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Condenado a 65 anos de prisão, integrante do PCC é morto a tiros de fuzil em SP

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

24/07/2018 10h08Atualizada em 24/07/2018 17h56

Conhecido pela polícia e pela promotoria paulista como um dos grandes ladrões de banco da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), Cláudio Roberto Ferreira, o Galo, 38, foi morto a tiros na noite desta segunda-feira (23), na zona leste de São Paulo.

Ele foi vítima de uma emboscada no Tatuapé, na zona leste da capital, quando o Audi Q3 blindado que ele dirigia recebeu cerca de 70 tiros. Galo foi atingido na cabeça, nos braços e nas pernas. Levado ao hospital municipal do bairro em estado gravíssimo, não resistiu aos ferimentos. Ainda não se sabe se a blindagem do carro estava vencida, mas a polícia acredita que não.

Cláudio Roberto Ferreira, o Galo, integrante do PCC - Divulgação/Polícia Civil - Divulgação/Polícia Civil
Cláudio Roberto Ferreira, o Galo
Imagem: Divulgação/Polícia Civil

Segundo a Polícia Civil, Galo estava com R$ 73.360 e roupas novas em uma mala, o que poderia sugerir que ele planejava fugir. Investigação da polícia aponta que os assassinos estavam em um veículo HB20 de cor preta e em um Hyundai I30, cor prata. Ele morava na Vila Formosa, também na zona leste.

Informações do Detecta, tecnologia da PM (Polícia Militar), apontam que Galo esteve no Itaim Bibi na noite anterior a que foi morto. Na noite de ontem, ele foi ao Ibirapuera e Tatuapé. A polícia investiga se ele permanecia como membro do PCC ou se estava jurado de morte pela facção.

Oficialmente, a polícia nega que a morte dele tenha ligação com outras duas ocorridas no início do ano. “Muito prematuro. Não há indício de que ele esteve envolvido nas mortes do Ceará [dos criminosos Gegê do Mangue e Paca]”, afirmou a delegada Ana Lucia de Souza, titular do 30 DP (Distrito Policial), no Tatuapé.

Segundo a Polícia Civil, Galo tinha acabado de estacionar o carro na rua Coelho Lisboa. Os suspeitos chegaram em dois carros, desembarcaram e dispararam vários tiros de fuzil. A reportagem contou ao menos 71 buracos no carro, sendo 23 do lado direito e 48 do lado esquerdo, entre portas e vidros. 

“Os indicativos são de que seria uma execução por conta de, possivelmente, uma briga interna dentro da facção”, afirmou. A delegada disse que a polícia ainda investiga que função Ferreira tinha no grupo. Nenhuma testemunha ainda foi ouvida no DP. Investigadores buscam mais imagens que possam colaborar para esclarecer o crime. O caso será remetido ao DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa).

23.jul.2018 - Carro blindado alvo de tiros no Tatuapé - Marcelo Gonçalves Sigmapress/Estadão Conteúdo - Marcelo Gonçalves Sigmapress/Estadão Conteúdo
Tiros de fuzil ultrapassaram blindagem e atingiram Galo
Imagem: Marcelo Gonçalves Sigmapress/Estadão Conteúdo
Membros do PCC mortos no Tatuapé

Este é o terceiro integrante do PCC morto durante emboscada no Tatuapé este ano. Os dois primeiros, em fevereiro, foram Wagner Ferreira da Silva, 32, no saguão de um hotel, e Eduardo Ferreira da Silva, 40, morto em um carro de luxo a duas quadras de onde Galo foi assassinado nesta segunda.

O promotor Lincoln Gakyia, que investiga o PCC e acompanha as investigações, descarta a hipótese de dívida com a facção. “Não acredito, acho que foi execução mesmo”, disse. A Promotoria aponta que Galo era parceiro de Wagner Silva, morto no saguão do hotel. A principal hipótese do crime de ontem, para o MP, teria ligação com uma racha interno dentro da facção.

Carro de Eduardo Ferreira da Silva - Luís Adorno/UOL - Luís Adorno/UOL
Eduardo Ferreira da Silva, 40, também foi morto a tiros, no Tatuapé, num carro de luxo
Imagem: Luís Adorno/UOL

Cláudio Ferreira estava foragido da Justiça, segundo o Banco Nacional de Mandados de Prisão. Em 2008, ele participou de uma perseguição policial que terminou com três pessoas mortas e 11 feridos. Pela ação, a Justiça o condenou a 65 anos, um mês e 15 dias de prisão em regime fechado, em segunda instância, sob a acusação de latrocínio, roubo, lesão corporal e organização criminosa.

Galo foi preso em flagrante. Em julho de 2015, o STF (Supremo Tribunal Federal) concedeu habeas corpus a ele. O benefício foi revogado, mas Ferreira não se apresentou à Justiça.

Em agosto daquele ano, ele foi preso pela Polícia Civil dentro do estádio Vila Belmiro, na Baixada Santista. Ele estava em um camarote durante uma partida entre Corinthians e Santos, que era válida pela Copa do Brasil.

Em julho de 2016, o então presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, concedeu novo habeas corpus a Galo, sob o argumento de que ele só deveria ser preso somente quando o processo tivesse passado por todas as instâncias. Pouco menos de um ano depois, em maio de 2017, o ministro Dias Toffoli revogou o habeas corpus, apontando a gravidade da ocorrência em que Ferreira havia se envolvido em 2008. Desde então, ele era considerado foragido.

O crime pelo qual Galo foi condenado aconteceu em novembro de 2008. O crime teve início num roubo a uma agência do Banco Real no centro de Guarulhos, na Grande São Paulo, e envolveu 15 integrantes do PCC armados com fuzis e metralhadoras. O soldado Ailton Tadeu Lamas, 22, conhecido por fazer partos de crianças, morreu baleado. Carlos Antonio da Silva, o Balengo, que era da cúpula do PCC, também foi morto na troca de tiros.