarde desta terça, o Eixão se encontrava interditado no sentido norte-sul, desde a entrada do Buraco do Tatu até a altura do Hospital de Base. Para os motoristas que tinham o Eixão como trajeto, o DER indica como vias alternativas os Eixos L e W, além da L2 e W3 Sul.

Devido à interdição do local, o governo anunciou a criação de um plano de mobilidade emergencial, em conjunto com o Metrô, Detran, DER e as secretarias da Segurança Pública da Paz Social e da Mobilidade, para garantir o fluxo de veículos e assegurar a fluidez do tráfego na região central de Brasília.

Funcionários do restaurante ao lado do local relataram que o desabamento aconteceu por volta das 11h40. O restaurante ainda estava fechado e ninguém se feriu. Uma parede do espaço - que serve cerca de 300 refeições por dia - caiu junto com o viaduto.

Técnicos no local verificaram que parte do viaduto ao lado do trecho que caiu continua se dilatando e se afastando do eixo. No entanto, até as 17h, os engenheiros discutiam como proceder.

Dona de restaurante diz que horário da queda evitou tragédia

TV Folha

Em inspeção no local minutos depois do desabamento, o governador e pré-candidato à reeleição, Rodrigo Rollemberg (PSB), admitiu em uma rápida entrevista coletiva que o viaduto não havia passado por trabalhos de manutenção e reforço recentemente, diferentemente de outros viadutos centrais da cidade. 

“Infelizmente, esse [viaduto] não tinha recebido manutenção”, afirmou o governador. "São viadutos antigos, desde o início do governo nós fizemos o reforço das estruturas de seis viadutos, mas este não.” “Brasília é uma cidade que está envelhecendo”, disse o governador. Após dar as declarações, Rollemberg deixou o local sob vaias.

"Aparentemente há problemas na estrutura"

A presidente do Crea-DF (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Distrito Federal) e engenheira civil, Fátima Có, disse que é preciso esperar que a perícia seja concluída no local, mas que, aparentemente, há problemas na estrutura do viaduto. Segundo ela, o viaduto era uma das vias apontadas como necessitada de reforma.

"Vamos ter que aguardar a perícia, mas a gente sente que há problemas. Alguns carros ainda estão embaixo na parte que não foi atingida e não foi permitido ninguém entrar para tirar o seu carro”, afirmou.

Segundo a presidente, em Brasília, em especial, ainda não há o hábito de cuidar de prédios e estruturas antigos por ser uma cidade relativamente nova. A capital federal, planejada por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, foi inaugurada em 1960.

Brasília começa a [mostrar que é] uma cidade que já passa dos 50 anos

Fátima Có, presidente do Crea-DF

Fátima afirmou que a entidade pretende fazer um levantamento de viadutos semelhantes que possam apresentar instabilidades. “Vamos levantar todas essas áreas, não para alardear a população, mas para aproveitar esse momento e mostrar a questão”, disse.

O diretor geral do DER do DF, Henrique Luduvice, afirmou que será feito o escoramento do viaduto e que o trânsito permanecerá desviado. Ele preferiu não dar prazo para o fim do trabalho.

"A ideia é que possamos fazer todo o desvio do tráfego, nisso a área de trânsito já está operando, e posterior vamos ver como agimos em relação ao viaduto. Porque a avaliação e análise da estrutura é o que vão determinar o que devemos fazer", disse.

Ele afirmou, no entanto, que o mais provável é que o desabamento tenha sido causado por trincas, fissuras, corrosões e infiltrações. Segundo ele, um relatório elaborado pelo governo e por órgãos não-governamentais em 2009 indicou a necessidade de investimentos para a manutenção de pontes e viadutos em Brasília.

Mas, relatou, devido à crise econômica, está difícil arrecadar recursos. Ludovice afirmou que é necessário haver dotação orçamentária específica para a manutenção dos viadutos e de pavimentos.

Chuvas fortes podem ter acelerado a queda

As chuvas intensas em Brasília desde a semana passada podem ter contribuído para a queda. O ex-professor de engenharia civil da UnB (Universidade de Brasília) e especialista em patologia de estruturas, Dickran Berberian, visitou os escombros caídos e disse que, em princípio, o acúmulo de água foi a causa mais provável do desmoronamento.

“Pelo o que vi, a água entrou na estrutura, no aço, e corroeu. O concreto foi se desintegrando. Não vi drenos. Quando não há drenos, o viaduto vira um caixão. A água fica acumulada e pode chegar a pesar uma tonelada por metro cúbico”, explicou.

O subsecretário de Proteção e Defesa Civil, coronel Sérgio Bezerra, informou que ainda há riscos de novos desmoronamentos no outro lado da via.

O governo do DF informou que equipes da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros avaliam se há comprometimento também do trecho que não caiu do viaduto.

O Detran utilizou um drone para sobrevoar a área da queda do viaduto. O equipamento fez imagens do concreto repartido e da pista do Eixão Sul.