SP tem média de 34 registros de estupro por dia em 2018
Entre janeiro e outubro de 2018, 10.103 pessoas registraram terem sido vítimas de estupro em delegacias do estado de São Paulo. São, em média, 36,6 registros por dia. Do total, 7.296 das vítimas (72%) são vulneráveis, dentre elas, pessoas inconscientes, crianças e adolescentes.
O dado foi divulgado pela SSP (Secretaria da Segurança Pública) nesta quinta-feira (29). Comparado com o mesmo período do ano passado, o número de registros de estupro cresceu 10,5%: foram 9.142 em 2017. Com relação aos estupros de vulneráveis, a crescente foi ainda maior: 16,6%: no ano passado, foram 6.254 registros.
Procurada, a SSP informou, em nota, que o estado "é pioneiro no combate à violência contra a mulher", contando com 133 delegacias das mulheres, possuindo 35,8% de todas as delegacias de mulheres do país. "No estado, cerca de 86% dos estupros ocorrem em locais fora da competência de atuação preventiva da polícia, sendo 68% no interior de residências".
"Somente no mês de outubro, 161 pessoas foram pessoas por esse crime. Uma das causas do aumento dos índices são as campanhas realizadas não só pelos órgãos públicos, mas também por entidades privadas que incentivam o registro formal do crime. Em todos os casos há empenho e cautela durante as investigações realizadas pela Polícia Civil, levando-se em conta o trauma vivido pela vítima", complementou a pasta.
Fora do período eleitoral, o secretário da Segurança informa mensalmente os dados estatísticos a jornalistas. Desta vez, a divulgação presencial não ocorreu devido a uma outra entrevista coletiva, do Denarc (Departamento de Narcóticos), que revelou uma investigação sobre o PCC (Primeiro Comando da Capital). No entanto, o secretário Mágino Alves Barbosa Filho não esteve presente na entrevista do Denarc, nem o secretário adjunto, Sérgio Turra Sobrane.
No primeiro semestre deste ano, em meses em que o registro de estupros subiu, Barbosa Filho afirmou que existe dificuldade na prevenção deste tipo de crime e que a crescente se dá por impulsionamento de campanhas para que esse tipo de crime não seja sub-notificado. Em meses em que o registro baixou, Barbosa Filho creditou o trabalho à inteligência policial, que conseguiu prevenir, afastando de perto das vítimas os criminosos, e ao bom atendimento às vítimas.
"Violência sexual é problema constante"
A promotora de Justiça Fabiana Dal’Mas Rocha Paes, diretora da Associação Paulista do MP (Ministério Público) Mulher e vice-presidente da Associação Brasileira de Mulheres nas Carreiras Jurídicas, afirmou à reportagem acreditar que o aumento no número de registros se deve a incentivos públicos para que as vítimas notifiquem os crimes.
"O estupro é um crime sub-notificado. Existe a vergonha, a culpa, a cultura. Tudo para que não se manifestem a respeito disso. Com uma conscientização maior, com mais coletivos feministas, com uma onda de maior conscientização de registros dessas ocorrências, na minha visão, não aumentou o número de casos. As vítimas estão se sentindo mais à vontade para denunciar", afirmou.
"E temos de incentivar para isso continuar. Os crimes sexuais assustam muito em todos os países, mas nos países em desenvolvimento nós temos uma necessidade de evoluirmos. Uma questão muito importante é falarmos sobre questões de gênero, sobre violência. Estamos vendo uma onda conservadora invadindo o nosso país. Se não falarmos sobre o assunto, se não educarmos, o número de estupros vai aumentar", complementou a promotora.
Samira Bueno, diretora-executiva do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) --órgão que lança anualmente relatórios sobre violência no país--, afirma que a "violência sexual é problema constante em São Paulo". "Outros índices de violência estão reduzindo em 17 anos, mas os estupros reduzem num ano, e, depois, sobem de novo", aponta.
"Existem poucas políticas públicas para enfrentar a violência sexual. É um crime muito difícil de você esclarecer, porque não há muitos elementos e capacidade investigativa da polícia. Do outro lado, há um enorme desafio que é: boa parte são crianças e adolescentes. Normalmente, estupradas por pais, padrastos, tios. Muitas vezes, o abuso acontece dentro de casa", disse Samira.
"São crianças, adolescentes, mulheres adultas, casos dentro do transporte público. São vítimas distintas, com respostas distintas. De um lado, é necessário que se puna os agressores. De outro, estamos falando de um aspecto cultural, perverso. No caso de crianças, por exemplo, às vezes, a criança demora até para saber que esta sendo vítima", afirmou.
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