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Criança denuncia abuso sexual do padrasto em bilhete a avó: "Faz besteira comigo"

Menina de nove anos escreveu bilhete a mão para denunciar abuso sexual do padrasto - Arquivo pessoal
Menina de nove anos escreveu bilhete a mão para denunciar abuso sexual do padrasto Imagem: Arquivo pessoal

Rafael Pezzo

Colaboração para o UOL

05/10/2018 16h58

"Vó, eu quero morar com a senhora porque o meu pai faz besteira comigo." Por meio de um bilhete escrito à mão, uma menina de nove anos denunciou à avó os abusos sexuais que sofria do padrasto, a quem chama de pai. "A mesma coisa que ele faz com a mamãe, ele também faz comigo", relatou a criança. O caso aconteceu em Manaus foi registrado no Conselho Tutelar da Zona Leste da capital na última sexta-feira (28).

Em outro trecho escrito no pequeno pedaço de papel, em meio a corações e flores, a criança escreveu: "Na hora que o pai chama a mamãe para dormir, ele transa com a mamãe. A mesma coisa que ele faz com a mamãe, ele também faz comigo."

Na última segunda-feira (1º), após serem aconselhadas pelo Conselho Tutelar, avó, mãe e a menina foram até a Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca) de Manaus para que fosse feito um boletim de ocorrência. A partir disso, como medida de proteção à vítima, o Conselho determinou o afastamento do padrasto e colocou a menina sob responsabilidade da avó.

Ao UOL, a conselheira tutelar Iolene Oliveira contou que criança relatou que os estupros começaram quando ela tinha seis anos de idade. "Como ela é criança, ficava reprimida e não falava para a mãe. Na época que tudo começou, ela não sabia escrever, então aguentou calada durante muito tempo."

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Conforme dito pela menina, o último e mais violento abuso foi em Goiás, onde a família morou por cerca de seis meses. Eles ficaram em um sítio e, em um determinado dia e, segundo o relato, o padrasto foi cuidar do gado e a criança avisou à mãe que iria junto. Momentos depois, ela voltou reclamando de dores e com sangramento, mas explicou que, por vergonha, não contou que havia sido abusada. "A mãe também não procurou saber direito o que tinha acontecido e levou a menina ao médico dizendo que era infecção", disse Iolene.

A família retornou há cerca de dois meses para Manau e se instalou nos fundos do terreno da avó, mãe do pai biológico da vítima. O bilhete foi escrito após a garota ouvir o padrasto e a mãe conversarem sobre se mudarem dali. Segundo a conselheira tutelar, "a menina sabia que, caso fossem para outro lugar, os estupros voltariam. Por isso, escreveu o bilhete".

Até a denúncia, a mãe e o pai biológico não sabiam dos estupros. Desde que o caso foi tornado público, o suspeito se mudou de casa.

O padrasto e a mãe da menina ainda têm mais duas filhas, uma de três e outra de cinco anos. Ao Conselho Tutelar, a garota afirmou que somente ela era abusada. A vítima também disse que a mãe "tinha um sono muito pesado" e que os estupros aconteciam depois que ela ia se deitar.

Com a ajuda de psicólogos, a delegada titular da Depca, Joyce Coelho, começou a colher depoimento da menina nesta sexta-feira (5). No testemunho, a garota confirmou que era abusada havia três anos.

Como o caso não configurava prisão em flagrante, a delegada pediu a realização do exame de conjunção carnal, no Instituto Médico Legal (IML), e encaminhou a criança para acompanhamento no Serviço de Atendimento às Vítimas de Violência Sexual (SAVVIS).

Segundo a delegada, primeiramente, o objetivo é delimitar a quantidade de estupros cometidos e os locais onde aconteceram. "Sabemos muito pouco ainda, então não temos espaço para prosseguir com a investigação. Somente depois de terminarmos de ouvir a menina poderemos projetar os próximos passos", explicou.

A reportagem tentou entrar em contato a avó paterna da menina, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.