Polícia acusa trio de extorquir padre com vídeo sexual e matar PM; suspeitos negam
Três homens foram acusados pela Polícia Civil de extorquirem um padre e matarem um policial militar em Matão (SP), a cerca de 300 km de São Paulo. Segundo as investigações, Edson Ricardo da Silva, 32, Luiz Antonio Carlos Venção, 28, e Diego Afonso Siqueira Santos, 22, estão envolvidos no assassinato a tiros de Paulo Sérgio Arruda, 43, sargento da Força Tática de Araraquara, na última segunda-feira (19). O trio, que está foragido, nega participação no homicídio.
Com a ajuda dos outros dois acusados, Edson Silva teria filmado um vídeo sexual dele com o padre Edson Maurício. Na versão do suspeito, ele e o padre mantinham um relacionamento amoroso, mas sua mulher descobriu e pediu o divórcio. Como vingança, ele resolveu gravar o vídeo e chantagear o padre.
“Eu tive um relacionamento com o padre por quase quatro anos. Ele me bancava, me dava dinheiro, mas queria ficar comigo todo dia, não dava sossego. Aí minha mulher descobriu e meu casamento acabou”, conta à reportagem Edson Silva, que admitiu a extorsão. “Quis me vingar. Eu combinei com os meninos e deixei a chave para eles entrarem”.
De posse do vídeo, Silva e os amigos resolveram pedir ao religioso R$ 80 mil para não tornar o conteúdo público. Após negociações, o valor caiu para R$ 60 mil. O dinheiro seria entregue ao grupo na casa do padre, na última segunda-feira.
Noite do crime
Em depoimento à polícia, o padre Edson Maurício informou que, depois de ser extorquido, procurou um amigo em Araraquara, que é garagista, e contou o caso. Esse amigo, que não teve a identidade divulgada, teria falado com o sargento Arruda.
Ainda segundo a versão do padre, os suspeitos chegaram a sua casa por volta das 23h. Momentos depois, Arruda, que estava de folga, chegou acompanhado de três policiais militares que também estavam de folga.
Ao perceber a chegada dos policiais, que estavam armados, Edson Silva teria sacado uma arma e disparado duas vezes contra Arruda. Ele acabou atingido e chegou a ser atendido, mas morreu. Os suspeitos fugiram.
Os acusados, entretanto, refutam a versão do padre. Segundo Edson Silva, não houve troca de tiros. Ele alega que foi com os amigos até a casa do padre para pegar o dinheiro, mas que o grupo foi embora ao perceber que havia uma pessoa encapuzada no local.
Luiz Antonio Carlos Venção, que participou da filmagem e também está foragido, disse à reportagem que está sofrendo ameaças. “Policiais invadiram a casa da minha sogra e fizeram ameaças. Disseram que nossa cabeça é um prêmio”, afirmou.
Polícia diz que suspeitos mentem
Para o delegado Alfredo Gagliono Junior, responsável pelas investigações, o conjunto de provas foi suficiente para pedir a prisão preventiva dos suspeitos. Segundo ele, a versão dos criminosos não corresponde à realidade.
“O padre conheceu o Edson há pouco tempo, eles não eram amantes, nem se conheciam. Na verdade, eles armaram uma situação para tirar dinheiro dele, são criminosos conhecidos”, disse o policial, que informou ainda que o trio responderá por extorsão, associação criminosa e homicídio doloso.
Ainda de acordo com o delegado, os policiais militares imaginaram que conseguiriam resolver o problema, mas foram surpreendidos. “Eles imaginaram que iriam encontrar gente que queria só tirar dinheiro do padre, mas encontraram bandidos preparados para o confronto”.
Já de acordo com Luiz Gustavo Vicente Penna, advogado dos acusados, a polícia não tem elementos capazes de provar que seus clientes foram os autores do crime. Ele informou que irá solicitar exames periciais e pretende provar que os clientes não trocaram tiros com a polícia.
“Queremos perícia para determinar quando os tiros foram dados, de qual arma saíram, em que posição, tudo. Meus clientes não estavam presentes quando a morte ocorreu”, conta.
PM instaura inquérito
Procurada, a Polícia Militar informou que instaurou inquérito militar para apurar o motivo de os policiais, que estavam de folga, terem ido até Matão. A instituição informou ainda que a ação está fora dos protocolos.
Já a diocese de São Carlos informou, em nota, que o padre foi afastado de suas funções. “A Diocese de São Carlos, na pessoa de seu Bispo, Dom Paulo Cezar Costa, lamenta e humildemente pede desculpas aos fiéis católicos, aos homens e mulheres de boa vontade, por este ato isolado contra conduta moral e os valores evangélicos (...). Reafirmamos que a Diocese de São Carlos não compactua com atitudes que possam gerar o contratestemunho dos valores de Jesus Cristo e de sua Igreja”, diz a nota. Ainda segundo a nota, “o padre segue a disposição da justiça para esclarecimento do caso”.
A reportagem não conseguiu localizar o padre, que, segundo a polícia, deixou a cidade logo depois de prestar depoimento. Como é apenas testemunha do crime, Edson Mauricio não tem advogado constituído no caso.
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