Disque Denúncia oferece R$ 1.000 por pistas sobre "Dr. Bumbum"; conta em rede social é apagada
O Portal dos Procurados, do Disque Denúncia, divulgou na manhã desta quarta-feira (18) o cartaz com recompensa de R$ 1.000 por informações que levem às prisões de Denis César Barros Furtado, 45, conhecido como "Doutor Bumbum", e da mãe dele, Maria de Fátima Barros Furtado, 66. Financiado por empresas, o serviço repassa à polícia informações recebidas por meio de telefonemas anônimos.
Denis tinha mais de 655 mil seguidores no Instagram, rede social na qual postava fotos com os resultados de seus procedimentos cirúrgicos. A conta na rede social foi apagada.
Os dois tiveram a prisão temporária decretada pela Justiça nesta terça-feira (17) e estão foragidos. Nesta quarta, a Justiça do Rio negou pedido de habeas corpus do médico e da mãe dele, Maria de Fátima Barros --a decisão é do desembargador Luciano Rinaldi.
Mãe e filho são investigados pela morte da bancária Lilian Calixto, 46, na madrugada de domingo (15) após realizar um procedimento estético, no apartamento do médico, na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro.
A advogada do médico e de sua mãe, Naiara Baldanza, disse que é "precoce" responsabilizá-lo pela morte da bancária. "Destaco que o ordenamento jurídico pátrio estabelece que ninguém é considerado culpado antes da sentença penal condenatória e que qualquer conclusão acerca da morte de Lilian Calixo e a eventual responsabilidade do meu cliente sobre essa fatalidade é precoce", afirmou a advogada, por meio de nota.
A intervenção ocorreu no sábado (14) e a paciente foi socorrida pelo próprio médico, pela mãe dele, que teria atuado como auxiliar, e ainda pela namorada de Denis, que afirma que trabalhava apenas como secretaria. Os três aparecem nas imagens gravadas pelo circuito interno do hospital.
Lilian Calixto morava em Cuiabá e chegou ao Rio de Janeiro no final de semana apenas para realização da cirurgia estética nos glúteos. Segundo informações da unidade saúde, ela chegou em estado extremamente grave e mesmo após "manobras de recuperação", não foi possível reverter o quadro de saúde e a paciente acabou morrendo duas horas após atendimento.
A suspeita é de que a mulher tenha sofrido embolia pulmonar devido à aplicação de PMMA - polimetilmetacrilato - material utilizado para fazer preenchimentos faciais e corporais. O produto é aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas indicado para situações pontuais e em pequenas quantidades. A Sociedade Brasileira de Cirurgia já havia feito um alerta em 2013 sobre os riscos da injeção do material que não deve ser aplicado nos glúteos.
Ao UOL, o presidente da entidade, Niveo Steffen, disse que a aplicação de PMMA para aumento das nádegas é uma prática não permitida pela medicina. "Essa substância é autorizada apenas em pequenas quantidades, indicada para pequenos preenchimentos e principalmente na região da face para pacientes que sofrem deformações no rosto, causada por alguma doença, por exemplo, a Aids, que causa enrijecimento de algumas áreas do rosto."
O especialista destacou ainda que os locais para qualquer procedimento estético precisam contar com autorização da Anvisa para funcionar. "Esses espaços precisam de equipamentos específicos, como desfibrilador, para garantir a segurança dos pacientes." Entre os riscos de realizar o procedimento, segundo ele, estão a necrose e a embolia pulmonar.
Namorada de médico vai para presídio de Benfica
A namorada do médico foi transferida hoje para uma unidade do presídio de Benfica, na zona norte carioca. Renata Fernandes, 20, estava detida desde domingo na 16º DP (Barra da Tijuca), suspeita de envolvimento no procedimento estético.
Renata aparece nas imagens de circuito interno do hospital dando entrada na unidade com a paciente, o médico e a mãe dele, apontada como auxiliar de Denis. O procedimento foi realizado no apartamento do médico na Barra da Tijuca, na zona oeste.
De acordo com a advogada dela, Valéria Vieira, a transferência ocorre devido à expiração do prazo de permanência na delegacia (chamado de lapso temporal). A defesa aguarda julgamento de habeas corpus.
