PF prende lobista e cumpre buscas contra assessores de ministros do STJ
A Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira (26) uma segunda operação que mira o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, suspeito de venda de decisões do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e outros tribunais. A PF cumpre a prisão preventiva do lobista e executa busca e apreensão contra três assessores de ministros do STJ, incluindo chefes de gabinete.
Dentre os alvos de buscas estão Daimler Alberto de Campos, chefe de gabinete da ministra Isabel Gallotti, e Rodrigo Andrade, chefe de gabinete do ministro Og Fernandes. Eles também foram afastados do exercício das funções públicas. Outro funcionário do STJ alvo da PF é Márcio José Toledo Pinto, que já atuou como assessor nos gabinetes de Isabel Gallotti e Nancy Andrighi. Ele já estava afastado por um Procedimento Administrativo Disciplinar aberto pelo próprio STJ.
A operação foi autorizada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Cristiano Zanin, relator da investigação. A PF também mira desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso suspeitos de envolvimento com o grupo. O ministro determinou a aplicação de tornozeleira eletrônica em dois desembargadores, Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho, que já estavam afastados dos cargos.
A esposa de Andreson, a advogada Miriam Ribeiro Gonçalves, também foi alvo de tornozeleira eletrônica. O UOL mostrou que ela atuava nos processos nos quais Andreson trabalhava nos bastidores, com a venda de decisões e tentativa de influenciar magistrados.
Em comunicado à imprensa, a PF afirmou que "as investigações apontam para um suposto esquema de venda de decisões judiciais envolvendo advogados, lobistas, empresários, assessores, chefes de gabinete e magistrados". São cumpridos um mandado de prisão preventiva e 23 de busca e apreensão.
No fim de outubro, Andreson havia sido alvo de busca e apreensão por suspeitas envolvendo o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. Na ocasião, cinco desembargadores foram afastados.
A nova operação da PF busca aprofundar as suspeitas de que o lobista tinha acesso a decisões antecipadas de ministros do STJ e vendia influência sobre eles.
A defesa de Andreson afirmou que estava acompanhando o cumprimento da operação da PF e ainda não poderia se manifestar. As defesas dos demais alvos não foram localizadas para comentar.
Celular de advogado assassinado
As suspeitas envolvendo a atuação de Andreson de Oliveira Gonçalves chegaram ao conhecimento dos investigadores após o assassinato do advogado Roberto Zampieri, no fim do ano passado, em Cuiabá.
O Ministério Público apreendeu o celular do advogado assassinado para apurar o crime e constatou diálogos envolvendo venda de decisões de desembargadores de Mato Grosso. Por isso, o material foi enviado ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e compartilhado com a Polícia Federal.
Os investigadores, então, descobriram os diálogos de Zampieri com Andreson sobre venda de decisões do STJ e de outros tribunais. Andreson compartilhava minutas antecipadas de decisões do STJ e dizia ter influência sobre assessores do tribunal.
Ele costumava se apresentar em Brasília como advogado, mas não tinha registro da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Sua mulher, Mirian Ribeiro Gonçalves, atuou como advogada em casos nos quais Andreson atuava nos bastidores. Ao longo dos últimos anos, ele construiu um patrimônio milionário, como mostrou reportagem do UOL.
O lobista também vendia ter influência sobre o ministro do STF Kassio Nunes Marques, como mostram diálogos revelados pelo UOL.
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