A advogada nega ainda que Renata tenha participado do procedimento. Valéria diz que a jovem atuava apenas como recepcionista da clínica, que funcionava no Shopping Downtown, também na Barra da Tijuca. No entanto, segundo a polícia, o trabalho de Renata não se resumia apenas em marcação de consultas.
O UOL entrou em contato também com a advogada de Denis e sua mãe. Naiara Baldanza afirmou que o último contato realizado com o médico ocorreu no sábado (dia do procedimento) e que analisa ainda a possibilidade de continuar no caso.
“Ainda estou a analisando a viabilidade de manter a defesa dele. Apesar de ser contratada para atuar em todos os processos, a última vez que falei com ele foi no sábado pouco depois do procedimento que envolveu a Lilian Calixto. Enviei uma nota inclusive para que ele visse e nos procurasse. [Sobre] essa conduta de não se apresentar, ele não foi instruído para isso", disse Naiara, contratada há um mês para atuar nos mais de 15 processos em que ele é citado no Tribunal de Justiça.
Um milhão de seguidores
Com diversas contas em redes sociais para divulgação do trabalho estético, Furtado é seguido por quase um milhão de internautas. Apenas no Instagram e no Facebook são 700 mil seguidores. O médico diz que já fez mais de 5 mil procedimentos estéticos, "em mais de 15 anos de bioplastia".
Ele se apresenta como médico, pós-graduado em dermatologia pelo Instituto Brasileiro de Ensino (Isbrae), modulação hormonal pela Brasil-American Academy for Integrative e Regenerative Medicine (Barm), medicina estética, nutrologia e ortomolecular.
No Facebook, há ainda muitos ataques de internautas na página do médico rechaçando os procedimentos realizados.
Médico atuava no DF, SP e RJ
Segundo investigações da Polícia Civil fluminense, a equipe do médico Denis Furtado realizava atendimentos estéticos nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, além do Distrito Federal.
Responsável pelo inquérito, a delegada Adriana Belém afirma que já se sabe que ao menos duas mulheres desistiram de realizar o procedimento estético com o médico ao tomarem ciência de que as intervenções não ocorreriam em uma clínica médica e sim, em um imóvel residencial.
Uma delas chegou a registrar um boletim de ocorrência e mencionou prejuízo de quase R$ 20 mil. Segundo a delegada, as intervenções eram marcadas para acontecerem no Shopping Downtown, mas, em cima da hora, o atendimento era transferido para o apartamento.
"No Rio, as consultas eram marcadas no Downtown onde abriram uma clínica fictícia no nome de Rosilene [técnica de enfermagem do médico que trabalhava como assistente]. Porém, os procedimentos ocorriam mesmo na residência."
Oito passagens pela polícia
Titular da 16ª DP, a delegada informou ainda que o médico tem oito passagens criminais, uma delas por homicídio em 1997, além de porte ilegal de arma, crime contra administração pública, exercício arbitrário das próprias razões, ameaça, duas por resistência à prisão e violação de domicílio.
Uma pesquisa feita no site do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro mostra que o médico é réu em ao menos 15 ações de Varas Cíveis no Rio de Janeiro --a maioria por problemas imobiliários.
O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro abriu uma sindicância para apurar o caso. Denis Furtado tem registro em Goiás e em Brasília e não poderia atuar profissionalmente no Rio sem autorização do Cremerj.
De acordo com o presidente do órgão, Nelson Nahon, Denis responde a um processo ético no Conselho Regional de Brasília. A mãe dele teve o CRM cassado em 2015 no Rio de Janeiro devido à prática frequente de propaganda enganosa --divulgação de utilização de métodos com resultados não reconhecidos pela medicina.
“Sobre a mãe, ela já teve a pena máxima no que diz respeito à atuação do Cremerj. Mandamos inclusive uma notificação para a Polícia Federal. Sobre o filho, solicitamos documentação do hospital onde a paciente foi atendida, da delegacia que informou que apreendeu farto material de cirurgia no apartamento e vamos encaminhar para Brasília pra ser julgado pelo Conselho”, disse o presidente do Cremerj, que reiterou a abertura de uma sindicância para acompanhar o caso.
*Com informações do Estadão Conteúdo
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